Aficionado da relojoaria em geral e verdadeiro apaixonado por relojoaria mecânica em particular, Reinaldo Gonçalves é o nosso leitor convidado desta semana. E a história que nos conta centra-se no seu Roger Dubuis Excalibur Chronograph, um relógio de pulso que adquiriu muito pelo fascínio e curiosidade que a marca cofundada pelo empresário Carlos Dias sempre lhe despertou.
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A minha paixão por relógios começou desde criança com o meu primeiro relógio, um Kelton, e seguiram-se vários modelos de quartzo, um deles com calculadora integrada que foi comprado com a minha primeira mesada. Esta paixão foi influenciada pelo meu pai e pelo seu fascínio por relógios Omega dos anos 60 e 70 que guardava religiosamente num cofre. No início dos anos 90, quando entrei para a faculdade, numa viagem a Paris, ‘presenteei-me’ com um Cartier Santos em aço, adquirido na icónica boutique da marca, da Rue de la Paix, com o dinheiro que ganhei a trabalhar durante as férias escolares. A partir daqui nunca mais parei.
Ao longo dos tempos, acabei por adquirir vários relógios de diversas marcas, tendo sempre como base o design, mas também o fascínio pela história que alguns modelos contavam. A minha coleção foi crescendo com exemplares como o Reverso e Reverso Squadra da Jaeger-LeCoultre, o Portugieser da IWC ou como o Sea-Dweller Deep Sea e o GMT Master II da Rolex. Mas, ao fim de algum tempo, acabava por vendê-los sempre com o objetivo de adquirir outros modelos. A verdade é que nunca consegui ter mais do que quatro ou cinco relógios em simultâneo. Isto porque gosto de os usar e experimentar, mas também gosto de variar. Recuso-me a ter os relógios fechados durante muito tempo ou simplesmente parados. Para mim, os relógios existem para serem usados. Quando me canso, prefiro dar-lhes uma segunda oportunidade no pulso de alguém.
Neste momento, tenho o Cartier Santos (o único que nunca me abandonou), um Rolex Oyster vintage (simbólico para mim porque tem a minha idade), um Rolex GMT Master II ref. 116710, dois Seikos Divers dos anos 90 e um Panerai Radiomir. Deixo para o fim o Roger Dubuis Excalibur Chronograph porque foi este o relógio que escolhi destacar neste texto: por primar pela diferença e por representar um marco no meu percurso de colecionador, tendo em conta que é o primeiro relógio que tenho com um movimento de alta-relojoaria.
O meu Roger Dubuis Excalibur Chronograph
A Roger Dubuis sempre me despertou fascínio e curiosidade, nomeadamente pelas suas linhas arrojadas, pela ousadia de ser diferente e pela complexidade dos movimentos mecânicos. A marca de relojoaria fundada em 1995 pelo empresário português Carlos Dias e pelo talentoso mestre relojoeiro suíço Roger Dubuis foi, ao longo dos tempos, ascendendo rapidamente ao mundo restrito da alta-relojoaria. Além disso, os mecanismos da Roger Dubuis são certificados pelo famoso Poinçon de Genève, um garante da qualidade da criação relojoeira que está em causa, baseando-se não apenas nos aspetos decorativos dos calibres, mas também na sua performance já depois de montados. Esse foi um dos aspetos que, em definitivo, sempre me chamou muito a atenção e que pesou no momento em que decidi avançar e adquirir um relógio da marca. A minha busca começou então. Depois de alguma pesquisa e de me informar um pouco mais sobre a marca que tanto me fascinava e respetivos modelos, acabei por me render completamente à procura da excelência, à criatividade e ao design arrojado presentes no ADN desta manufatura.
Adquiri assim, em 2017, um Excalibur Chronograph ref. RDDBEX0387, um relógio que surpreende pelo seu mostrador muito particular. Tenho até noção de que é um mostrador que não será do gosto de todos, mas eu gosto imenso, pela diferença, pela originalidade e pelo modo como vai alterando o tom escuro degradé, à medida da incidência da luz. Este modelo tinha sido lançado em 2013 e, no entanto, continuava tão atual.
O meu percurso de aquisição de relógios tem variado ao longo dos anos. Tanto compro relógios novos em lojas físicas na Europa, como relógios do mundo inteiro, usados, através da Internet, quase sempre via ebay. Para vender, prefiro sempre o contacto direto com entregas em mão para não correr riscos. Mas para adquirir este Excalibur Chronograph da Roger Dubuis tive mesmo de o ver ao vivo e de o experimentar. Confesso que, no início, quando estava a escolher, estava dividido entre o Excalibur e o Easydiver, que era mais clássico e mais discreto, mas, no final, depois de comparar ao vivo os dois modelos, acabei por me apaixonar pelo movimento cronográfico e pelo micro-rotor do Excalibur Chronograph. Levei assim para casa um relógio de 42 mm em aço, completamente diferente de todos os outros que já tive ou que tenho. Além disso, considero que este foi o meu primeiro movimento de alta-relojoaria, mesmo tendo noção de que tive relógios de topo como os modelos IWC ou Jaeger-LeCoultre. Quando me refiro ao movimento, refiro-me à elevada complexidade e trabalho de construção.
Agora, há uma pergunta que se pode colocar aqui neste momento: será que vou continuar com este relógio na minha coleção? Não sei responder. Posso dizer que gosto muito dele pela sua singularidade. Tenho preferência por usá-lo à noite, pela elegância da caixa e dos numerais romanos bem destacados tão característicos da marca. A leitura das horas é fácil não só pela dimensão dos numerais, mas também pelo lado contrastante. A data é também de fácil leitura e dá-me imenso jeito. Porque sim, eu ainda sou daquelas pessoas que usa um relógio mecânico também pela funcionalidade. A correia em pele preta de crocodilo fixa à caixa por meio de três asas é para mim muito original e muito confortável no pulso, graças também ao fecho de báscula especialmente prático.
Na minha perspetiva, é um relógio que tem uma identidade própria e um estilo único, inconfundível. E que faz a diferença na minha coleção. Por isso, a resposta à minha própria pergunta talvez afinal se possa centrar no presente. Neste momento, pretendo ficar com ele. O Excalibur Chronograph fez com que o meu interesse em relojoaria deixasse de se centrar tanto no design e passasse a incidir mais nos próprios mecanismos. O meu fascínio pela Roger Dubuis permanece, apesar de, ultimamente, os relógios da marca estarem mais segmentados nas parcerias com o mundo automóvel. Com incidência em esqueletos e turbilhões, combinações de cores apelativas e fortes e um espírito inovador no design e elaboração de movimentos complexos, a Roger Dubuis é para mim uma marca à parte que se encontra a um nível especial e diferenciador no mundo da alta-relojoaria.
O meu Excalibur Chronograph ajudou-me a perceber tudo isso.
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