A Audemars Piguet apresentou em Nova Iorque mais uma inesperada colaboração que abalou o universo relojoeiro e o projetou para além das suas fronteiras naturais. E, no final, o seu CEO deixou cair o microfone — num ato simbólico que simultaneamente significou que o lançamento arrasou e que a sua missão estava concluída.
Após a apresentação do novo Royal Oak Perpetual Calendar Openworked em colaboração com a marca Cactus Jack do rapper Travis Scott e do seu próprio discurso, François-Henry Bennahmias levantou o braço e… deixou cair propositadamente o microfone. Para quem está mais familiarizado com a cultura pop (neste caso, hip hop…) americana, o simbólico gesto definido por mic drop significa que o seu autor matou o assunto ou encerrou a questão. Esse gesto do CEO da Audemars Piguet foi para além disso: não só arrasou com o lançamento de tão espetacular relógio, como se despediu no seu derradeiro ato oficial à frente da histórica manufatura de Le Brassus.
E porque na América tudo é em grande, o impacto mediático do novo Royal Oak Perpetual Calendar Openworked Cactus Jack Limited Edition atingiu números muito perto daqueles que foram gerados na última edição da Watches & Wonders — a maior feira mundial da indústria relojoeira, que contou com 49 marcas (sem a Audemars Piguet, que há vários anos considerou que o business model das feiras tradicionais não servia os seus propósitos). Foi, de facto, um êxito retumbante e que beneficiou muito do trabalho desenvolvido há décadas por parte de François-Henry Bennahmias: antes de passar a CEO da Audemars Piguet, foi o responsável da marca nos Estados Unidos e desde logo a projetou junto de grandes vedetas de Hollywood, do desporto e da música. Como Arnold Schwarzenegger, LeBron James e Jay-Z. Para não falar da posterior associação aos super-heróis da Marvel.
Sob a direção de François-Henry Bennahmias, a Audemars Piguet multiplicou por dez o seu volume de negócios e passou a ser uma companhia bilionária. A sua liderança foi frequentemente controversa, sendo mesmo ocasionalmente ridicularizada pela associação de uma secular manufatura de alta-relojoaria a domínios e personagens que aparentemente pouco se coadunavam com o luxo ou a clientela mais tradicional da marca. Mas é difícil contrariar os factos e os números que indicam o sucesso da estratégia delineada, tanto no plano mediático como puramente técnico — a Audemars Piguet é muitas vezes referenciada em canções de rap e recentemente recebeu mesmo a Aiguille d’Or, o galardão máximo do Grand Prix ‘Horlogerie de 2023.
De há dez anos para cá, os relógios Audemars Piguet tornaram-se incrivelmente cobiçados — sobretudo os emblemáticos Royal Oak, mas até os inicialmente polémicos Code 11.59 já estão a dar cartas. E o novo Royal Oak Perpetual Calendar Openworked Cactus Jack Limited Edition esgotou num ápice… não só pela marca ou pela colaboração, mas também porque se trata de um relógio verdadeiramente cool. «The Chocolate AP» como lhe chama Travis Scott.
Para começar, a caixa de 41mm é confecionada em cerâmica castanha — caso raro na relojoaria e uma estreia para a Audemars Piguet. Seguidamente, o complexo Calibre 5135 de corda automática pode ser apreciado através de um mostrador openworked e do fundo transparente em vidro de safira. Depois, a simbologia associada à Cactus Jack oferece elementos gráficos surpreendentes ao relógio e a utilização de componentes com fotoluminescência azul ou verde enriquece ainda mais o conjunto. A correia de pele texturada surge como complemento ideal. Com um preço à volta dos 200 mil euros, a tiragem do relógio estava limitada a 200 exemplares… e rapidamente se tornou utópico conseguir um. Até porque o último álbum de Travis Scott tem por nome Utopia is a State of Mind.
Para terminar, deixamos a declaração integral do músico/artista divulgada no comunicado oficial da Audemars Piguet — no seu original em inglês, para que a tradução não retire o espírito com que foi proferida e também porque a parte final não é facilmente traduzível: «Watchmaking, to me, is the ultimate combo of engineering, fashion, tech and design — a harmony of precision, craftsmanship and perfect timing. I approached this collaboration similar to sampling or starting a beat, taking inspiration from classics while introducing innovation to push them into the future. I’m beyond amped about the results, a first ever for the iconic Royal Oak. For it to be my brother François’ final project as CEO of AP makes it even more epic — we are sending him out with a mega fucking epic mic drop… LETTTSSSSS GOOOOOO.»