A TAG Heuer revisitou o passado e deu-lhe um cunho contemporâneo com o tributo ao seu icónico cronógrafo náutico de 1968. Mas o novo Carrera Skipper Glassbox é muito mais do que a materialização de um pretérito perfeito — tornou-se instantaneamente no mais apetecível modelo do catálogo regular da marca.
Com o mercado vintage a manter a tendência de crescimento que se verifica há cerca de uma dúzia de anos e recordes a serem constantemente batidos em leilões, a febre das reedições e reinterpretações tem-se mantido como uma das fortes tendências na indústria relojoeira. No entanto, há exercícios de estilo que marcam mais do que outros. E o novo Carrera Skipper da TAG Heuer é, seguramente, um deles.
Carrera Skipper
Embora em pleno ano de celebração do 60.º aniversário do Carrera, o (re)lançamento do Carrera Skipper foi algo surpreendente. Trata-se de um modelo emblemático e muito cobiçado nos arquivos da marca fundada por Edouard Heuer em 1860, para além de ser também um dos relógios mais emblemáticos na vigência de Jack Heuer à frente da companhia que então pertencia à sua família — e os anos de liderança de Jack Heuer são mesmo considerados os anos de ouro, sendo ele próprio visto como o pai do cronógrafo desportivo. Esse período (entre 1962 e 1985) ficou marcado pela íntima associação aos desportos motorizados e pelo lançamento dos principais ícones da TAG Heuer, do Carrera ao Monaco, passando pelo Autavia e muitos outros cronógrafos de relevo.
O Carrera Skipper destaca-se do lote porque, entre tantas variantes dedicadas às corridas automóveis (e o nome Carrera vem precisamente da lendária Carrera Panamericana) num universo que ia desde a resistência de Le Mans à velocidade pura da Formula 1, era um cronógrafo vocacionado para as regatas. O Skipper Ref. 7754 surgiu em 1968, um ano antes do lançamento dos primeiros cronógrafos automáticos com o Calibre 11, e no presente século tornou-se num grail watch incontornável para os colecionadores e sobretudo aficionados da TAG Heuer. Porque apresentava todas as valências dos cronógrafos assinados por Jack Heuer e algo mais: para além de celebrar a vitória do Intrepid na America’s Cup de 1967 e de ostentar a funcionalidade típica dos cronógrafos da marca desenhados para especialistas, apresentava também uma estética única vincada por um visual cromático sem comparação.
Sendo uma variante do Carrera Ref. 3647, o Skipper recebeu a alcunha de Skipperera pelos Heueristas e caraterizava-se por um mostrador azul marinho com uma minuteria a branco no perímetro e dois submostradores de cores vivas — tanto no totalizador de 30 minutos como, em especial, no de 15 minutos (adaptado à partida das regatas), que estava segmentado em blocos de cinco minutos em tons distintos encontrados no Intrepid (laranja, verde e turquesa). A versão original de corda manual foi produzida durante um ano e depois substituída por atualizações — até porque em 1969 surgiu o primeiro calibre cronográfico automático! — mais baseadas em variações do Autavia até 1983. Mas nenhuma com o perfume especial do Skipper inaugural de 1968.
É essa originalidade que o novo Skipper consegue agarrar e que a Hodinkee já havia capturado, numa edição especial lançada em 2017 que rapidamente ganhou grande valorização e se tornou na chave do sucesso das tiragens limitadas promovidas pelo website relojoeiro americano. O Limited Edition Carrera Skipper for Hodinkee tinha por base o Carrera Glassbox existente então no portefólio da TAG Heuer, mas apenas um submostrador com as três cores e a utilização de uma janela para a data às 3h; após ter esgotado num ápice, depressa atingiu preços absurdos no mercado paralelo.
Tal como o Skipper da Hodinkee, também o novo Skipper assenta numa base existente de 39mm — no caso, um dos novos modelos ‘glassbox’ lançados pela TAG Heuer na edição deste ano da Watches and Wonders e uma sensacional integração da escala taquimétrica. A luneta passou para dentro do vidro saliente (daí a designação «glassbox») mas manteve-se em réhaut em dois modelos: uma versão azul ‘normal’ e uma do tipo ‘Reverse Panda’ (fundo negro e totalizadores brancos), ambas dotadas do Calibre TH20-00 com 80 horas de autonomia (uma atualização do Calibre Heuer-02 implementada pela mestre Carole Forestier-Kasapi); o novo Skipper usa o Calibre TH20-06, porque tem um indicador de contagem regressiva de 15 minutos em vez de um totalizador de 30 minutos e um totalizador esverdeado de 12 horas, às 9h. Ou seja, o mais recente ‘Skipperera’ não é nenhuma reedição: é mesmo uma excelente reinterpretação, com uma parte arquitectónica bem diferente e uma vertente mecânica completamente atual… mas com a fragrância de sempre, o tal perfume especial do icónico modelo de 1968.
Primeiras impressões
Dos muitos modelos específicos dentro das grandes famílias históricas da TAG Heuer (Autavia, Carrera, Monaco), o Skipper é, seguramente, uma das mais populares e inconfundíveis. E nunca é fácil recuperar um ex-líbris, mas a TAG Heuer conseguiu-o com o novo Carrera Skipper Glassbox porque logrou apresentar um ícone do passado num invólucro Carrera que é talvez o melhor de sempre desde a estreia da linha lançada em 1963 por Jack Heuer. Com 39mm de diâmetro por 13,9mm de espessura (embora pareça bem mais fino), assume belas proporções para o pulso moderno e até ‘veste’ abaixo do seu tamanho oficial. Para além de apresentar ainda melhor legibilidade. Relativamente ao original de 36mm lançado em 1968, a construção do mostrador é evidentemente distinta graças ao réhaut invertido que lhe proporciona uma maior tridimensionalidade e a minuteria assume o mesmo tom azul metálico dominante no mostrador.
O laranja no ponteiro cronográfico dos segundos estende-se agora não só à ponta em seta dos ponteiros das horas e dos minutos, mas também em discretos detalhes nos marcadores das horas e no submostrador dos segundos contínuos que inclui uma janela para a data não existente no original de 1968. Talvez esse submostrador ‘fantasma’ dos pequenos segundos às 6h fosse dispensável: está lá mas disfarçado para parecer que não está, porque a TAG Heuer não quis dispensar a presença dos segundos (a construção do Calibre Heuer 02, agora denominado TH 20-00 após as atualizações, coloca os segundos contínuos naquela posição), pelo que a tradicional configuração o bicompax da vigência de Jack Heuer nos anos 60 e 70 surge algo desvirtuada. Por outro lado, sendo um cronógrafo de declarada inspiração náutica e historicamente ligado a uma regata, tem indicador regressivo dominado por três cores, mas não a função efetiva countdown integrada no calibre. O preço à volta dos 7.000 euros também não é propriamente meigo e o novo Skipper tem concorrência de monta no mesmo segmento, mas sem o carisma que tão original combinação de cores e o piscar de olho à história proporciona.
Caraterísticas técnicas
TAG Heuer
Carrera Skipper
Ano de lançamento | 2023
Referência | CBS2213.FN6002
Disponibilidade limitada
Movimento | Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre TH20-06; 28.800 alt/h; 80 horas de reserva de corda.
Funções | Horas, minutos, segundos, data, cronógrafo: 1/4 de segundo, contador de 15 minutos, contador de 12 horas.
Caixa ø 30 mm | Aço. Vidro safira com tratamento antirreflexo nos dois lados. Fundo em aço com vidro de safira. Estanque até 100 metros.
Bracelete | Azul com fecho de báscula em aço.
Preço | 6.850 €
Visite o site oficial da TAG Heuer para mais informações.