A Ming é uma original companhia relojoeira fundada por um antigo menino-prodígio tornado designer, fotógrafo e colecionador de relógios. E acabou de lançar, na Dubai Watch Week, o relógio mecânico mais leve do mundo. A história de uma marca de nicho tornada marca de culto.
Na Dubai Watch Week
Ao longo da última década e meia tem-se visto, na relojoaria, uma clara corrida para a apresentação do mais fino relógio mecânico do mundo entre a Bulgari e a Piaget — com a Richard Mille a ‘roubar’ finalmente essa distinção com o seu relógio dedicado à Ferrari. Mas, mesmo que a própria Richard Mille tenha apresentado relógios complicados muito leves, como os que o campeão de ténis Rafael Nadal tem utilizado, nunca se viu uma declarada competição entre grandes marcas pelo recorde de leveza. E foi precisamente nisso que pensou Ming Thein, o fundador da marca oficialmente designada Horologer Ming SA e baseada em La Chaux-de-Fonds.
O nome Ming geralmente remete para os valiosos vasos de porcelana chinesa da dinastia Ming, ou para o maléfico imperador Ming da banda desenhada e filmes do herói Flash Gordon. Ming Thein veio popularizar o nome em contexto relojoeiro (sem esquecer a nossa excelente colega britânica Ming Liu, que escreve sobre relógios para o Financial Times, Vogue e Hodinkee) e catapultar a sua marca para um invejável patamar — o da relojoaria de culto, reforçada por edições especiais rapidamente esgotadas, listas de espera e um rol de prémios que inclui o da Revelação na edição de 2019 do Grand Prix d’Horlogerie de Genève.
O fundador: Ming Thein
Na recente Dubai Watch Week, a Ming surpreendeu tudo e todos com a apresentação do LW.01, aquele que é o mais leve relógio mecânico do mundo — e logo em duas variantes, sendo a de corda manual logicamente mais leve, com 8,8 gramas contra as 10,8 gramas da versão automática (devido ao peso suplementar da massa oscilante do rotor). A lógica por trás de tão conceptual relógio, que se inclui na linha experimental Special Projects Cave, foi simples: Ming Thein perguntou-se o que poderia fazer de diferente e melhor do que todos os outros, sendo que a resposta surgiu no âmbito do peso. E concretizou esse desiderato, com o LW.01 oficialmente apresentado aos colecionadores e à imprensa mundial na Dubai Watch Week. Numa edição limitada a 200 exemplares rica em inovação no âmbito do design e dos materiais utilizados.
Mas, antes do LW.01 e dos restantes modelos em exibição no Dubai, convém apresentar melhor Ming Thein. Nasceu em Kuala Lumpur, na Malásia, mas na juventude acompanhou os pais para Melbourne, Wellington e Londres. Em Inglaterra, acabou o liceu aos 12 anos, entrou na universidade aos 13 e formou-se em Oxford no ramo da Física aos 16 anos. E foi em Oxford que se começou a interessar por relógios, mergulhando nos fóruns online e participando em reuniões de aficionados. Entretanto, tornou-se fotógrafo de eleição, designer de exceção e business strategist. Esse cocktail de qualidades fez com que, rodeado por mais cinco amigos, fundasse a marca com o seu nome. Que começou, como tantas micromarcas, por lançar relógios de preço muito acessível e abaixo dos 1000 euros — seis anos após a sua fundação (2017), está já num patamar muito elevado, como o provam algumas peças especiais vendidas por seis dígitos ou os relógios exibidos na Dubai Watch Week. E com parceiros de exceção, como a manufatura Schwarz-Etienne, o atelier Agenhor e a correaria Jean Rousseau. Todos os relógios são assemblados, regulados e testados na Suíça.
LW.01 Special Projects Cave
O LW.01 Special Projects Cave é algo de extraordinário sem perder o feeling de um relógio convencional e utilizável no dia a dia, com o seu formato redondo de 38mm de diâmetro por 6,5 de espessura e 25 metros de estanqueidade. A caixa é feita na liga AZ31 (magnésio, alumínio, zinco) da firma Smiths High Performance, sendo mais leve do que o carbono e dando uma impressão ‘metálica’ quando colocado no pulso. A liga recebe depois uma oxidação eletrolítica de plasma da firma Keronite para maior resistência à corrosão e, em vez do vidro de safira, é utilizado o Corning Gorilla Glass 6 da Knight Optical com endurecimento adicional para superior resistência. Os parafusos da caixa são PEEK e a coroa é confecionada em alumínio anodizado. A estrutura inclui barras fixas, em vez das tradicionais asas de mola para as correias.
Quanto ao movimento, a base é o Calibre ETA 2000 em ambos os casos (corda manual e automática) — com 36 horas de reserva de carga e acabamento na Schwarz-Etienne. Os ponteiros e a indicação central de segundos em marcha evocam o Simpleton da Ochs und Junior que o próprio Ming Thein desenhou. A bracelete é uma tira de Alcantara produzida pela Jean Rousseau com uma fivela AZ31 que só junta 1,8 gramas ao escasso peso do relógio.
O preço é ‘normal’ para um relógio tão especial, especialmente se comparado com os Richard Mille ultraleves: cerca de 20.000 euros, com um depósito de 50 por cento na altura da encomenda — escolhendo-se a versão manual ou automática — e entrega no final de 2024. Uma peça experimental que se sente como um relógio no pulso mas que também dá a ideia de não ser como mais nenhum outro relógio… ao mesmo tempo que é, claramente, um Ming. Por mais paradoxal que a descrição possa parecer!
29.01 Worldtimer Dubai Edition
Obviamente que o LW.01 foi a estrela da companhia, mas os outros relógios que tivemos a oportunidade de fotografar entre a seleção exposta na Dubai Watch Week também são extremamente interessantes — e mais convencionais. A começar pelo 29.01 Worldtimer Dubai Edition, uma edição limitada de 25 exemplares com a inscrição em árabe das cidades no disco dos 24 fusos horários.
Mas o 29.01 Worldtimer Dubai Edition não é apenas uma variante árabe do 29.01 Worldtimer, cujos 100 exemplares esgotaram num ápice. É uma segunda geração com vários aperfeiçoamentos, incluindo a função Daylight Saving Time e vários outros ajustes. Estreia também o microrrotor em ouro no aperfeiçoado Calibre ASE 222 desenvolvido pela Schwarz-Etienne. A arquitetura de caixa de 40 milímetros em titânio respeita as da série 29, por muitos considerada como a mais equilibrada da coleção. A tiragem é de somente 25 peças e o preço situa-se nos 23 mil euros.
37.08 Sand
O novo 37.08 Sand é um relógio que estreia uma série de preços um pouco mais acessíveis, à volta dos 4.000 euros — numa edição adequadamente apresentada na Dubai Watch Week devido ao mostrador que evoca as dunas de areia no deserto. E é essa a intenção da série 37, apresentar modelos com mostradores texturados que marquem a diferença.
Ming Thein refere que se inspirou nos seus estudos fotográficos de dunas, vagas e propagação de ondas. O resultado estético é impressionante, mas há mais para além do mostrador: o Calibre SW2010.M1 da Sellita é muito trabalhado para se chegar a um grande nível de esqueletização e acabamento. Tiragem limitada a 500 exemplares.
37.04 Monopusher Special Projects Cave
Depois da apresentação de um sofisticado cronógrafo monopulsante com caixa de titânio e design minimalista em 2022, a Ming apresentou uma nova versão em ouro — limitada a 20 exemplares e também com um mostrador em ouro feito na Comblemine de Kari Voutilainen, estando dotado de um acentuado padrão em guilloché. Faz parte da celebrada linha conceptual Special Projects Cave da marca, tal como o ultraleve LW.01.
A caixa em ouro rosa é de 38mm de diâmetro por 11,9mm de espessura e o Calibre LPJ 500.M1 de corda manual foi desenvolvido pela La-Joux Perret para a Ming a partir de um original elaborado pela THS (a empresa de François-Paul Journe, Denis Flageollet e Vianney Halter nos anos 90). O preço é de cerca de 50.000 euros.