Mal o ano novo arrancou e já há novidades significativas a assinalar — desde uma obra-prima da relojoaria independente com a assinatura de Vianney Halter até uma reedição histórica da Zenith, passando pela atualização do lendário Speedmaster ‘Moonwatch’ da Omega. Aqui fica a introdução ao trio desvelado no início desta semana.
Ano novo, vida nova? No início desta semana — e com o Dia de Reis à vista! — foram desveladas três novidades que não são ouro incenso ou mirra nem absolutamente novas porque têm raízes anteriores, mas cuja relevância não pode deixar de ser assinalada. A começar por uma prodigiosa obra-prima da micromecânica.
Vianney Halter Deep Space Resonance Prototype
O mestre Vianney Halter, entrado para a lenda relojoeira com a criação do estilo steampunk no final dos anos 90 (através do Antiqua e do Trio, mas também no inicio do milénio com o Opus III da Harry Winston), ultrapassou uma depressão criativa de sete anos para lançar o Deep Space Tourbillon que ganhou o Prémio de Inovação no Grand Prix d’Horlogerie de 2013 e que homenageava as quatro dimensões nas viagens espaciais: um turbilhão triaxial central rodeado na periferia pela quarta dimensão, o tempo.
No passado mês de novembro voltou a ouvir falar-se nele graças à colaboração com a Louis Erard que trouxe o seu estilo para um modelo regulador em edição limitada e preço acessível.
E quando nada o fazia prever, lança uma autêntica bomba na passada segunda-feira: o Deep Space Resonance Prototype.
Tendo por base a mesma caixa do Deep Space Tourbillon, Vianney Halter dotou o turbilhão triaxial de dois sistemas osciladores colocados em sintonia por via acústica — graças ao fenómeno da ressonância. É uma autêntica criação relojoeira vinda de outra galáxia, tendo em conta a paixão do mestre pela ficção científica e a sua auto-proclamação como ‘relojoeiro da viagem no tempo e no espaço’. Pegou no seu emblemático turbilhão triaxial e dotou-o de uma gaiola capaz de integrar duas rodas de balanço sincronizadas por via acústica graças ao fenómeno da ressonância.
A ideia remonta a 1996, quando começou a ter lições de piano e reparou no fenómeno da ressonância aquando da afinação. Investigou as tentativas do lendário Abraham-Louis Breguet em usar o fenómeno em relojoaria no início do século XIX e estudou os relógios existentes associados à ressonância, passando a colecioná-los.
Em 2012 adquiriu um relógio do antigo mestre Langlois de 1660 e partiu daí para a obra-prima agora desvelada e na qual trabalhou intensamente durante todo o ano de 2012. Só o sistema triaxial é composto por 371 componentes individuais. O calibre de corda manual assegura uma autonomia de 65 horas de funcionamento. Na peça inaugural, indicada como sendo um protótipo, a horas surgem na parte superior através de um disco de horas e quartos de hora; os minutos aparecem em baixo. Nas próximas execuções, tanto a leitura do tempo como a reserva de corda serão melhoradas. Cá estaremos para as apresentar.
Zenith Chronomaster El Primero A385 Revival
Em 2019, no ano da celebração do 50º aniversário do seu mítico movimento cronográfico El Primero, a Zenith relançou o A384 sob a designação Chronomaster Revival A384 — que reproduz as formas angulosas da caixa e o mostrador panda do primeiro modelo a receber o lendário movimento automático.
Com um inconfundível design retrofuturista que já antecipava os devaneios geométricos da década de 70, o El Primero A384 de 1969 há muito que se havia tornado num cobiçado item de colecionador. A Zenith cavalgou nessa tendência neovintage para apresentar novas variantes, desde uma edição limitada com mostrador azul evocativa do modelo A31818 que ficou conhecido como ‘Cover Girl’ até uma versão Chronomaster Revival Shadow totalmente escurecida que foi inspirada por um protótipo de 1970 encontrado nos labirínticos sótãos da manufatura em Le Locle, sem esquecer a edição ‘Liberty’ dedicada aos Estados Unidos e o excelente Chronomaster Revival Lupin The Third.
O novo exercício Revival é mais um regresso ao passado. O Chronomaster Revival A385 recupera a versão de 1969 dotada do primeiro mostrador fumado na história da relojoaria e que esteve associada à chamada ‘Operação Sky’, que consistiu no amarrar de um relógio no trem de aterragem de um Boeing 707 da Air France que fez o trajeto Paris-Nova Iorque em 1970. O A385 chegou em perfeitas condições ao destino apesar das brutais variações de temperatura, numa prova de que a relojoaria mecânica se sobrepunha tecnicamente à então nascente tecnologia de quartzo.
A reedição é fiel, com uma diferença relacionada precisamente com a sua motorização: o fundo transparente em vidro de safira que substituiu o fundo fechado da caixa em aço e que revela a última versão do histórico movimento cronográfico El Primero 400, um concentrado de meio século de aperfeiçoamento com 50 horas de reserva de corda e estanque a 100 metros de profundidade.
Para além do apelativo mostrador castanho dégradé, o tamanho de 37mm, que poderia ser considerado pequeno, ‘veste’ acima do número graças ao formato da caixa e adapta-se a qualquer punho com um perfume muito vintage. Para as variantes derivadas do A384 Revival, a Zenith procurou reproduzir e preservar tudo o que fosse possível do original — adotando uma abordagem de ‘engenharia reversa’ que manteve todos os componentes fiéis à versão debutante; todas as partes do A384 de 1969 foram digitalizadas para serem reproduzidas com precisão, incluindo a caixa de aço facetada de 37mm por 12,60mm de espessura. O look neo-retro pode ficar completo com uma bracelete metálica ‘ladeira’ integrada que evoca a que equipava o original de 1969, mas está também disponível uma correia em couro de tom castanho-claro com base de borracha para uma utilização mais segura e confortável.
Omega Speedmaster Moonwatch Professional Master Chronometer
Após quase um quarto de século e muitas variações através de edições limitadas e tamanhos diversos, um dos mais famosos relógios da história da relojoaria sofreu uma atualização: o novo Speedmaster Professional ‘Moonwatch’ da Omega, que deve a sua lenda ao facto de ter sido o primeiro relógio usado na Lua e de estar associado às missões Apollo dos anos 60 e 70, foi desvelado nesta passada terça-feira… ou não fosse dia de #SpeedyTuesday. A última geração do ‘Moonwatch’ já datava de 1996, com mais ou menos alterações desde então.
A nova geração (com a referência 310.30.42.50.01.001) surge completamente remodelada, embora à primeira vista pareça o mesmo cronógrafo de sempre — mas é assim que os ícones se tornam intemporais, sendo renovados sem aparentes alterações drásticas na sua estética. E houve mesmo alterações, mantendo inalterados os traços essenciais que fazem parte da aura do famoso cronógrafo da Omega nascido em 1957.
As mudanças desde a quarta geração, lançada em 1964 e usada por Buzz Aldrin na Lua em 1969, têm sido cirúrgicas; o novo Speedmaster Professional tem uma caixa de 42mm ligeiramente diferente, mas sobretudo alberga um movimento da nova geração (o calibre 3861 de escape co-axial com certificação METAS) e uma nova bracelete com elos e fecho aprimorados. O mostrador também regista subtis mudanças, incluindo um logo aplicado.
O novo Speedmaster Professional ‘Moonwatch’ está disponível em quatro versões; uma em aço com vidro de safira, outra em aço com vidro Hesalite, uma terceira em ouro rosa designado Sedna Gold e uma quarta em ouro branco Canopus. Mais do que suficiente para alimentar o desejo dos aficionados, não esquecendo todas as edições limitadas que continuarão a surgir.