The Journey: a viagem verde da Chopard

Edição impressa | A Chopard alinhou num desafio que, se fosse pintado, seria verde, certamente, mas também pontuado por efeitos de brilho intenso. Focada na proveniência do ouro e dos diamantes destinados às suas criações joalheiras, a marca suíça empreende uma jornada exigente rumo ao luxo sustentável. «Não é um caminho fácil», refere Caroline Sheufele, «mas é o caminho certo.»

Artigo publicado no número 45 da Espiral do Tempo.

Quem descobre pela primeira vez as deslumbrantes peças da coleção Green Carpet que a Chopard começou a apresentar em 2013, nos festivais de cinema de Cannes e de Veneza, talvez se deixe apenas levar pela sua incontestável beleza. Mas as três peças lançadas até ao momento, mais do que joias deslumbrantes, são o resultado do projeto The Journey, que a Chopard resolveu abraçar e que se insere no âmbito de uma série de iniciativas social e ambientalmente responsáveis, com as quais a marca se tem comprometido nos últimos tempos. Concebidas à mão nos ateliers de alta-joalharia da casa suíça, as três peças Green Carpet enchem o olho com ouro e diamantes de proveniência sustentável devidamente certificada. São mesmo referidas como um marco na indústria joalheira de luxo.

The Journey Green Carpet Collection © Chopard
Brincos e pulseira da coleção Green Carpet da Chopard. © Chopard

The Journey

O projeto The Journey integra o Green Carpet Challenge (GCC), um desafio promovido pela empresa de consultoria ambiental Eco-Age, que tem como objetivo a promoção do luxo sustentável, através de diversas iniciativas que passam pelo apoio e aconselhamento às marcas na adoção de práticas sustentáveis e de inteligência ecológica. Desde o seu lançamento, o GCC já contou com o envolvimento de grandes estilistas e celebridades de todo o mundo, apesar de a parceria com a Gucci se ter tornado emblemática, graças ao lançamento das primeiras malas em pele da Amazónia certificadas com o GCC Brand Mark ‘zero desflorestação’. No caso da iniciativa The Journey, a ideia é acompanhar a Chopard pelos meandros da cadeia de produção das suas joias, numa viagem que parte da proveniência sustentável e do rastreamento das matérias-primas utilizadas e que termina no momento em que o cliente tem a consciência de que está a adquirir joias amigas do ambiente e que respeitam os direitos éticos, sociais e laborais durante toda a cadeia de produção.

Caroline Scheufele e Livia Firth, apresentação ‘The Journey’, Cannes.
Caroline Scheufele, copresidente e diretora artística da Chopard, e Livia Firth, fundadora da Eco-Age, na apresentação do projeto ‘The Journey’, em Cannes. © Chopard

«Ao tratar a sustentabilidade como uma preocupação central da sua atividade, a Chopard mostra que pretende verdadeiramente fazer a diferença no mundo da joalharia de luxo», refere Livia Firth, diretora criativa e fundadora do GCC. Já Caroline Scheufele, copresidente e diretora criativa da Chopard, esclarece que «como negócio centenário de família, a Chopard está ciente das suas responsabilidades na sua viagem rumo ao luxo sustentável. Não é um caminho fácil, mas é o caminho certo, e o The Journey surge como o início de um entusiasmante programa de diversos anos que garantirá que a Chopard trabalha de modo a cumprir o seu objetivo de produção de joalharia sustentável».

Ainda o mercúrio

Chopard The Journey
La Llanada Village © Gaelle Tavernier

A questão da proveniência sustentável das matérias-primas no domínio do luxo é cada vez mais debatida e surge como um tema polémico que já não é ignorado pelos consumidores. No caso específico do setor joalheiro, os métodos de extração dos minérios surgem como uma das questões centrais. Livia Firth refere que «todos nós adoramos investir em bonitas peças de joalharia, assim como adoramos brilhar, mas, simultaneamente, estamos cada vez mais conscientes da proveniência dos materiais».

A extração do ouro é um dos casos mais frequentemente enunciados pelo modo como as respetivas práticas mineiras se desdobram em implicações negativas. De acordo com diversas comunicações da Greenpeace Argentina, desde grandes minas a céu aberto, a minas artesanais de reduzida escala, são inúmeros os danos decorrentes da extração do ouro – desflorestação, contaminação por efeito dos agentes de extração (cianeto e mercúrio), esgotamento de recursos naturais, degradação da qualidade de vida das populações, exploração laboral, exploração ilegal de filamentos, apenas para mencionar alguns. Mas na mineração artesanal e em reduzida escala, que predomina em diversos países da África, da Ásia e da América do Sul e que representa 80% da força de trabalho para uma produção de cerca de 20% do ouro mundial, um dos maiores problemas reside no recurso frequente ao mercúrio como agente de extração. Um procedimento que preocupa a comunidade científica desde finais da década de 60, altura em que se multiplicaram os estudos sobre a toxicologia deste metal, e que, atualmente, é cada vez mais encarado como um inimigo a abater.

Chopard The Journey
O ouro com o qual as criações Green Carpet da Chopard são produzidas é oriundo da comunidade mineira da América do Sul. © ARM

Em traços gerais, no processo de extração, o mercúrio é utilizado para agregar os dispersos fragmentos de ouro que se encontram cristalizados na natureza das mais diversas formas. Basicamente, ouro e mercúrio formam uma amálgama que, quando aquecida, resulta na evaporação do mercúrio e na obtenção efetiva de ouro puro. Este processo aparentemente rudimentar é, no entanto, uma opção perigosa para a saúde dos mineiros, respetivas comunidades e para o ambiente. Tal deve-se aos elevados níveis de toxicidade deste metal pesado e à facilidade com que se liberta para a atmosfera e se infiltra nos lençóis freáticos, intrometendo-se consequentemente na cadeia alimentar, através dos peixes. «Danos irreversíveis no sistema nervoso, inclusive o comprometimento de áreas do cerebelo associadas a funções motoras, auditivas e visuais, são alguns dos males que o mercúrio costuma causar em seres humanos», refere o biólogo Wanderley Bastos, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), citado por Henrique Kugler (‘Em nome do ouro’), «uma vez lançado no ecossistema, o mercúrio foge totalmente do nosso controlo; e ainda não temos tecnologias para frear os processos biogeoquímicos de sua disseminação.» No entanto, e apesar de existir uma cada vez maior preocupação reguladora e legislativa por parte de entidades competentes com vista a controlar, reduzir e erradicar por completo a adoção de mercúrio na extração artesanal do ouro, nem sempre é fácil levar as comunidades mineiras a abandonarem um processo que se revela mais barato, que é eficaz e com o qual convivem desde sempre.

Ouro ecológico

Chopard The Journey, Fairmined gold
Fairmined gold © Chopard

É por isso que existem organizações, como a Alliance for Responsabile Mining (ARM), parceira da Chopard no projeto The Journey, que incentivam e ajudam os mineiros artesanais e de pequena escala a adotarem métodos e práticas de extração mais amigas do ambiente e da própria saúde humana. No caso da ARM, a intervenção passa por diversas estratégias que têm como um dos principais objetivos a gradual eliminação do mercúrio: «determinar os locais onde o mercúrio é utilizado, tomar medidas de educação dos mineiros e comunidades sobre os impactos do mercúrio e melhores práticas, mitigar os riscos para as pessoas e ecossistemas associados à contaminação por mercúrio, através da promoção da concentração e uso de retortas, criar sistemas financeiros e de créditos que permitam aos mineiros ter acesso a fundos para inovação tecnológica e facilitar o acesso a novos mercados» são muitas das medidas desenvolvidas pela ARM junto das comunidades.

Chopard The Journey, Fairmined gold
Ouro 24 kt com certificação Fairmined Gold © Collanges

Estas descobrem-se, depois, em resultados práticos, com testemunhos de responsáveis por minas artesanais: «Foi na área ambiental que mais ficámos a ganhar com os processos de aprendizagem com a ARM. Foi nas práticas ambientais que mais mudámos, na preocupação com o ambiente. Ficámos aptos a mudar completamente. Antes, usávamos elevados níveis de mercúrio. Agora a nossa operação é 95% livre de mercúrio e estamos preparados para abandonar completamente esta prática», refere James, da Associação de Pequenos Mineiros de Cumbitara, da Colômbia. A ARM permite, assim, às comunidades artesanais o acesso à certificação Fairmined, um selo que garante a tão necessária e desejável proveniência ética e sustentável do ouro. A parceria da Chopard com a ARM vai, assim, além de questões ligadas ao fornecimento. A marca propõe-se apoiar diretamente atividades que melhorem a vida e os recursos naturais de comunidades mineiras artesanais específicas da América Latina que dependem da extração do ouro. Segundo Lina Ville, diretor executivo da ARM, esta ligação permitirá «iniciar o trabalho de transformar a prática mineira artesanal e de pequena escala nas comunidades especialmente selecionadas para este programa. A Chopard é a primeira joalheira de luxo a desenvolver uma parceria deste tipo com a ARM, e mal podemos esperar por fazer verdadeiramente a diferença nas vidas destas comunidades mineiras.»

Ouro e diamantes certificados

Chopard The Journey, diamonds sorting.
© Chopard

Desde 2010, a Chopard é membro do Responsible Jewellery Council (RJC), entidade que pretende reforçar a confiança na indústria joalheira através da promoção de práticas responsáveis relativamente à ética, aos direitos humanos e sociais e ao ambiente durante toda a cadeia de fornecimento de matérias-primas. Em linha com este comprometimento, além do ouro com certificação Fairmined oriundo de comunidades mineiras da América Latina, no âmbito da recente parceria com a ARM, para conceção das joias Green Carpet, a casa suíça recorreu ainda a diamantes certificados pelo RJC provenientes do Grupo IGC, uma das mais antigas empresas de diamantes e um parceiro estratégico da indústria suíça de alta-relojoaria e de manufaturas joalheiras de todo o mundo.

Composta para já por um conjunto rendilhado de brincos e pulseira e por um requintado colar de diamantes, a fabulosa coleção Green Carpet traduz não só um tipo de beleza que vai além de questões estéticas, como também o objetivo que a marca tem de se tornar uma referência no domínio do luxo sustentável: «o nosso sucesso é ancorado na nossa capacidade para realçar a beleza dos produtos naturais e conceber peças que são acarinhadas pelos nossos clientes. É, por isso, nossa responsabilidade proteger o mundo natural que fornece os materiais de que depende o nosso próprio sucesso, e garantir o bem-estar das pessoas e comunidades que são partes essenciais de nossa cadeia de fornecimento». ET_simb

The Journey Green Carpet Collection © Chopard
Colar da coleção Green Carpet da Chopard. © Chopard

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