O ano de 2025 voltou a provar que os relógios de mesa continuam a ter o seu lugar no mundo da alta-relojoaria. Entre propostas de perfil mais clássico e abordagens mais experimentais, destacamos seis lançamentos de personalidade muito própria, ao mesmo tempo que refletem o ADN das marcas que os criaram.
De tempos a tempos, as marcas de relojoaria arriscam a sair da escala mais reduzida da relojoaria de pulso para explorarem o universo dos relógios de mesa, em que a criatividade e as possibilidades técnicas têm margem para assumir uma outra dimensão. De tempos a tempos, somos por isso brindados com alguns exemplares de exceção que estão à altura das casas que lhes dão vida. Este ano, as novidades apresentadas até ao momento são exemplo disto mesmo e o facto de o Grand Prix d’Horlogerie 2025 ter voltado a incluir, entre as suas categorias, uma categoria que engloba este segmento mostra bem que houve lançamentos de relevância.
Hoje destacamos seis novidades deste ano que se revelam muito especiais.
Chanel Lion Astroclock

Vendido rapidamente no Watches and Wonders de 2025, o novo Lion Astroclock é uma peça única que segue as pisadas de um relógio de inspiração celestial lançado em 2023, mas agora de uma forma um pouco mais extravagante. Na novidade que aqui destacamos a estrela volta a ser o leão, símbolo recorrente nas criações da marca francesa, numa alusão a um animal caro à fundadora por representar também o seu signo do zodíaco. Nesta peça, sobressai uma escultura representativa do rei da selva, totalmente cravejada de diamantes – 5037 ao todo, numa cravação tipo neve.

Por cima da estrutura que sustenta a peça, destaca-se uma esfera em vidro de safira, no interior da qual é revelada toda a complexidade mecânica. As horas são indicadas por um cometa que atravessa um planeta em rotação, enquanto os minutos são assinalados por uma estrela da própria constelação do Leão, que aponta para um disco numerado. Já uma pequena esfera rotativa, inteiramente cravejada de diamantes, simboliza o movimento contínuo do tempo.
Com uma construção vertical e desenvolvido em colaboração com a fabricante suíça L’Épée 1839, o Lion Astroclock está equipado com um movimento mecânico de corda manual, com oito dias de reserva de marcha. Uma interpretação relojoeira que transforma o tempo numa viagem simbólica pelo universo Chanel.
Jaeger-LeCoultre Atmos Infinite ‘Halo’

A Jaeger-LeCoultre tem sido, ao longo dos tempos, um dos nomes da alta-relojoaria mais associado aos relógios de mesa, graças ao Atmos, um modelo que dá que falar desde 1928 graças ao seu enigmático sistema que recebe corda através das mais ínfimas oscilações de temperatura. Reinterpretado das mais diversas formas até aos dias de hoje, manteve-se sempre fiel à sua estrutura geral de aparência transparente que abre vistas para o enigmático mecanismo. Este ano, a novidade chama-se Atmos Infinite Halo surge como uma reinterpretação contemporânea do clássico relógio de mesa, numa ode à transparência e ao minimalismo.

Da campânula de vidro cilíndrica inspirada nos primeiros Atmos, mas adaptada aos tempos contemporâneos, saltam à vista os componentes do movimento, bem como o mostrador branco lacado que parecem flutuar, num efeito que faz lembrar os intrigantes relógios misteriosos. O novo Atmos Infinite ‘Halo’ foi apresentado na Design Week de Milão, do passado mês de abril, onde a marca suíça também promoveu uma exposição retrospetiva dedicada ao Atmos reveladora do modo como o famoso relógio de mesa tem sido e continua a ser uma fonte para a criatividade aos mais diversos níveis.
Panerai Jupiterium

O nome ‘Jupiterium’ não é novo no portefólio da Panerai. A marca apresentou um instrumento do tempo com este nome pela primeira vez em 2009, como parte de um projeto especial que celebrava a ligação da relojoaria à astronomia e que surgiu também na sequência de uma homenagem a Galileu Galilei, nome incontornável da nossa história e fonte de inspiração para a marca. Agora, em 2025, este relógio regressa numa versão atualizada que não podemos dizer que se trate propriamente de um relógio de mesa pelas suas dimensões, mas que assumimos que pode ser encarado como tal se ficar assente numa mesa à sua medida: um planetário mecânico criado no interior de uma esfera de vidro que apresenta em tempo real os movimentos da Terra, do Sol, de Júpiter e dos seus quatro principais satélites de acordo com a teoria geocêntrica dominante na época de Galileu Galilei, que durante a sua vida defendeu a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico.



Mais do que uma mera exibição técnica, o Jupiterium é um objeto educativo e contemplativo que integra ainda um calendário perpétuo. Numa atualização para os tempos contemporâneos, foram introduzidas melhorias técnicas e apostou-se num design mais leve e depurado. Tal como no Atmos já falado e no Astroclock, a transparência contribui ainda mais para fazer deste objeto de dimensões consideráveis uma constante surpresa, uma vez que somos tentados a acompanhar um incrível universo flutuante em miniatura. Por fim, para um mostrador na base que permite ver as horas e um botão que ativa a luminescência dos apontamentos celeste chave. Esta peça única já teve o seu destino: foi vendida por dois milhões de euros.
Patek Philippe Desk Clock ref. 27000M-001

Foi uma das estrelas da exposição ‘Rare Handcrafts 2025’ da Patek Philippe. O novo Desk Clock Ref. 27000M-001 é um relógio de mesa inspirado num relógio que pertenceu ao colecionador americano James Ward Packard, bem como num modelo do mesmo género vendido em 1927 ao também colecionador americano Henry Graves Junior, e que hoje faz parte do espólio do Museu Patek Philippe. De formato retangular e com uma estrutura que o eleva ao olhar, esta peça integra um movimento de corda manual retangular que oferece uma reserva de marcha de 31 dias, uma precisão de +/- 1 segundo por dia e contempla inúmeras complicações, incluindo calendário perpétuo e indicação das fases da Lua.


A caixa, em prata de lei, é realçada por painéis verdes em esmalte flinqué Grand Feu e com um padrão guilloché em espiral. Já o painel superior e a luneta são adornados com um motivo ‘corda’ gravado. Elementos decorativos inspirados no relógio original, como os quatro leões alados nos cantos, sob a forma de apliques de vermeil (prata amarela dourada) são mais alguns dos requintados elementos de destaque. O preço acompanha a exclusividade: cerca de 600 mil francos suíços.
Trilobe Les Temps Retrouvé

A francesa Trilobe decidiu aplicar a sua abordagem não convencional da leitura do tempo a um relógio de mesa que é, no mínimo, uma peça completamente diferente do habitual mas assente numa maneira muito própria e diferenciada de ver o tempo, evocativa da rosácea que encontramos em alguns dos relógios de pulso da marca. Pois bem, se é algo de novo que queremos, então esta nova peça/relógio de mesa pode ser uma opção. Com um preço de 300 mil euros, trata-se de um busto de inspiração romana feito de cerâmica de mármore que guarda um complexo relógio mecânico vertical que é revelado quando o busto se divide em duas partes.

No relógio, não há ponteiros, mas antes de duas rosáceas localizadas nas laterais do busto com pétalas que se abrem de hora a hora. Depois, a cada período de 12 horas, a respetiva rosácea fecha-se totalmente para dar início a um novo ciclo de tempo. Uma das (muitas surpresas) desta peça passa pelos olhos do busto que se tornam janelas para indicação dos minutos, ao mesmo tempo que dão vida à figura, o que nos fez lembrar os curiosos relógios de Oswald de que já falámos aqui, na Espiral do Tempo. Por fim, ainda um outro apontamento: esta peça inclui um mecanismo que vai difundindo uma fragrância que vai perfumando o espaço à medida que o tempo passa. De acordo com a marca, esta é a primeira peça de uma incursão neste tipo de peças que está agora a começar e que pode traduzir-se em peças personalizadas, à medida do cliente.

Van Cleef & Arpels’ Naissance de l’Amour automaton
Mais uma história de amor das diversas histórias de amor que a Van Cleef & Arpels nos conta este ano. A marca dona de maravilhosas complicações poéticas apresenta todos os anos um autómato de grandes dimensões com elementos encantados. Em 2025, o protagonista é um Cupido feito de ouro e diamantes que emerge
Van Cleef & Arpels Naissance de l’Amour
Mais um capítulo das diversas histórias de amor que a Van Cleef & Arpels nos conta este ano. A marca dona de maravilhosas complicações poéticas apresenta todos os anos autómato com elementos encantados que se torna a estrela do Watches and Wonders. Este ano, a marca francesa volta a surpreender neste domínio com o Naissance de l’Amour, um autómato que representa a figura mitológica de Cupido, num tributo à delicadeza das emoções humanas e à capacidade que a relojoaria tem para as expressar.

Nesta peça com cerca de 30 cm de altura, um Cupido feito de ouro e diamantes surge sentado no topo de uma coluna grega em ouro rosa esculpido, envolvido por uma composição de nuvens feitas em ouro branco, diamantes e safiras rosa em três tonalidades, e guardado por uma cesta de penas feita em ouro branco, rosa e amarelo, cravejada de diamantes e decorada com uma gradação de cores lacadas. Esta cesta repousa numa taça feita de madeira de palmeira petrificada. É neste cenário que o Cupido ganha vida através de um complexo mecanismo mecânico de corda manual desenvolvido em colaboração com o atelier de François Junod: o anjo do amor levanta voo da sua cesta de penas, bate suavemente as suas asas em esmalte plique-à-jour, gira sobre si próprio e volta a recolher-se, sempre ao som de uma melodia emitida por um delicado carrilhão.
Todo o conjunto repousa sobre uma base de olho de ferro, uma pedra semipreciosa de reflexos dourados e pouco comum nas criações da Maison mas que adiciona aqui um toque de maior requinte.
Já a indicação das horas é feita por um anel rotativo graduado através do qual duas penas lacadas e cravejadas de diamantes, presas a um laço também ele integralmente revestido de diamantes, assinalam a passagem do tempo.
Além do Naissance de l’Amour, a Van Cleef & Arpels apresentou um Planetarium, tal como tinha feita há uns anos, no qual os planetas se movimentam em tempo real.