Luminor PAM 090: como entrei no mundo da Panerai

Dinamizador da comunidade Paneristi em Portugal e apaixonado por relógios de pulso, João Gentil conta-nos na primeira pessoa como iniciou a sua viagem pelo mundo da Officine Panerai. Um testemunho que vem no seguimento do convite que temos dirigido a alguns dos nossos leitores: partilhar as histórias que os ligam a um determinado relógio da sua coleção.

Por João Gentil

A minha incursão pelo mundo da Panerai começou precisamente num momento em que eu queria comprar um novo relógio de pulso. Na altura, eu já tinha ouvido falar da marca e conhecia inclusivamente alguns modelos, nomeadamente os Luminor. Daí a minha curiosidade e interesse no momento de comprar um novo relógio. Sendo assim, eu tinha duas marcas em mente e dois modelos em particular: um IWC Aquatimer e um Panerai Luminor (com caixa desenhada por Alessandro Bettarini).

Antes de passar à etapa da compra procurei saber um pouco mais sobre os dois modelos, nomeadamente os movimentos que os faziam medir o tempo. Para isso, recorri a uns amigos no ramo e um deles recomendou-me que falasse com um relojoeiro. Foi o que fiz de imediato face à ‘urgência’ de ter o tão desejado novo relógio de pulso. Desse contacto surgiu a decisão rápida e fácil, pois os argumentos apresentados inclinaram-me para o Panerai, apesar de ambos os relógios que eu tinha em vista terem a mesma base / movimento.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Chegado o momento de passar ao ato da compra, deparei-me com outra dificuldade: escolher o espaço comercial com o qual pudesse estabelecer uma futura relação de confiança e que representasse a marca em Lisboa – porque, afinal, comprar um relógio passa por também estabelecer essa relação. Da conversa com o relojoeiro surgiu igualmente uma outra informação que a maioria dos possuidores de relógios (e eu, nessa altura, também) tendem a ignorar: a importância da sua manutenção, já que os relógios mecânicos são autênticas obras de engenharia e arte que, de tempos a tempos, necessitam de manutenção.

O grande dia

Percorridos todos estes passos desloquei-me ao espaço selecionado que, por mais irónico que pareça, à data era o único que tinha a marca em Lisboa. Assim, quando chegou o grande dia, entrei num espaço comercial e a verdade é que me senti tal como uma criança numa loja de brinquedos. De referir que a loja era uma loja multimarca. Difícil e dramático. As crianças no meio dos brinquedos deparam-se com inúmeras dificuldades, entre elas escolher com qual dos brinquedos vão sair de uma loja. No meu caso, eu tinha a vantagem de ter ido à loja com uma ideia específica do que queria. Porém, quando me vi perante a vitrina que exibia diferentes relógios da Panerai, surgiu um problema inesperado, um imprevisto, que julgo que seja algo que aconteça com frequência a muitos colecionadores ou aficionados de relógios de pulso: a luta entre o emocional e o racional, entre o objetivo e o subjetivo, entre uma paixão para sempre e um amor à primeira vista, perante desenhos tão diferentes e com uma história tão distinta. Fiquei, assim, na dúvida entre os Radiomir e os Luminor, modelos tão diferentes e ambos tão marcantes visualmente.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Do lado dos Radiomir pesava a origem, a história, a aura, a mística e a simplicidade; do lado dos Luminor, que se subdividiam nas caixas 1950 e nas Bettarini, pesava um design marcante e a sua mundial popularidade. De facto, o que diferencia numa primeira vista o modelo Luminor do modelo Radiomir é o dispositivo de proteção da coroa que se tornou numa das marcas registadas mais conhecidas da Panerai.

Acho importante explicar, para quem desconhece, que o Luminor com caixa Bettarini é, provavelmente, o modelo mais popular, face ao facto de ser um modelo de entrada na gama Panerai logo com os valores mais acessíveis, bem como por ter 44 milímetros de diâmetro sendo, também, o modelo com perfil mais contemporâneo e com linhas relativamente mais retas. Já o Luminor 1950 tem 47 milímetros de diâmetro e não é para todos os pulsos; no entanto, talvez seja o modelo mais apreciado e procurado. Intimamente ligado à história da marca, foi apresentado em 1950, por oposição ao Luminor com caixa ‘Bettarini’ que foi apresentado nos anos 90. O estilo de caixa Luminor 1950 é semelhante ao Luminor ‘Bettarini’, mas, quando visto de lado, as diferenças são óbvias: a parte lateral da caixa do 1950 tem uma curva graciosa, dando-lhe uma aparência mais vintage, embora no geral acabe por ter sempre um perfil mais contemporâneo do que um modelo Radiomir. Outra grande diferença passa pelo facto de as caixas Luminor 1950 incluírem um cristal de forma única que é concebido de uma maneira fora do comum, muito semelhante aos antigos vidros de acrílico vintage. Nem todos os modelos com caixa Luminor 1950 partilham esse vidro vincadamente e curvado/côncavo. Alguns apresentam uma curva mais suave, semelhante à que podemos encontrar nos vidros dos modelos com caixa padrão da Luminor.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Referidas as diferenças básicas de estética, e voltando a dificuldade da escolha, à luta entre o racional e o emocional, deparei-me ainda com a difícil escolha. A emoção dizia-me para levar um Radiomir. Esteticamente fiquei de imediato apaixonado pela caixa. O modelo em causa está atualmente descontinuado, integrando um movimento com reserva de corda de oito dias. No entanto, esse modelo ultrapassava o meu budget. O outro modelo que me atraiu de imediato foi um Luminor 1950, com vidro curvo e um mostrador que tinha o indicador de reserva de marcha linear como característica única. Mas, e mais uma vez, este era um modelo fora do meu orçamento. Perante os poucos modelos presentes que se poderiam enquadrar na minha disponibilidade, virei-me então para o lado racional o que me levou à compra do meu primeiro Panerai de sempre: um Luminor PAM 090 com caixa ‘Betarini’. Hoje posso dizer que foi o primeiro. À data não imaginava o quanto me iria envolver na busca do modelo ideal desta marca que tanto me fascina. A busca pelo ‘derradeiro’ modelo.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

O início de uma viagem

Assim começou a minha viagem neste mundo da Officine Panerai. A constante pesquisa levou-me, naturalmente, até à Internet que acabou por me apresentar o site dos seguidores da marca – os bem conhecidos paneristis. A página: paneristi.com.

A minha primeira interação nesta página mostrou-me, de imediato, a paixão com que se debatiam as diferenças, a simplicidade com que se partilhavam informações, a inexistência de credos, de religiões, de cor, de poder económico ou de política. Era um grupo de aficionados que falavam apaixonadamente dos relógios, das suas viagens, das suas paixões paralelas, logo um grupo de amigos virtuais, que, por vezes, deixavam mesmo de ser virtuais, pois outro aspeto interessante era a facilidade de comunicação que levava inclusive à partilha de sugestões ou a encontros inesperados. Foi isso mesmo que aconteceu comigo. O meu primeiro encontro com um paneristi ficou a dever-se a uma viagem de trabalho de um amigo ‘virtual’ entre Israel e Londres, com passagem por Lisboa e Madrid. Basicamente, ele pediu-me sugestões de locais a visitar em Lisboa e Madrid. Eu optei por lhe apresentar algumas sugestões, como é óbvio, mas deixei também o meu contacto para a eventualidade de surgir alguma dúvida ou de precisar de alguma coisa.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Mal aterrou esse amigo ligou-me do aeroporto. Mais precisamente da pista de aterragem, pois ouviam-se bem os aviões como som de fundo. Então, desafiou-me para irmos beber um copo ou jantar, tendo como tema de conversa a Panerai, claro. E, assim, combinámos. Recordo-me de quando me apercebi do facto de que não conhecia a pessoa em causa e de que o modo como nos iríamos identificar seria através de um relógio de valor tão elevado. Fazer isto com um desconhecido seria um risco, mas depois de muito discutir o assunto com ele e de pensar um pouco melhor, resolvi ir. E, para minha surpresa, a simplicidade e facilidade de comunicação facilitaram logo esta espécie de ‘encontro imediato’.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Depois das saudações, perguntou-me logo qual era o relógio que tinha comigo e passou-me sem problemas o seu relógio para as minhas mãos. Ao pegar nele, fiquei desconcertado porque era um Luminor 1950 PAM 203, uma peça de uma coleção para a qual apenas foram produzidos 200 exemplares. Sem palavras, lembro-me de a considerar uma peça lindíssima, que integrava um movimento Angelus, com oito dias de reserva de marcha. Eu, por meu lado, levava um Radiomir PAM 292 com caixa em cerâmica que, entretanto, tinha adquirido.

Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo
Panerai Luminor PAM 090 | © Paulo Pires/Espiral do Tempo

Sendo assim, e tendo como início de conversa as peças belíssimas que levávamos connosco, acabámos por ficar horas numa partilha de ideias que passou pela história da marca e pela história dos paneristis. Um espírito aberto e descontraído de onde sobressai um pensamento que é também um slogan: um Panerai é muito mais do que um relógio. Os paneristis são muito mais do que apaixonados pela marca, são um grupo de amigos que se encontram e que têm como elo de ligação uma casa relojoeira italiana, mas que muito rapidamente ultrapassam esse ponto de partida para partilharem ideias sobre economia, arte, fotografia, gastronomia e viagens. A vida em si, de forma simples.

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