O visual full metal está cada vez mais em voga – só nesta semana, a Oris apresentou o seu novo cronógrafo Hölstein com a primeira bracelete em bronze do mundo da relojoaria e a Linde Werdelin desvelou o 3-Timer Nord com uma bracelete metálica rara para a marca. A tendência já vem do ano passado, recupera o conceito integrado dos anos 70 e também inclui braceletes de estilo vintage da Bonklip e da Gay Frères.
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Pode ter sido o ressurgimento em força do Royal Oak da Audemars Piguet e do Nautilus da Patek Philippe com preços recorde no mercado de segunda mão e longas listas de espera na aquisição de exemplares novos. Também pode ter sido o início de uma reação à tirania dos relógios clássicos redondos e de vincada inspiração vintage que começou por alturas de 2008, a partir da crise do subprime e do despertar do apetite chinês pela relojoaria. Ou então (e poucos se lembram dessa perspetiva), uma adaptação da concorrência ao cada vez maior êxito da Rolex e do seu conceito assente quase exclusivamente em braceletes metálicas. Mas o certo é que o design típico dos anos 70 que marcou na altura o advento do relógio moderno está com uma enorme pujança e cada vez mais se vê as correias de pele perderem terreno para as braceletes de metal — sejam elas de estilo integrado ou não, lançadas pelas marcas ou de modo avulso, feitas de aço democrático ou ligas preciosas.
E mesmo em bronze, esse metal pré-histórico que não é tão democrático nem precioso, mas que tanto tem suscitado o apetite dos aficionados. A Oris lançou no início da semana o Hölstein Edition 2020, uma versão do Divers Sixty-Five Chronograph inteiramente ‘bronzeada’ (depois de uma edição dedicada a Carl Brashear com correia de pele) que inclui a primeira bracelete em bronze da relojoaria suíça — para além de um mostrador em tons de champanhe com contadores pretos contrastantes e a divertida efígie do Oris Bear no fundo. O look é totalmente metálico e com um tipo de bronze mais propenso a adquirir patina; sendo um modelo de inspiração rétro, a bracelete é de estilo tradicional com os seus elos regulares entre asas dotados de peça de ligação à caixa e não propriamente ‘fundida’ na caixa como sucede no conceito integrado propriamente dito.
Linde Werdelin 3-Timer Nord
Ao mesmo tempo, a Linde Werdelin apresentava a nova edição 3-Timer Nord com um mostrador degradé do preto para o azul e sobretudo uma bracelete em aço que reforça a arquitetura da caixa originalmente desenhada por Morten Linde. Jorn Werdelin, o cofundador, confidenciou-nos: «não sou nada propenso a usar braceletes metálicas porque prefiro cauchu ou pele, mas tenho de confessar que a nossa nova bracelete em aço fica muito bem no novo modelo». Tivemos a oportunidade de fotografar antecipadamente o 3-Timer Nord e até de o levar a passear até à zona da Ericeira; podemos comprovar até à saciedade que a nova bracelete reforça as linhas tão caraterísticas da Linde Werdelin.
Look metálico
O Oris Hölstein Edition 2020 e o Linde Werdelin 3-Timer Nord são os dois mais recentes exemplos (e simultaneamente tão distintos no material e no design) do look cem por cento metálico em que a bracelete assume assinalável protagonismo. E é curioso constatar as várias ideias pré-concebidas à volta das braceletes metálicas. Por exemplo, há quem as considere mais ‘dressy’, o que acaba por ser surpreendente mas eventualmente perceptível tendo em conta o conceito de relógio-bracelete; no entanto, a bracelete em aço é mais desportiva no sentido em que é mais resistente e pode mesmo durar uma vida, ao passo que as correias de pele em determinadas zonas húmidas e quentes do planeta rapidamente ficam ‘cortadas’ devido à humidade e ao suor que também pode ser potenciado por certos hábitos de alimentação como sucede na Ásia. E o mundo anglo-saxónico, onde a Rolex tem ainda maior peso e tradição, está claramente mais pendente para as braceletes de aço, enquanto os países do sul da Europa gostam mais de correias de pele a combinar com os sapatos e o cinto — existindo por vezes um certo preconceito relativamente às braceletes metálicas devido ao brilho dos reflexos considerado excessivo por alguns (sobretudo nos modelos completamente em ouro).
Um prenúncio do regresso em força das braceletes em aço fora do âmbito da Rolex foi o facto de o Royal Oak Offshore, claramente o best-seller da Audemars Piguet à entrada para a segunda década do século XXI e geralmente equipado com uma bracelete de cauchu ou correia de pele, ter dado lugar ao ‘pai’ Royal Oak e mais a sua incontornável bracelete metálica. Há quatro anos a Piaget relançou o Polo e a Girard-Perregaux recuperou o Laureato, ambos com bracelete em metal e também com raízes nos anos 70. Há dois anos a Urban Jurgensen inovou com o seu One e no ano passado a tendência explodiu autenticamente com vários lançamentos significativos: a Bell & Ross inaugurou a linha BR05, a A. Lange & Söhne surpreendeu com o Odysseus a tornar-se no primeiro modelo em aço de produção regular da manufatura germânica, a Chopard recuperou o St. Moritz e transformou-o no mais apelativo Alpine Eagle, a Ebel voltou a investir no seu Sport Classic de bracelete ondulada que no início da década de 80 era o relógio cool que todos queriam ter.
Já este ano, e logo nos primeiros dias de janeiro, a H. Moser apresentou o cronógrafo Streamliner — também dotado de uma bracelete de aço ondulada e cujo nome homenageia uma importante corrente estilística assente num visual metálico e aerodinâmico. O ponta-de-lança de uma nova coleção de design integrado mas bem original, escapando à fácil comparação e infame acusação de cópia do design integral de Gerald Genta… que não foi o pai do design integrado nem tem o exclusivo do design integrado, que na década de 70 era uma tipologia bem definida e interpretada por centenas de marcas em milhares de modelos. Aliás, Jorg Hysek (que desenhou o 222 para a Vacheron Constantin, um antepassado do Overseas) e Eddy Schöpfer (autor do Sport Classic da Ebel) foram dois designers igualmente profícuos e especializados em arquitetura integrada.
Entretanto, também em janeiro, duas marcas de peso no contexto da relojoaria de prestígio anunciaram novas braceletes metálicas com a mesma pompa do anúncio de um novo relógio complicado: a Hublot com o seu conceito Integral e a Zenith com a reprodução fiel da mesma bracelete em escada concebida em 1969 pela antiga companhia especializada em braceletes Gay Frères para o El Primero A384, agora reeditado como El Primero A384 Revival.
O lançamento da plataforma digital Watches & Wonders, que em tempo de pandemia veio substituir a feira propriamente dita, permitiu conhecer mais um punhado de exemplares de design integrado e de novas braceletes metálicas. Ao mais alto nível, o Laurent Ferrier Sport Tourbillon recebeu uma bracelete metálica e ganhou uma aura completamente diferente — para ainda melhor. A IWC, em ano de Portugieser, estreou uma nova bracelete metálica com fecho de microajustamento no Portugieser Yacht-Club. Também a Montblanc dotou a sua linha 1858 de uma bracelete metálica. Sem esquecer os novos modelos Overseas da Vacheron Constantin, cuja bracelete integra estilisticamente a Cruz de Malta que faz parte do logótipo da histórica manufatura genebrina.
Depois vieram o Breitling Chronomat com uma bracelete muito peculiar em cilindros e de contorno à volta das asas para um visual mais integrado (sem o ser estruturalmente), o Junghans Meister Chronoscope S com bracelete metálica de sete elos e o Omega Constellation Manhattan de senhora — todos eles com um visual full metal preponderante para a sua ‘personalidade’.
E seguidamente a Wempe lançou a linha Iron Walker com mais de uma dezena de diferentes referências e preços acessíveis, entre modelos de três ponteiros e cronógrafos, enquanto a Czapek seduziu com a sofisticação da sua nova coleção Antarctique, dotada de um novo calibre de manufatura e inovadores mostradores, mas sobretudo caraterizada pela bracelete metálica em que os elos em C (de Czapek) se destacam.
A velha novidade Bonklip
Quanto às braceletes metálicas idealizadas e concebidas para uma comercialização avulso, a grande novidade vai para o relançamento da bracelete Bonklip por parte dos nossos colegas franceses do site Les Rhabilleurs — sempre muito vocacionados para o universo vintage.
A bracelete original Bonklip foi criada em Inglaterra na década de 20 e estava dotada de um sistema de fecho único integrado na estrutura da própria bracelete de tamanho único, tornando-a adaptável a todos os tamanhos de pulso. Foi utilizada no primeiro Rolex Viceroy, no Bubble Back e em relógios de piloto dos aviadores da Royal Air Force, sendo também fabricada por especialistas do setor como a já referida Gay Frères e a JB Champion. No entanto, a complexidade relacionada com a dobragem, assemblagem e polimento dos elos contribuiu para o seu desaparecimento da cena relojoeira durante mais de meio século… até que a rapaziada do Les Rhabilleurs, através da sua sister brand Joseph Bonnie, trouxe a Bonklip de volta.
Para além da estrutura peculiar dar à Bonklip um visual diferenciado, há um pormenor que contribui ainda mais para a sua aura vintage: os elos finais têm 20 milímetros de largura mas o resto da bracelete assenta em elos de ligação polidos com 19 milímetros e elos centrais escovados com 17 milímetros. Ou seja, dá a impressão de ser uma bracelete antiga adaptada a um relógio ligeiramente maior e muito do seu encanto reside nessa nuance. Não há dúvida de que se trata de uma excelente alternativa às braceletes de malha dita milanaise, também muito populares para fornecerem um look simultaneamente rétro e elegante a qualquer relógio mais clássico.
Hoje em dia há vários tipos de bracelete milanaise — desde a mais grossa que se pode encontrar em históricos modelos de mergulho, como o Super KonTiki da Eterna ou o PloProf da Omega (que também já foram reeditados pelas respetivas marcas), até aos exemplares de malha mais fina destinados a dar um toque suplementar de originalidade a modelos elegantes ou de inspiração rétro. E também regressaram ao mercado as braceletes metálicas extensíveis devido ao seu sistema elástico.
Qualquer que seja o estilo, formato ou padrão, vale sempre a pena experimentar uma ou outra variante metálica em modelos habitualmente ‘vestidos’ com correias de pele: o novo visual pode constituir uma agradável surpresa, dando um carisma completamente distinto ao relógio!
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