Dediquei alguns minutos a mostrar à minha filha as fotografias de alguns dos relógios que me passaram pelas mãos em Baselworld e eventos paralelos. Entretanto, fui anotando os seus sábios comentários – de menina de seis anos…
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São muitas as conversas sobre relógios que tenho com a minha filha. E quando, em março passado, cheguei de Basileia, depois de ter visitado Baselworld e outros certames relojoeiros independentes que foram promovidos na mesma altura, uma das primeiras coisas que fiz foi mostrar-lhe com calma algumas das fotografias que tirei dos diferentes modelos que vi. Entretanto, fui ouvindo (sorrindo) e anotando os seus comentários…
De um modo geral, a minha C. tende a torcer o nariz aos relógios assumidamente mais masculinos e, como seria de esperar, fez-me parar por diversas vezes para dizer que esses relógios eram muito feios… Não digo quais para não ferir suscetibilidades (as minhas e as dos outros…!)
Mas, como já conheço bem o seu gosto de menina vaidosa, faço sempre questão de lhe mostrar, acima de tudo, os relógios de que sei que vai gostar – relógios coloridos, com flores, com diferentes cores de pedras preciosas e diferentes cores de braceletes. No que diz respeito a relógios pretos, estes são de imediato postos de parte. Exceção à regra no momento em que a luminescência no escuro se faz ver. Lembro-me sempre de uma vez em que lhe mostrava como os numerais e indexes do mostrador do meu Oris Sixty Five luziam no escuro e lhe disse que aquele relógio era para ela – « é para tu usares quando fores mais crescida», disse-lhe eu. Nessa altura, a pequena C. ficou satisfeita e respondeu-me prontamente qualquer coisa como:
– Está bem, mãe. É para mim. Mas em troca ficas com o meu relógio cor de rosa porque, quando carregas no botão, a luz acende muito mais depressa e é muito mais forte.
Ri-me, obviamente. E já contei esta história imensas vezes.
Adoro estas respostas cheias de certezas e de sabedoria. Aqui tenho também de relembrar uma breve conversa que tive com ela há uns anos a propósito das braceletes dos Tudor Black Bay. Na altura ela tinha quatro anos. Agora tem seis.
Mas, voltando a Basileia, como disse, mostrei-lhe fotografias de vários relógios que me passaram pelas mãos e pelo pulso. E alguns tiveram direito a comentário mais especial. O relógio que ganhou o primeiro prémio na listagem das preferências foi o maravilhoso Chopard L.U.C XP Esprit de Fleurier Peony.
Também achei curioso ela ver o fundo do mar num De Bethune DB25 Moon Phase Starry Sky que representa o céu noturno, já em relação a De Bethune DB28 Yellow Tones, tive de lhe perguntar onde estava a cabeça de lula gigante que ela disse que via no mostrador… E depois de apontar para a ponte central que apoia os ponteiros, fez-me todo o sentido.
(Ultimamente, na escola dela tem-se falado muito dos oceanos e dos animais marinhos em vias de extinção. Destes, a lula gigante é mesmo um dos seus animais preferidos, de tal forma que tive de a levar a visitar o Aquário Vasco da Gama, em Lisboa, para lhe mostrar a célebre lula gigante que ali está exposta há tantos anos… Daí a associação de ideias que ela fez.)
No meio de tudo isto, acho sempre interessante descobrir o que nos dizem os olhos entusiasmados dos miúdos. Quanto mais não seja para fugir à formatação a que estamos acostumados. E, no caso concreto da minha filha, gosto de conversar sobre relógios com ela porque é sempre uma forma de a ir fazendo perceber que, no mundo da relojoaria, há muito para saber, muito para explorar e muito para apreciar. Uma forma de a ensinar a dar valor a determinadas peças e de a levar a perceber um pouco melhor o trabalho que elas escondem. Mais tarde, olhará certamente para os relógios de uma forma bem diferente daquela que olharia caso nunca tivesse tido este contacto. Ou pelo menos, vai saber fazer a distinção entre relógios mecânicos e relógios de quartzo, entre relógios incríveis e relógios menos incríveis e… entre relógios propriamente ditos e dispositivos que também dão as horas.
Além disso, esta é também uma forma de a fazer compreender um pouco melhor os meandros do meu dia a dia. E, em última análise, uma forma de transmitir a paixão que tenho por relógios de pulso – a tal passagem de testemunho às novas gerações, ao jeito sempre citado de campanha Patek Philippe… Significa isto que ela, quando for crescida, irá comprar relógios como se não houvesse amanhã? Não faço ideia. Ou vai passar a ter urticária face ao assunto? Também não sei…
Mas tenho a certeza de que, à semelhança do que acontece com tantas pessoas, mais cedo ou mais tarde, ela vai ter pelo menos uma história para contar sobre cada um dos meus relógios de pulso que um dia lhe espero oferecer. Quer ela goste, quer ela não goste…
Posto isto, aqui ficam algumas fotos dos relógios de Basileia que mostrei à pequena C. As fotos e as respetivas impressões (ou pequenas associações) que resultaram desta conversa. Como não poderia deixar de ser.
Chopard L.U.C XP Esprit de Fleurier Peony:
«Gosto muito! É o relógio da primavera! »
Chopard Happy Sport oval:
«Gosto dos diamantes que mexem. Podes comprar esse para ti!»
Colar Chopard Red Carpet Collection 2019:
«Esse é um colar de princesas. Da Elsa.»
Rolex Day-Date 36:
«Gosto muito dos dois relógios, mas prefiro o cor de rosa. Fica bem com a minha saia.»
Rolex Day-Date 36:
«Tem as cores do arco-íris!»
De Bethune DB28 Yellow Tones:
«Parece a cabeça de uma lula gigante! »
De Bethune DB25 Moon Phase Starry Sky:
«Fundo do mar, das profundezas, onde vivem aqueles peixes esquisitos que dão luz…»
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