EdT 45 — Estão cumpridas três décadas sobre o primeiro turbilhão realizado por François-Paul Journe. Trinta anos depois, o mestre de origem marselhesa apresenta-se como o mais galardoado relojoeiro contemporâneo, e acaba de celebrar essa sua primeira obra-prima com a criação de uma edição verdadeiramente especial: o Tourbillon Historique.
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Reportagem publicada no número 45 da Espiral do Tempo.
A F.P. Journe Invenit et Fecit é uma marca contemporânea de alta-relojoaria com raízes no Século das Luzes e o seu fundador François-Paul Journe, um iluminado que ‘inventa’ relógios brilhantes e ‘faz’ com que se tornem realidade, para gáudio dos aficionados da bela relojoaria clássica. Imbuído do espírito dos grandes relojoeiros do século XVIII, o mestre marselhês assina todas as suas criações com a já célebre inscrição ‘Invenit et Fecit’ — garantindo autenticidade de invenção e conceção a todos aqueles que desejam algo de verdadeiramente exclusivo. E muito exclusiva é a sua última obra-prima, destinada a comemorar a sua primeira obra-prima.
Para celebrar uma ponte no tempo até ao relógio de bolso com turbilhão que realizou em 1983, François-Paul Journe acaba de apresentar — em antestreia e por ocasião dos dez anos da primeira Boutique F.P. Journe, em Tóquio — o Tourbillon Historique, numa edição limitada a 99 exemplares. O autor gosta de referir que «os amantes da relojoaria sentem um choque emocional» quando estão em contacto com os seus relógios, e o certo é que já se sentem as ondas de choque relacionadas com tão emblemática peça: a crítica está completamente rendida… e com razão, já que se trata de um relógio excecional que personifica, não só todas as grandes referências que inspiraram François-Paul Journe na sua adolescência relojoeira, mas também as várias décadas de uma notável carreira.
Na linhagem dos grandes mestres
As referências históricas são as melhores. O tio, Michel Journe, era um de apenas três especialistas na restauração de relógios antigos dos séculos XVI, XVII e, sobretudo, XVIII, lidando diretamente com exemplares excecionais que lhe chegavam de museus e de colecionadores de nomeada. Após a obtenção do seu diploma de relojoeiro, o jovem François-Paul juntou-se naturalmente ao seu tio no seu atelier de St. Germain-des-Près e passou a conviver com o génio de criadores de antanho, como Ferdinand Berthoud, Abraham-Louis Breguet e Antide Janvier, ou, mais contemporâneo, George Daniels, através das respetivas obras-primas, da sua técnica particular ou da sua estética peculiar, para além da documentação que muitas vezes acompanhava os relógios e que mostrava os cálculos e os desenhos.
Muito impressionado com a obra de George Daniels, que a certa altura da segunda metade do século XX era o único que ainda fazia turbilhões, o irrequieto François-Paul quis criar, aos 20 anos e inteiramente à mão, o seu próprio turbilhão, não só porque se achava com capacidade para tal, mas também porque não tinha dinheiro para comprar um. O desiderato tornou-se mais duro do que estaria à espera e levou-lhe cinco anos. «Fiz todas as peças, uma a uma, incluindo a caixa em prata e ouro», recorda; «Como por magia, o mecanismo começou a funcionar sozinho após um bocadinho de corda. Lembro-me de o ter admirado durante quase toda a noite!». A edição limitada agora desvelada é profundamente inspirada nesse seu primeiro turbilhão de bolso, e contempla todo o saber acumulado desde então em pesquisas e experiência — sobretudo a partir da fundação da marca F.P. Journe em 1999, que rapidamente se guindou a um patamar estratosférico.
Uma semelhança notável
A arquitetura do Tourbillon Historique replica num relógio cronómetro de pulso e de modo surpreendentemente fiel a obra-prima inaugural. Com toda a elegância que é apanágio das criações F.P. Journe. O mostrador em prata tem a mesma disposição (submostrador das horas e minutos em cima; o dos segundos em baixo, ligeiramente sobreposto), destacando algarismos e indicadores gravados, recheados e acompanhados de ponteiros, em aço temperado e azulado, tipo Breguet. A inscrição ‘Invenit et Fecit’ substitui, do lado direito, a menção ‘À Paris’ do original.
Os materiais da reinterpretação são os mesmos que foram utilizados há 30 anos: a caixa de 40 milímetros de diâmetro por 10 de espessura também é em prata, com os flancos decorados em guilloché e duas lunetas contrastantes em ouro (rosa 4N) que seguram vidros em safira: o do lado do mostrador e o do fundo, que deixa entrever o mecanismo de corda manual e que é protegido por uma tampa em prata (também inteiramente decorada em guilloché), à semelhança do modelo de 1983. A arquitetura do calibre 1412 com turbilhão é igualmente semelhante; a construção clássica em latão dourado e grandes parafusos mostra dois tambores paralelos, que distribuem a energia ao trem de rodagem disposto no eixo do relógio e que anima o turbilhão de um minuto. A frequência é de 3 Hz (21.600 alternâncias/hora). O escape de âncora lateral, mais propício aos relógios de pulso, substitui o escape à detente do original. E a chave de dar à corda é substituída pela coroa estilizada dos relógios de pulso F.P. Journe.
O movimento foi concebido nos ateliers da manufatura e, mesmo que não seja em ouro, como os modelos da coleção regular, é preparado com componentes de elevada qualidade, que são finalizados com polimento, anglage e acabamentos bem mais elaborados do que o que se fazia antes. Estão bem patentes a sobriedade calvinista e a nobreza ascética dos movimentos com turbilhão da primeira geração, evocando perfeitamente os antigos mestres — mas a assinatura é a do grão-mestre da atualidade. 
