Uma das mais antigas marcas do mundo foi recentemente reativada — com um posicionamento muito elevado. A surpresa: não é de origem suíça, tem um famoso padrinho finlandês e um discreto financeiro americano. A nova vida da Urban Jürgensen começa com três modelos especiais.
Há já alguns anos que havia alguma expectativa a rodear o futuro da Urban Jürgensen, a respeitada marca de origem dinamarquesa fundada por Jurgen Jürgensen em 1973 na cidade de Copenhaga e que ganhou estatuto lendário através do filho Urban Jürgensen. Depois de ter dado nas vistas pela última vez no final da década passada com o lançamento do One, um interessante modelo de design integrado, a Urban Jürgensen saiu de cena até correr a notícia de que tinha sido adquirida por Kari Voutilainen. Ora, é sabido que o discreto mestre finlandês tem o toque de Midas… e que saberia dar o rumo ideal a tão provecta companhia.

No entanto, o rumo tomado foi algo inesperado. Kari Voutilainen posicionou a Urban Jürgensen num patamar de preço ainda mais elevado do que a sua própria marca. A apresentação foi feita na primeira semana de junho em Los Angeles; o destino californiano teve a ver com a família americana Rosenfield, que embarcou no projeto de relançamento com o mestre finlandês. Kari Voutilainen e Alex Rosenfield partilham mesmo o estatuto de co-CEO da histórica firma nascida em Copenhaga. E foram eles que apresentaram ao mundo os três primeiros modelos (UJ-1, UJ-2 e UJ-3) da nova era da Urban Jürgensen — um triunvirato de inspiração clássica que exalta a precisão através de movimentos próprios confecionados segundo os parâmetros da mais alta relojoaria suíça, desde a arquitetura do escape até aos mostradores decorados à mão em guilloché.

À primeira vista, ressaltam algumas conclusões. Na sua essência, pode dizer-se que o projeto anda algures entre a histórica Ferdinand Berthoud (relançada há dez anos) e a contemporânea Biver (lançada há dois anos). Com uma constatação: as tradicionais asas em forma de gota da Urban Jürgensen desapareceram para dar lugar a uma reinterpretação distinta dessas mesmas asas de gota nos três novos modelos, muito possivelmente para não colidir com a estética da Voutilainen… assumidamente muito inspirada na Urban Jürgensen, já que o mestre finlandês trabalhou em tempos idos para a marca dinamarquesa.

Estará o mercado recetivo à ‘nova’ Urban Jürgensen? Ainda é cedo para o dizer, mas a conjuntura socioeconómica atual não é a melhor. De qualquer das formas, aqui ficam sucintamente apresentados os primeiros três relógios:
UJ-1: o modelo de aniversário

Reinterpretação do icónico relógio de bolso oval da Urban Jürgensen concebido pelo mestre Derek Pratt, o UJ-1 alcança um marco mecânico há muito considerado impossível: miniaturizar e adaptar o movimento turbilhão do oval com remontoir d’égalité e segundos mortos para um relógio de pulso. O UJ-1 presta homenagem ao legado técnico da marca e à história pessoal de Voutilainen. Limitado a 75 peças, o UJ-1 é oferecido em três referências de 25 relógios cada. Preço: CHF 368.000 + taxas.
UJ-2: o modelo de escape natural com duas rodas


Apresentando-se como um estudo de contenção e refinamento, o UJ-2 inclui um escape natural de roda dupla que é inspirado no conceito de design de Abraham-Louis Breguet, mentor de Urban Jürgensen no século XVIII e hoje em dia aperfeiçoado por Kari Voutilainen. Tal sistema oferece uma transferência de energia mais suave e até 30% mais eficiência energética do que um escape de âncora suíço tradicional. Com cada exemplar a exigir 565 horas para ser concluído, o UJ-2 reflete a crença de Urban Jürgensen de que a busca pela perfeição é algo de entusiasmante. Preço: CHF 105.000 + taxas.
UJ-3: o calendário perpétuo com fases da lua instantâneas

Desenvolvido através de uma colaboração entre Kari Voutilainen e o mestre relojoeiro/engenheiro Andreas Strehler, o UJ-3 associa a indicação precisa e longeva das fases da lua da Strehler (com uma precisão de 14.000 anos!) ao escape natural de roda dupla da Urban Jürgensen — sendo a primeira vez que um calendário perpétuo produzido em série possui um escape natural de roda dupla. Do lay-out do calendário ao acabamento manual de cada componente, o UJ-3 exemplifica o compromisso da casa dinamarquesa com a pureza técnica e a elegância intemporal. Preço: CHF 168.000 + taxas.
Uma dinastia, três capítulos

Fundada em 1773 em Copenhaga por Jürgen Jürgensen e transportada para a sua primeira era dourada pelo filho Urban Jürgensen, a marca rapidamente ganhou reconhecimento pelas suas contribuições científicas e meticulosos cronómetros marítimos comissionados pela marinha dinamarquesa. Além da engenharia de precisão preconizada por Urban Jürgensen, a sua competência relojoeira e distintivo design escandinavo fizeram com que os relógios de bolso da dinastia se tornassem artigos de luxo particularmente cobiçados. Urban Jürgensen foi também relojoeiro oficial da corte real dinamarquesa e, ao longo dos séculos, a marca permaneceu sinónimo de precisão, elegância e inovação.

A segunda era dourada da Urban Jürgensen decorreu entre a década de 80 até aos anos 2000, sob a liderança de Peter Baumberger e a direção técnica do lendário relojoeiro britânico Derek Pratt. Os conhecedores deixaram-se encantar pela qualidade artesanal e discreto charme dos relógios de pulso; o próprio Kari Voutilainen bebeu alguns detalhes estéticos que hoje em dia se podem ver nos modelos saídos do seu atelier.

A nova geração da Urban Jürgensen foi pensada precisamente por Kari Voutilainen e traz consigo mais do que um conjunto de instrumentos do tempo; representa uma herança histórica que está de volta ao primeiro plano da atualidade relojoeira e o regresso de uma firma relojoeira independente que assume perpetuar a elegância do design e a excelência técnica na confeção dos seus relógios.
Os dois patrões
O ressurgimento da Urban Jürgensen representa o início de um novo capítulo criativo sob a batuta dos co-CEOs Kari Voutilainen e Alex Rosenfield — cujas trajetórias distintas, embora complementares, moldam a nova identidade da marca.

Kari Voutilainen é um dos mais celebrados relojoeiros, com onze galardões conquistados no Grand Prix d’Horlogerie de Genève (recordista entre todos os relojoeiros independentes); a aposta no projeto representa um regresso à marca que ajudou a definir seu início de carreira. É responsável pelo design, desenvolvimento técnico e produção de novos calibres — resultando o seu trabalho, para já, nos três novos modelos projetados internamente.

«Desde os tempos em que o próprio Urban Jürgensen liderava a empresa, a marca representava a busca pela excelência relojoeira nos campos da engenharia e da estética», afirmou Kari. «Regressar à marca e moldar a sua próxima era com o mesmo cuidado que definiu seu passado é uma alegria e um dever. Estamos a criar relógios que honram o tempo e que, por meio do trabalho manual e do acabamento, possuem alma».
Alex Rosenfield, ex-executivo de moda e da comunicação social, traz a sensibilidade de um colecionador e a clareza de um contador de histórias para a visão global da marca. Focado na direção criativa, operações, estratégia e vendas, compromete-se em manter a independência da empresa ao mesmo tempo que procura implementar a sua importância entre uma nova geração de colecionadores. «Reavivar a Urban Jürgensen como uma casa familiar e independente é um privilégio raro», refere.

«Fundada por um pioneiro e sustentada por gerações de mestres, a Urban Jürgensen é um dos grandes nomes da história da relojoaria e temos a honra de administrá-la. Isso significa garantir que cada detalhe, cada história e cada relógio correspondam ao que o nome merece».
Time Well Spent e a Perspetiva Artística

Juntamente com os três primeiros relógios da nova era, a Urban Jürgensen também apresentou uma primeira série de retratos designada Time Well Spent — criada em colaboração com a reputada fotógrafa de moda e Diretora de Fotografia da Urban Jürgensen, Ellen von Unwerth, famosa pelo seus retratos cinematográficos e emocionalmente carregados. A ideia é romper com o formato tradicional de imagens de relógios ao criar uma série mensal de retratos expressivos que mostra pessoas criativas e interessantes, profundamente imersas nas suas paixões.

Para sublinhar a crença fundamental da marca num tempo que deve ser bem guardado e bem gasto. O primeiro protagonista dos retratos é James Turrell, o grande escultor de luz, fotografado na sua instalação monumental Roden Crater. Não há dúvida de que os relógios são marcantes e a estratégia de marketing é distinta. A Urban Jürgensen retoma o seu trajeto, ancorada na crença de que o tempo — quando guardado pela melhor técnica e gasto com estética refinada — se torna algo muito maior do que segundos, minutos e horas: torna-se ainda mais significativo. Resta saber como irá reagir um mercado atualmente muito saturado…