As imagens seguintes nunca foram publicadas na edição impressa da Espiral do Tempo, mas a história por detrás delas revela o quão lunáticos somos na procura dos melhores conceitos sempre que temos uma peça de relojoaria para explorar. Arriscamos dizer que esta aventura fotográfica foi um pequeno passo para o homem e um gigantesco salto para todos aqueles que têm a cabeça na Lua. A nossa vítima: o L.U.C Lunar Big Date da Chopard.
Artigo originalmente publicado em 2017 para o site da Espiral do Tempo e agora atualizado.
E agora fazemos o quê?
Sempre que temos acesso a um relógio novo a pergunta surge, inevitável: então e agora fazemos o quê? Qual será a abordagem?
Por vezes a resposta não é simples e, neste caso em particular, a nossa viagem criativa acabou por ser bastante alu(a)cinada.
O relógio? Uma bomba linda, o Chopard L.U.C Lunar Big Date!
Pela classe e sobriedade, as nossas primeiras ideias foram no sentido de destacar isso mesmo num ambiente clássico de chalet suíço, através uma imagem acolhedora, um chá, uma lareira e uma bonita mesa de madeira.
Local escolhido, tripé às costas, ideias na cabeça e rapidamente chegámos a um esboço visual.
As reações na redação da Espiral do Tempo foram positivas, mas todos nós queríamos algo mais. Já vimos inúmeras imagens semelhantes. A verdade é que se torna difícil fazer algo que ainda ninguém tenha feito; no entanto, é verdade que o nosso esforço de encontrar alternativas visualmente agradáveis é constante.
— A lareira está porreira só que é uma ideia muito batida.
Vamos em frente.
E se, em vez da lareira e do ambiente acolhedor, fizessemos uma coisa no ambiente oposto, ao ar livre, nas montanhas, com neve. Uma imagem com um ar frio mas elegante…
—Não há tempo para ir à Serra da Estrela (uns tempos depois até passámos por lá com o Raymond Weil Chronograph), mas se a ideia resultar podemos tentar montar um ambiente.
Mais uma vez, conseguimos materializar a nossa ideia num esboço visual através de artes digitais.
Ficou gira e tal mas… não! Ainda não era isto que queríamos.
E se em vez da lareira e das montanhas, avançássemos com uma coisa mais luminosa? Mantemos a ideia do chá ou um chocolate quente, mas com uma luz de pequeno-almoço. Como se alguém estivesse a tomar o seu café da manhã antes de colocar o relógio.
Local escolhido, tripé às costas, ideias na cabeça e lá fomos nós.
Mais uma vez sentimos que ainda não era isto que procurávamos e a verdade é que estávamos a ficar indecisos…
Não é fácil produzir conteúdos para a Espiral do Tempo e, sem palmadinhas nas costas, exigimo-nos cada vez mais e melhor e à medida que a edição impressa vai ganhando forma e estrutura, também as decisões editoriais se alteram e ajustam.
Se para o leitor, a revista é um produto ‘linear’ que começa no editorial e termina na crónica do José Luís Peixoto, para nós é um caminho pleno de avanços e recuos. Um caminho que se percorre com salutares divergências e necessárias concordâncias.
O Chopard L.U.C Lunar Big Date ainda lá estava à nossa espera e, juro a pés juntos, que uma vez o ouvi perguntar-me: «E agora vais fazer-me o quê?»
Após outra sessão de discussão de ideias concordámos em fazer com o relógio o mesmo exercício que fizemos na produção «Sentido Figurado», publicada no número 57 (edição de inverno 2016).
Iríamos olhar para ele e destacar só uma característica. Depois teríamos de pensar num objeto que simbolizasse essa mesma característica.
— A Lua! Tem de ser a Lua! É linda e foi redesenhada para este modelo.
Muito bem que seja a Lua. Mas que objeto vamos associar então?
— O foguetão do Tim Tim é facilmente reconhecível.
— Um lobisomem!
Por um motivo ou outro acabámos por não usar os objetos que nos surgiram na ideia. Não encontrámos uma réplica simpática nem à escala do relógio do foguetão do Tim Tim, o mesmo se passou com o lobisomem. Por outro lado tínhamos receio de associar visualmente universos um pouco… juvenis a uma peça que apela a um apreciador de alta-relojoaria com outro perfil.
No entanto, e desta vez recorrendo outra vez às artes digitais conseguimos esboçar mais uma ideia destacando simplesmente a Lua.
Nesta fase até nos permitimos a devaneios mais ou menos absurdos para destacar a ‘Lunaticidade’ deste maravilhoso Chopard.
Pedimos desculpa Omega, mas nós também conseguimos mandar relógios para a Lua
A dada altura, lembrei-me de uma visita que fiz à Chopard, em 2012, em que tirei uma fotografia a parte de um expositor que tinha um calibre L.U.C. desmontado. Liguei os discos externos ao computador e fui procurar a imagem. Encontrei-a, de facto, e a minha memória estava certa. Era um calibre L.U.C. desmontado, mas… faltava-lhe a Lua.
Cuidadosamente, apaguei uma peça na imagem real e coloquei-lhe uma Lua. Os reflexos no vidro do expositor, com uma espiral gravada, forneciam um background interessante.
Mais uma vez desistimos da ideia da Lua. As imagens começavam a tomar um caminho demasiado digital e como conceito também não nos estava a agradar. Bastante desanimados e já claramente sem mais ideias eis que alguém diz umas palavras mágicas:
— Ouro sobre azul!
— O que é que disseste?
— Ouro sobre azul. O relógio é de ouro e o disco da Lua é azul. Porque não pegar nesse conceito?
E lá fomos nós, de tripé às costas, e ideias na cabeça para colocar em prática o conceito ‘ouro sobre azul’.
Montámos um cenário minimalista no estúdio, ensaiámos a tinta a sair dos tubos e fizemos a foto.
Tantas voltas demos a este maravilhoso L.U.C Lunar Big Date da Chopard, tantas horas passadas a tentar encontrar o cenário ideal, o conceito adequado, a imagem mais cativante…
Mas, enquanto, por um lado, nos debatíamos com uma questão estética e fotográfica específica, por outro, a edição impressa ia avançando. Estrutura, pertinência dos artigos, equilíbrio de marcas, conteúdos de última hora, decisões e escolhas…
A Espiral do Tempo não é apenas estética, queremo-la pertinente e variada, informativa e potênciadora de sonhos.
A editora da revista quer mais espaço para textos, o departamento comercial quer as melhores localizações para os anunciantes, o estúdio quer mais espaço para as imagens… Acreditem, caros leitores, que cada edição poderia ter facilmente mais de 200 páginas!
Mas, por fim, acabámos por não usar nenhuma das imagens que andámos a criar na edição impressa.
Quanto a mim, apesar de amaldiçoar o tripé cada vez que tenho que andar com ele às costas, não há nada melhor do que poder flirtar visualmente com peças como este Chopard. Acabamento imaculado, repito, imaculado, mesmo através da lente macro. Todo ele é elegância e classe.
Lunaticamente belo!