Tudor Pelagos FXD: uma surpresa agradável

João Gentil, um Paneristi impenitente e fundador da comunidade Paneristi Portugal, deixou-se seduzir por um Tudor. Sacrilégio? Nem por isso — até porque há pontos de contacto entre as duas marcas e os respetivos valores. Aqui ficam as impressões.

Por João Gentil

Considero-me um ávido seguidor da Panerai, uma marca que teve a sua origem numa colaboração com a Marinha Real Italiana por volta dos anos 30 do século XX. Foi precisamente a participação da Panerai num programa militar secreto, destinado ao desenvolvimento de novos veículos de assalto subaquáticos, que originou a criação de ferramentas técnicas inovadoras para uma especialidade que dava então os seus primeiros passos. A casa italiana acabou por, em colaboração com a suíça Rolex, produzir uma série relativamente limitada de relógios de pulso que chegaram até aos nossos dias e se tornaram peças com uma componente histórica extremamente relevante para os modernos Panerai.

Panerai Radiomir Venti com a bracelete personalizada junto a uma máquina fotográfica Leica
Panerai Radiomir Venti com a bracelete personalizada | Foto: Paulo Pires / Espiral do Tempo

Os arquivos históricos da Marinha Italiana revelaram que, em 1936, Giuseppe Panerai encomendou à Rolex-Genéve uma seleção de protótipos destinados a serem submetidos a uma bateria de testes bastante exigentes. A escolha foi determinada pelo desempenho assinalável da Ref. 2533, devidamente modificada pela Panerai. Ainda hoje se mantêm em produção modelos que resultaram diretamente dessa colaboração, alguns deles com apenas ligeiras alterações resultantes da evolução técnica de que o sector da relojoaria beneficiou ao longo dos anos.

De forma a prestar uma homenagem às origens históricas desse relógio, decidi ainda pedir a uma artesã florentina chamada Simona di Stefano que executasse uma bracelete que estivesse à altura da fascinante história da marca e que assim tornou o meu exemplar numa peça ainda mais especial.

Panerai Radiomir Venti num pulso masculino a bordo do veleiro Eielan
Panerai Radiomir Venti a bordo do veleiro Eilean | Foto: João Gentil

Em maio do ano passado tomei conhecimento de uma colaboração, ou parceria, entre a irmã da Rolex, a Tudor, e a Marinha Nacional Francesa, destinada a recriar uma edição dos anos cinquenta da qual resultaram apenas um número bastante reduzido de modelos — que hoje são verdadeiras peças de coleção bastante apreciadas e cobiçadas entre colecionadores.

Pormenores Tudor Pelagos FXD, à esquerda o relógio sobre peça mecânica à direita pormenor da luneta | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Pelagos FXD | Foto: Paulo Pires / Espiral do Tempo

Sendo um incorrigível apreciador de relógios de mergulho, mal soube do projeto, e por ter tido acesso às primeiras imagens, fui de imediato procurar saber quando o modelo seria disponibilizado no mercado, reservando desde logo o meu exemplar pessoal do belíssimo Tudor Pelagos FXD.

Solda Tudor Pelagos FXD em fundo preto | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Pelagos FXD | Foto: Paulo Pires / Espiral do Tempo

O modelo teve como critérios de desenvolvimento um conjunto de requisitos desenvolvidos em conjunto com o famoso Commando Hubert da M.N. Estes incluem obviamente a estanquidade, que deve ser superior a 10 atmosferas (ATM), ou 100 metros, medidas sob determinadas condições, assim como a resistência ao choque. A legibilidade é um outro requisito essencial, uma vez que num mergulho a visibilidade se vê reduzida progressivamente à medida que se alcançam profundidades cada vez mais elevadas. A resistência ao magnetismo é um outro requisito importantíssimo, assim como a presença de uma escala alternativa destinada a controlar o tempo decorrido em imersão, e que é geralmente definida por uma luneta rotativa posicionada no exterior da caixa. Ao permitir o alinhamento do ponteiro dos minutos com o ‘0’ inscrito na escala, o mergulhador tem à sua disposição um importante dispositivo de segurança que lhe permite o controlo do seu tempo de mergulho. Habitualmente, a luneta graduada é somente capaz de girar no sentido contrário ao movimento dos ponteiros do relógio, de forma a evitar que um qualquer movimento inadvertido aumento acidentalmente o tempo de mergulho, permitindo apenas a sua redução.

Pormenores Tudor Pelagos FXD, à esquerda o mostrador, à direita a coroa | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Pelagos FXD | Fotos: Paulo Pires / Espiral do Tempo

É precisamente aqui que existe uma grande diferença relativamente a outros relógios da tipologia diver, já que a luneta do Tudor Pelagos FXD pode ser movimentada em ambos os sentidos — transformando o relógio num verdadeiro instrumento de navegação furtiva. Trata-se de uma técnica que permite aos mergulhadores avançar em pares durante X tempo numa determinada direção, trocando depois de rumo por mais X tempo, e assim sucessivamente. Essa característica de uma luneta bidireccional (gira em ambos os sentidos) pode ser considerada por muitos como um erro de concepção, mas foi uma exigência específica do Commando Hubert, o lendário esquadrão da marinha francesa com quem a Tudor desenvolveu o relógio.

Tudor Pelagos FXD no pulso
Tudor Pelagos FXD no pulso de João Gentil | Foto: João Gentil

A Tudor tem claramente uma longa tradição neste tipo de modelos, a qual remonta já a 1954, incluindo atualmente no seu catálogo alguns dos mais aclamados relógios de mergulho do mundo, todos eles devidamente reconhecidos e certificados de acordo com as regras desta atividade. Quanto às restantes caraterísticas do Pelagos, que considero extraordinariamente bem conseguidas, elas incluem a utilização do titânio escovado acetinado para a construção da caixa de 42 mm, tendo dado origem a um elemento que garante elevada robustez. A caixa, assim como as asas, são fresadas a partir de um único bloco de titânio, com uma particularidade que a distingue de todos os outros Pelagos: barras fixas que dão à caixa uma resistência a praticamente qualquer abuso que possamos imaginar.

Tudor Pelagos FXD deitado dobre fundo de pedra xisto | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Pelagos FXD | Foto: Paulo Pires / Espiral do Tempo

O mostrador mate azul-marinho inclui marcadores de horas aplicados e cobertos com uma camada de Super-LumiNova de nível X1 que são considerados os mais luminescentes atualmente empregues num relógio de pulso. Com a opção de ponteiros a cair sobre os icónicos ‘Snowflake’, o Calibre MT5602 de manufatura, com uma reserva de marcha de 72 horas e certificado pelo Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres (COSC), vem garantir que tudo funciona na perfeição. No verso da caixa é possível encontrar um símbolo que é verdadeiramente mágico para os colecionadores: a inscrição ‘M.N.21’ (Marine Nationale 2021), a qual foi inspirada diretamente nas gravações datadas dos anos 70.

Tudor Pelagos FXD deitado dobre fundo de pedra xisto | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Tudor Pelagos FXD | Foto: Paulo Pires / Espiral do Tempo

Considerando a caraterística da caixa anteriormente mencionada, o modelo apenas permite a utilização de braceletes de um só elemento, como o são geralmente as braceletes militares do tipo NATO. Uma condicionante plenamente compensada pela eliminação de um dos possíveis pontos vulneráveis da maioria dos relógios (a ligação da caixa à bracelete). Uma prova adicional de que o Pelagos FXD é mesmo uma ferramenta incrível, feita para resistir nas situações mais extremas.

E assim, para minha surpresa, comecei uma nova aventura, agora como verdadeiro apreciador da Tudor.
Venha o próximo!

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