Entre relógios e fotografia: o meu TAG Heuer Aquaracer

De entre os muitos hobbies que tem, a relojoaria assume grande relevância na vida de Pedro Santos. O nosso leitor convidado desta semana conta-nos um pouco do seu caminho pelo mundo da relojoaria e de como esse caminho acabaria por se cruzar inevitavelmente com outra das suas grandes paixões: a fotografia. O relógio protagonista da sua história é um TAG Heuer Aquaracer muito peculiar.

Desde muito cedo que gosto de fotografia e relógios, ou seja, gosto de tudo o que tem a ver com mecânica. Lembro-me de, em pequeno, desmanchar brinquedos que, por sua vez, depois de montados ou voltavam trabalhar com peças a menos ou nunca mais voltavam a trabalhar… e também costumava aproveitar peças de uns para os outros.

TAG Heuer Aquaracer
Relógio do leitor: o TAG Heuer Aquaracer 300M Calibre 5 de Pedro Santos © Pedro Santos

O primeiro contacto com relógios mecânicos de que me recordo foi ver o meu avô a dar corda ao seu relógio todas as manhãs e também me lembro do irritante tique-taque dos relógios de parede que não me deixavam dormir. Não tendo herdado nenhum relógio, entrei um pouco mais tarde no mundo da relojoaria. Gosto do relógio como um todo e não tenho uma marca nem um tipo preferido. Pode ser contemporâneo ou vintage, clássico ou desportivo e normalmente apresentar coisas diferentes. No fundo, é a soma de vários fatores que captura o meu interesse relativamente a um determinado modelo — entre estética do mostrador e da caixa, movimento ou história que lhe está subjacente…

Na minha juventude fui tendo uns Casio e Citizen digitais de quartzo e só pelos 16/18 anos, quando comecei a trabalhar, é que consegui ter o meu primeiro relógio. Na altura, andava tudo nos Swatch e eu, para ser diferente, optei pela edição limitada da Benetton/Bulova em titânio. Passado um  pouco, lá me virei para alguns relógios mecânicos da Tissot. A partir desse momento, passei a ler muito sobre relojoaria em livros, na Internet e em revistas — incluindo a Espiral do Tempo desde o seu primeiro número, que teve o próprio Franck Muller como protagonista de capa.

TAG Heuer Aquaracer
Em ambiente aquático, o seu meio ambiente mais natural a seguir ao pulso © Pedro Santos

Entretanto, houve ali pelo meio uns anos um pouco estranhos na relojoaria e acabei por ficar meio de fora do mundo dos relógios. No entanto, com o desenvolvimento das redes sociais, e através do Facebook e do Instagram, comecei a seguir algumas marcas e revistas especializadas, pelo que o bichinho regressou e resolvi entrar em alguns grupos e fóruns especializados em relojoaria para desenvolver o meu gosto e partilhar ideias.

TAG Heuer Aquaracer Calibre 5

Há cerca de um ano, lembrei-me de juntar o gosto pelos relógios e pela fotografia e criei uma conta no Instagram dedicada aos instrumentos do tempo e aos instrumentos de escrita, já que as canetas também são um dos muitos hobbies que tenho. Comecei a fotografar e reparei que praticamente só tinha relógios do mesmo estilo, ou seja, clássicos, de estilo rétro. Por isso, comecei a pensar no que poderia adicionar de diferente à minha coleção e lembrei-me de algo mais desportivo e robusto  que pudesse usar na piscina e na praia. Essa opção conduziu-me aos relógios de mergulho.

TAG Heuer Aquaracer
A ligação às profundezas é também feita através da gravação de um batiscafo no fundo © Pedro Santos

Com todas estas voltas, lá vieram à baila os inevitáveis Rolex. Há uns anos, estive quase para comprar um — na altura ainda sem os novos problemas associados às listas de espera e preços em segunda mão iguais ou superiores aos novos, entre vários outros aspetos a considerar. Porém, como também gosto de ter coisas diferentes e tendo em conta as crescentes dificuldades em conseguir um Rolex, comecei a aventura de busca por um relógio que fosse ao encontro do que eu pretendia. Acabei por ver e rever diversas opções, pois não paravam de aparecer novidades e o leque de escolha era muito alargado. Aliás, acredito que o género de relógio que eu andava a pesquisar — um autêntico tool watch — deve ser aquele que atualmente é mais procurado e produzido por qualquer marca, por mais pequena ou recente que seja.

TAG Heuer Aquaracer
Modelo fotográfico: o Aquaracer e algumas câmaras vintage © Pedro Santos

Ainda demorou algum tempo a encontrar o candidato mais adequado. Verdade seja dita, também não tinha muita pressa. E o eleito apareceu por um mero acaso. Estava a passar pela secção de relojoaria do El Corte Inglés, como faço tantas vezes, e numa altura de promoções lá estava o candidato em destaque que parecia mesmo estar à minha espera: um TAG Heuer Aquaracer 300M  Calibre 5 Ref. WAY218A, alimentado por um movimento de corda automática e estanque a 300 metros de profundidade (existe uma variante 500M estanque a 500 metros com válvula de hélio mas de preço mais alto). A linha Aquaracer é uma das mais conhecidas da TAG Heuer e a sua origem remonta ao início da década de 80, quando Jack Heuer lançou a série 2000 em 1982 — curiosamente, seria o último modelo por ele lançado enquanto estava à frente da marca fundada pelo seu bisavô (a Heuer foi vendida pouco depois e passou a denominar-se TAG Heuer em 1985) e antes do seu regresso enquanto presidente honorário no início dos anos 2000.

Sendo um relógio preto com uma bracelete em nylon/borracha preta e pormenores contrastantes em amarelo, saltou imediatamente à vista. Além disso, reparei também que pertencia à mais recente geração, ou seja, tinha luneta em cerâmica com ponteiros e indexes com um novo design. Ao vê-lo lembrei-me logo que tinham um fantástico lumen e veio-me à ideia de que daria umas fotos brutais a mostrar essa bela luminescência que tanto caracteriza a nova geração do Aquaracer. Fiquei logo interessado e experimentei o rapaz. Ao usá-lo no pulso percebi imediatamente que era em titânio, por ser muito leve e confortável.

TAG Heuer Aquaracer
Pormenores de personalidade: a estrias, os índexes e ponteiros polidos e facetados, a lupa e a geometria da luneta © Pedro Santos

Tal como o primeiro relógio que comprei, lá voltei assim ao titânio — mas, neste caso, com revestimento em titanium carbide preto, que, até agora, tem resistido muito bem sem a mínima marca visível. E se é relativamente comum a utilização do titânio em relógios de mergulho, o facto de não haver muitos relógios de mergulho pretos atraiu-me particularmente. Outra característica que achei interessante foi a caixa de 41 mm parecer mais pequena no pulso devido à cor negra que domina o relógio. Já a bracelete impermeável em nylon e borracha com revestimento interior a amarelo condizente com as costuras revela-se muito confortável; o sistema de ‘ajuste infinito’ (porque não depende dos habituais orifícios) na báscula permite adaptá-lo perfeitamente a qualquer pulso, milimetricamente e em meros segundos.

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O fecho de báscula com sistema de abertura de segurança pode ser ajustado ao longo da bracelete para regulação milimétrica do comprimento © Pedro Santos

É muito comum os novos relógios de mergulho serem lançados com elementos de estilo algo semelhantes ao clássico Rolex Submariner, que desde 1954 tem sido a inevitável referência na categoria. Mas o Aquaracer da TAG Heuer faz parte de uma dinastia com quase quatro décadas e tem uma identidade muito própria, a começar logo pela luneta facetada com 12 lados e com seis saliências que parecem imitar umas ‘garras’ a fixá-la à caixa e que, por sua vez, permitem a rotação sem dificuldades. A  luneta é assim das mais precisas, acutilantes e satisfatórias de usar em comparação com todas as que já experimentei em diversos outros relógios, independentemente do preço. Obviamente, a coroa é de rosca e faz-se acompanhar de duas juntas de proteção para reforço da estanqueidade. O mostrador ganha uma grande profundidade com a utilização das linhas horizontais caraterísticas da linha Aquaracer, que me fazem lembrar o deque usado nos barcos.

TAG Heuer Aquaracer
A forte luminescência em dois tons do Aquaracer © Pedro Santos

Os ponteiros e indexes às 6, 9 e 12 horas são distribuídos em torno do escudo estilizado da marca, mais perceptível na ponta dos ponteiros das horas e dos minutos. A lupa da data, que me faz lembrar a lupa que encontramos nos relógios Rolex, resulta bem e permite uma melhor legibilidade dos algarismos a preto no disco branco da data. O revestimento luminescente, como já sublinhei, é lindo e com dois tons e muita área aplicada. Sendo assim, e no geral, o meu Aquaracer tem uma grande legibilidade mesmo no escuro, não só pelo lumen, mas pelo contraste potenciado pelo mostrador preto e os reflexos espelhados dos indexes e ponteiros polidos.

Com isto tudo, raramente o tiro do pulso e até durmo com ele, pois é bastante confortável. Ironicamente, a verdade é que só o tiro mesmo para tomar duche, mas não é por receio de ele avariar — é apenas por hábito. Agora, o próximo passo é mesmo voltar à procura e perceber qual será o próximo membro da minha pequena coleção! Entretanto, a complementar as fotos da minha autoria que complementam este texto, aqui deixo como conclusão um pequeno vídeo que fiz e que dá vida ao meu Aquaracer 300M Calibre 5:

Sobre o leitor convidado:
Pedro Santos

Pedro-Santos

Fotógrafo de 45 anos, nascido e criado em Lisboa.
Apaixonado  desde  pequeno por fotografia, música, relojoaria e tudo o que tenha a ver com mecânica.
Curioso de tudo um pouco e com hobbies a mais fica sem tempos livres.

Instagram: @watches.and.pens

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