A 27ª edição do Salon International de la Haute Horlogerie (SIHH) ficou concluída nesta semana. Deixando de parte todas as outras apresentações a decorrer em simultâneo na zona de Genebra (marcas agrupadas ou em mostras individuais), aqui ficam 12 impressões retiradas exclusivamente dos dias passados na Palexpo — relacionadas com o evento em si, com as marcas integrantes, com os relógios apresentados e com as pessoas envolvidas.
01. Formato
Um cada vez maior número de marcas presentes parece-me começar a desvirtuar o espírito exclusivo do SIHH. É verdade que as marcas presentes são de alto gabarito, desde um potentado internacional como a Cartier até a uma micro-marca como a Ressence, mas começa a haver uma maior dispersão e a atenção dos maiores especialistas até começa ironicamente a desviar-se mais para as micro-marcas presentes no chamado Carré des Horlogers — quando as outras marcas (nomeadamente as do grupo Richemont) é que são as fundadoras do certame. O certo é que aquele sentimento que havia antes de que tínhamos tempo para analisar devidamente todas as novidades foi substituído pela avalanche de apresentações de tantas marcas…
02. Estreantes
Entre as grandes Maisons, deu-se o regresso da Girard-Perregaux (que tinha sido uma co-fundadora do SIHH e passado para Basileia aquando da sua aquisição pelo grupo Kering) e a estreia da Ulysse Nardin com grandes espaços — e a presença nova de micro-marcas como a Gronefeld, a Speake-Marin, a Romain Jérôme, a Ressence e a Manufacture Contemporaine du Temps.
03. Aniversários
Perante a rica história da relojoaria e tantos modelos emblemáticos, cada ano que passa traz consigo um número de aniversários que implicam naturalmente edições especiais. Desde o 40.º aniversário da versão feminina do Royal Oak até ao 20.º aniversário da criação da Urwerk.
04. Protagonistas
Hugh Jackman (Montblanc), Pierce Brosnan (Speake-Marin) e Ryan Reynolds (Piaget) foram os mais conhecidos atores dos vários que passaram pelo Palexpo (e no caso deles enquanto embaixadores das referidas marcas) entre tanta gente famosa das mais diversas proveniências, mas os grandes protagonistas da 27.ª edição do SIHH foram outros. À frente de todos, Walter Lange, que pela primeira vez tinha falhado a presença no certame e que morreu durante o sono na noite de segunda para terça-feira, deixando a indústria relojoeira consternada. Depois, Édouard Meylan — o jovem CEO da H. Moser & Cie que se tem destacado pelo tom iconoclasta e por corajosas tomadas de posição relacionadas com a indústria relojoeira; o seu divertido vídeo sobre o relógio Swiss Mad divulgado na véspera foi o mais falado durante os dias do salão.
05. Cor
O azul continua a ganhar terreno relativamente aos dois tons tradicionais dominantes (branco/prateado, preto) com um número cada vez maior de modelos — desde os desportivos aos mais prestigiados, passando pelas edições comemorativas ou limitadas. A Audemars Piguet voltou a apresentar modelos Royal Oak Offshore especialmente coloridos. Mas é também forçoso destacar o preto mais preto jamais concebido: o Vantablack, inventado à base de uma liga de nanotubos de carbono que não reflete a luz e que serviu de base ao modelo da Manufacture Contemporaine du Temps idealizado por Anish Kapoor.
06. Material
O bronze voltou a estar em destaque, com modelos da Panerai, da Montblanc e da Manufacture du Temps a concitarem as atenções. Mas o revolucionário vidro metalizado da Panerai, o Grafene estreado pela Richard Mille e o crómio-cobalto da Roger Dubuis merecem grande destaque pela originalidade e exclusividade. De resto, houve mais modelos em ouro amarelo do que habitual e a Audemars Piguet atreveu-se a apresentar um modelo Royal Oak calendário perpétuo em cerâmica negra.
07. Revivalismo
A moda neo-retro continua forte, com vários modelos de inspiração vintage ou que constituem reinterpretações do passado a ocuparem lugar de destaque nas coleções das marcas históricas. O Panthère de Cartier, um dos relógios mais imitados pela contrafação no início da década de 90, foi um autêntico ‘blast from the past’ que remonta aos anos 80. Os modelos da Ulysse Nardin Classico Paul David Nardin (inspirado num original de 1945) e Diver Le Locle (original de 1964) revelaram-se excelentes exercícios de estilo vintage.
08. Preços
Sim, notou-se um esforço de certas marcas em apresentar modelos mais acessíveis — desde o quartzo a versões mecânicas, passando pela recuperação de modelos icónicos. Já aqui abordamos recentemente o tema com um texto publicado durante o SIHH. Talvez o caso mais sintomático fosse o da Cartier, que recuperou a famosa linha Panthère da década de 80 com um primeiro preço na ordem dos 3.500 euros.
09. Intercâmbio de braceletes
Conta-se que o grupo Richemont patenteou 17 diferentes sistemas de troca rápida de braceletes para os distribuir pelas suas marcas e simultaneamente condicionar o recurso a várias soluções do género por parte de marcas rivais. Numa altura em que a clientela deseja mais do que nunca poder trocar a vestimenta do seu relógio consoante a circunstância e o estado de espírito, a possibilidade de uma rápida e segura troca de correia ou bracelete é cada vez mais um excelente argumento de vendas; no ano passado, os novos Overseas da Vacheron Constantin foram apresentados com três tipos diferentes (metal, cauchu, pele); este ano, a Cartier apresentou sistema de troca rápida tanto na linha Ronde como na Tank Solo e várias.
10. Tempo circular
Estamos numa era em que os relógios redondos apresentam um domínio exagerado, associado a razões economicistas que se prendem com a necessidade absoluta de vender, vender, vender. Os relógios de forma (ou seja todos aqueles que não são redondos) são considerados menos comerciais — e a IWC acabou de ‘matar’ os modelos de forma das linhas Ingenieur (assente num design de Gerald Genta nos anos 70) e da Vinci (da década passada), substituindo-os por novos modelos redondos. Há uns meses foram desvelados modelos Ingenieur redondos de espírito vintage; no SIHH foi apresentada a nova linha Da Vinci de linhas inspiradas pelo da Vinci original dos anos 80. Contra-corrente: a Richard Mille continua fiel à caixa tonneau, a Cartier mantém-se forte no uso de formas alternativas (novidades Drive e Panthère), a Jaeger-LeCoultre conta sempre com a retangularidade do Reverso, a Panerai não sai do perfil Panerai, o design integrado do Royal Oak da Audemars Piguet e do Laureato da Girard-Perregaux é respeitado e a MB&F usa formatos do outro mundo…
11. Desporto e stands
A componente desportiva está intimamente ligada à relojoaria e várias foram as marcas que destacaram associações à entrada dos seus espaços no salão — a Richard Mille tinha um bólide McLaren de Fórmula 1, a Ulysse Nardin um iate de competição da equipa Artemis e a Baume & Mercier um Shelby Cobra Daytona Coupé. Mas talvez o stand mais artístico e elogiado tivesse sido o da IWC, de inspiração Florentina — e florida.
12. Quantidade
Notámos que este ano houve menos novidades o que pode significar uma vontade de alongar os ciclos de vidas das peças que são lançadas — talvez numa perspetiva de que os relógios de alta-relojoaria devem durar vários anos (de geração em geração). Uma realidade diferente em relação ao que temos assistido nos últimos anos, com tendência para uma acelerada apresentação de novidades e de procura de efeitos de anúncios e de buzz.
NOTA FINAL: Não é fácil fazer uma seleção dos melhores relógios do salão; para além de haver muitos e bons, o ideal seria categorizá-los em diversos parâmetros que proporcionassem um agrupamento mais justo em termos de preço, complicação ou estilo. No entanto, na próxima semana iremos publicar os nossos modelos de eleição, por cada marca.
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