Algumas notas sobre a Rolex e a estanqueidade

A Rolex dispensa apresentações, mas nunca é demais recordar alguns dos aspetos que mais caracterizam a sua essência. No rescaldo do lançamento das atualizações do Submariner no ano passado e às portas da apresentação das novidades da marca para 2021, reunimos algumas curiosidades sobre a Rolex no domínio da estanqueidade.

Mercedes Gleitze, nadadora britânica, primeira Embaixadora Rolex
1927: Mercedes Gleitze, nadadora britânica, pode ser vista como tendo sido a primeira embaixadora da Rolex | © Rolex

1 | O ponto de partida

A combinação dos conceitos Oyster e Perpetual constitui a base material do espírito Rolex, mas é a vertente Oyster que simboliza o sólido percurso da marca no domínio da estanqueidade. De facto, a Rolex investiu desde muito cedo em relógios à prova de água e o ponto de partida terá sido a ambição que o próprio fundador Hans Wilsdorf tinha de «(…) encontrar a forma de criar um conjunto de caixa e bracelete impermeável», como referiu em 1914 à casa Aegler, que mais tarde se tornaria na Manufacture des Montres Rolex S.A. de Bienne.

A arquitetura do Submarine obriga quem o usa a abrir a caixa externa para acionar a coroa de corda.
1922: A arquitetura do Submarine obrigava a abertura da caixa externa para manuseamento da coroa | © Rolex

O resultado desta ambição foi o Submarine, de 1922. Este relógio estava fixado por uma dobradiça no interior de uma segunda caixa que era estanque graças a uma luneta, com vidro e enroscada na parte central. Para manipular a coroa era sempre necessário abrir a caixa exterior. A travessia do Canal da Mancha por Mercedes Gleitze, em 1927, contribuiu muito para a lenda criada à volta da estanqueidade dos relógios Rolex.

2 | Uma ostra de pulso

As investigações levadas a cabo para o Submarine foram de grande importância para o desenvolvimento da incontornável caixa Oyster, patenteada em 1926. Nesse ano, a Rolex tornou-se na primeira marca a produzir relógios em série verdadeiramente herméticos, totalmente impermeáveis a infiltrações de água, vapor ou partículas de pó nocivas ao mecanismo. O relógio, tal como a caixa, foi designado de Oyster («ostra» em inglês) porque, da mesma forma que o molusco que inspirou o nome, «podia viver na água durante um tempo ilimitado sem sofrer qualquer dano no seu organismo», como nos conta a marca.

O Oyster é o primeiro relógio de pulso estanque do mundo graças à perfeita hermeticidade da sua caixa homónima.
1926: O Oyster é o primeiro relógio de pulso estanque graças à perfeita hermeticidade da sua caixa homónima | © Rolex

No fundo, era uma caixa tão inviolável quanto a ‘caixa’ de uma ostra, graças à conceção de um sistema de rosca para o fundo, para a luneta e a coroa. Com o passar do tempo, estes elementos foram evoluindo com o intuito de reforçar ainda mais a estanqueidade e também como resposta às evoluções técnicas associadas ao mundo do mergulho.

3 | Elementos essenciais

O segredo Oyster consistia na sua arquitetura, composta por uma luneta, um fundo e uma coroa enroscados na parte central da caixa. A luneta Oyster original era canelada de modo a poder ser enroscada com uma ferramenta própria, mas o conjunto foi evoluindo até à integração de uma luneta rotativa, especialmente nos relógios de mergulho. Já o fundo da caixa Oyster, que permaneceu com canelura fina até hoje, permite que este seja hermeticamente enroscado.

Modelos Rolex Submariner de 1953 e de 1954.
1953: O Submariner é o primeiro relógio de pulso de mergulho estanque até aos 100 metros de profundidade. 1954: A estanqueidade do Submariner chega até aos 200 metros | © Rolex

Nos relógios de mergulho atuais, o fundo é em aço Oystersteel, em ouro de 18 quilates ou numa liga de titânio, consoante o modelo. Mais tarde, em 1953, a marca apresenta a coroa Twinlock, com sistema patenteado composto por duas juntas de estanqueidade. O princípio é, entretanto, aperfeiçoado e, em 1970, surge a coroa Triplock, com uma junta de estanqueidade extra para os modelos de mergulho mais profissional.

4 | Submariner

Ao mesmo tempo que a relojoaria de pulso evoluía em meados do século XX, também a exploração subaquática de índole profissional e recreativa se foi desenvolvendo: passou a ser necessário medir com precisão os tempos de permanência debaixo de água, fazer a gestão das garrafas de oxigénio e das fases de descompressão no regresso à superfície para eliminação de gases nocivos. Como dissemos, a Rolex aperfeiçoou o seu conceito Oyster com a introdução da coroa Twinlock com duas juntas em 1953 e no mesmo ano lançava o Submariner com a garantia de que era o primeiro relógio de pulso estanque até 100 metros; com luneta rotativa e disco graduado, permitia a gestão do tempo passado debaixo de água.

Rolex Submariner, Primeiro relógio de pulso estanque até aos 100 metros de profundidade. E o relógio experimental Deep Sea Special.
Esquerda: Primeiro relógio de pulso estanque até aos 100 metros de profundidade, o Submariner representa uma evolução fundamental tanto na história da Rolex como na do mergulho. Direita: Fixado no exterior do batíscafo Trieste durante a descida à fossa das Marianas em 1960, o relógio experimental Deep Sea Special suportou a pressão existente a quase 11.000 metros de profundidade.| © Rolex

Outro aspeto a destacar era a luminescência dos ponteiros e indexes das horas, crucial para melhor legibilidade em ambientes escuros. Em 1954, o Submariner é aperfeiçoado para enfrentar profundidades até 200 metros e até aos 300 metros em 1989. Em 1968, é apresentada a versão com função da data, tornada estanque até aos 300 metros a partir de 1979. O Submariner Date integra a coroa Triplock em 1977, vidro de safira em 1979 e mostrador com indexes em aplique em 1984. Em 2010, é apresentado o primeiro Submariner Date em aço com um disco de luneta Cerachrom. Em 2020, além de uma caixa ligeiramente redesenhada a ampliada para 41mm, bem como bracelete com novas proporções, o Submariner e o Submariner Date foram atualizados com novos movimentos.

Modelos Rolex Submariner Date de 1969 e de 1984.
1969: Primeiro Submariner Date. 1984: O Submariner Date integra a coroa Triplock (1977), um cristal de safira (1979) e um mostrador com marcadores em aplique (1984). Para além disto, desde 1979, o modelo é estanque até aos 300 metros. | © Rolex
Modelos Rolex Submariner Date de 2010 e de 2020.
2010: Primeiro Submariner Date em aço equipado com um disco de luneta Cerachrom em cerâmica. 2020: além de uma caixa ligeiramente redesenhada, o Submariner e o Submariner Date integram movimentos de tecnologia de vanguarda.| © Rolex

5 | O mundo como laboratório

O Submariner passou a ser um instrumento adotado por profissionais do mergulho — mas não só, já que a qualidade de construção ganhou adeptos em todas as áreas. O fundador da Rolex, Hans Wilsdorf, costumava dizer que «o mundo é o nosso laboratório» e a marca genebrina sempre manteve laços estreitos com exploradores e cientistas para colocar à prova e desenvolver os seus relógios; em 1960, um protótipo Rolex DeepSea Special foi acoplado ao flanco exterior do batiscafo Trieste e acompanhou incólume o tenente Don Walsh e o oceanógrafo Jacques Piccard numa descida a 10.916 metros de profundidade na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico.

O oceanógrafo suíço Jacques Piccard e o tenente da marinha americana Don Walsh na descida à fossa das Marianas.
O oceanógrafo suíço Jacques Piccard e o tenente da marinha americana Don Walsh foram os primeiros a descer a fossa das Marianas. | © Rolex

Mais de meio século depois, numa ação conjunta, o realizador James Cameron, a Rolex e a National Geographic embarcaram no Deep Challenge, uma nova aventura na Fossa das Marianas para recolha de dados e amostras para estudos científicos.

A Rolex participa ativamente em 2012 na expedição DEEPSEA CHALLENGE
No âmbito do seu compromisso com a exploração submarina, a Rolex participou em 2012 na expedição Deepsea Challenge, do cineasta e explorador James Cameron, em associação com a National Geographic Society. | © Rolex

E, no dia 26 de março de 2012, James Cameron alcançou os 10.908 metros, a bordo de um submersível, protagonizando na altura o mergulho individual mais profundo de todos os tempos, bem como o primeiro mergulho individual neste ponto do Pacífico. Durante a expedição, um Rolex Oyster Perpetual Deep Sea Challenge, um relógio experimental de mergulho preparado para enfrentar os 12.000 metros, foi fixado ao casco do submersível com que o explorador e cineasta desceu às profundezas.

James Cameron à chegada do seu mergulho ao fundo da fossa das Marianas.
James Cameron à chegada do seu mergulho ao fundo da fossa das Marianas | © Rolex

6 | Válvula de hélio

Em 1967, a Rolex patenteia a válvula de hélio, um dispositivo de segurança do relógio que se ativava automaticamente quando a pressão interna da caixa era demasiado elevada, para deixar escapar o excesso de gás. De facto, em situação de mergulho de saturação, nas câmaras hiperbáricas, os relógios usados pelos mergulhadores tendem a encher-se progressivamente de hélio, um gás composto por átomos tão finos que que se introduzem lentamente na caixa do relógio através das juntas de vedação, embora durante a descompressão da câmara não consigam escapar do relógio de modo suficientemente rápido, fenómeno que pode danificar o relógio ou até fazer saltar o vidro. A válvula de hélio veio impedir esta situação.

7 | Habitante do mar

A adaptação prática da válvula de hélio deu origem a um modelo ainda mais profissional do que o Submariner: o Sea-Dweller, de arquitetura e visual similar, mas um pouco mais espesso e sem lupa no vidro para a data. Lançado em 1967, tinha uma estanqueidade garantida até aos 610 metros e, a partir de 1978, até aos 1220 metros. Outra funcionalidade patenteada e estreada no Sea-Dweller foi o sistema Fliplock, baseado num elo que permitia a extensão da bracelete e a possibilidade de usar sobre fatos de mergulho.

O primeiro Rolex Sea-Dweller de 1967.
1967: Relógio de mergulho profissional por excelência, o Sea-Dweller foi concebido para acompanhar os pioneiros das grandes profundidades. | © Rolex

Também em 1967, a Rolex iniciou uma parceria com a sociedade HYCO (International Hydrodynamics Company), uma empresa canadiana especializada no desenvolvimento de submarinos. No âmbito dessa colaboração, dois Sea-Dweller foram fixados no exterior de submersíveis da HYCO para diferentes missões. Depois de cerca de quatro horas de imersão a 411 metros de profundidade, a HYCO concluiu que «O relógio funcionou na perfeição durante todas as fases do teste.»

À esquerda, o lançamento do Pisces V no início dos anos 1970. À direita, os relógios Rolex são fixados no exterior dos submersíveis da HYCO, às vezes nos braços articulados
À esquerda, o lançamento do Pisces V no início dos anos 1970. À direita, os relógios Rolex fixos no exterior dos submersíveis da HYCO, às vezes nos braços articulados | © Rolex

8 | Rolex e Comex

Em 1971, a Rolex oficializou a sua parceria com a Comex (Compagnie Maritime d’Expertises): a empresa francesa especializada em engenharia submarina comprometia-se a equipar os seus mergulhadores com relógios Rolex e a proporcionar à marca suíça relatórios regulares sobre o seu desempenho, como forma de contribuir para a melhoraria da sua já elevada fiabilidade e de aperfeiçoar as suas funcionalidades. Além das intervenções no mar e de experiências científicas para desenvolver novas tecnologias úteis às suas atividades, a Comex desenvolveu câmaras hiperbáricas que reproduziam a pressão existente nas profundidades.

Campanhas publicitárias Rolex de 1972 e 1988.
No âmbito da sua associação com a Comex, a Rolex participou em inúmeros recordes mundiais. É esta dimensão que se evidencia nas campanhas publicitárias da Rolex, como as de 1972 e 1988 | © Rolex

Em 1988, a Comex organizou a expedição Hydra VIII, em que seis escafandristas de saturação, equipados com relógios Sea-Dweller, mergulharam a 534 metros de profundidade – recorde do mundo de mergulho em mar aberto. Mais tarde, em 1992, na experiência Hydra X – um mergulho em câmara com duração de 43 dias – um mergulhador atingiu a profundidade simulada de 701 metros, também com um Sea-Dweller.

9 | Deepsea

O Sea-Dweller continuou a ser aperfeiçoado, recebendo mais tarde um novo vidro de safira acoplado à estrutura do meio da caixa com uma junta de polímero. A coroa Triplock foi estreada em 1970 com uma terceira junta de estanqueidade. Os avanços tecnológicos foram tão grandes que só quatro décadas depois, em 2008, houve novos desenvolvimentos com a introdução do novo e sobredimensionado (44 mm) Deepsea garantido até aos 3900 metros com um sistema Ringlock baseado num anel central de compressão feito de uma liga de aço e nitrogénio, com um fundo em liga de titânio e uma coroa Triplock aperfeiçoada. A luneta rotativa unidirecional do Deepsea era complementada por um disco Cerachrom em cerâmica preta graduado com escala de 60 minutos.

O modelo experimental Rolex Deepsea Challenge está fixado no braço articulado do submarino DEEPSEA CHALLENGER.
O modelo experimental Rolex Deepsea Challenge está fixado no braço articulado do submarino Deepsea Challenger | © Rolex

Este relógio de mergulho incluiu ainda a visualização Chromalight, um material luminescente que emitia uma ténue luz azul com uma duração que, segundo a marca, praticamente duplica a de um material fosforescente clássico, bem como uma maior regularidade durante o período de emissão. Os modelos de mergulho da Rolex são, de acordo com a norma relativa a esta tipologia de relógios, testados a uma profundidade 25% superior àquela cuja garantia de estanqueidade possuem. Por este motivo, os testes realizados em laboratório submetem o Rolex Deepsea à pressão exercida até 4875 metros de profundidade – tendo, por isso, uma garantia de estanqueidade de 3900 metros. Para testar a estanqueidade, em tão radicais índices de profundidade, foi criado um tanque hiperbárico, desenvolvido conjuntamente pela Rolex e pela Comex. O Rolex Deepsea inspirou o modelo experimental que, em 2012, acompanhou James Cameron na expedição de que já falámos.

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