Braceletes: como vestir vintage

Qual é a melhor maneira de dotar um relógio de uma auréola mais rétro ou reforçar o seu espírito vintage? ‘Vesti-lo’ adequadamente com o adereço adequado.

Crónica originalmente publicada no número 51 da edição impressa da Espiral do Tempo.

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| Foto: Tudor

Há quem evite utilizar correias ou braceletes de outras marcas. Não vale a pena ser-se tão fundamentalista: os aficionados mais experientes não são tão intransigentes e normalmente sabem se poderão ou não mudar o visual do seu relógio com o recurso a correias ou braceletes de outra origem; desde que depois se adote uma fivela ou fecho de báscula da mesma marca do relógio, o look final apresentar-se-á suficientemente perfeito… dependendo muito do gosto pessoal, obviamente.

Na tentativa de apresentar um produto de catálogo que fosse o mais consensual possível, muitas das principais companhias relojoeiras suíças até tinham a fama de carecer de imaginação e mesmo de ousadia — forçando os conhecedores mais exigentes a procurar outras soluções. O advento da internet aumentou exponencialmente essa oferta e popularizou correias e braceletes alternativas, tal como tornou mais conhecidas marcas de nicho que sempre investiram nesse departamento. E, de um momento para o outro, as grandes empresas do setor trouxeram para a ribalta essas soluções mais utilizadas pelos aficionados mas com um nível superior de acabamentos.


Opção sintética: das NATO ao Perlon

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| Foto: Paulo Pires/ Espiral do Tempo 

Um dos acessórios de culto mais populares sempre foi a chamada bracelete NATO, que até deve a sua designação ao facto de a própria NATO referenciar oficialmente (G10, obedecendo a uma cartilha) as exigências de um produto militar barato que já havia sido utilizado na Segunda Guerra Mundial. Foram rapidamente adotadas pelos colecionadores, sobretudo a partir do momento em que Sean Connery utilizou uma bracelete NATO num Rolex Submariner enquanto James Bond no filme Goldfinger, de 1964; adoradas pelos aficionados e anteriormente subestimadas pelos tradicionalistas, passaram a mainstream com a ajuda de algumas marcas de prestígio: a Jaeger-LeCoultre equipou um dos seus modelos militares da linha Master Compressor com uma, mas foi sobretudo a partir do momento em que a Tudor (a outra marca do conservador grupo Rolex) lançou a linha Vintage com sofisticadas braceletes de nylon/tecido em 2010 que se abriu uma nova era.

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© Paulo Pires/ Espiral do Tempo 

A Maurice Lacroix  aderiu em 2013 e, no ano passado, a Omega e a Blancpain lançaram braceletes NATO próprias, enquanto a Chanel chegou ao ponto de as tornar luxuosas com o recurso a pele de crocodilo e peças metálicas adornadas com diamantes. A TAG Heuer juntou-se este ano à tendência e o modelo dedicado a Cristiano Ronaldo tem precisamente uma bracelete NATO. Entre as marcas de nicho a prática é mais antiga e a Maurice de Mauriac tem padrões exclusivos ligados ao universo desportivo e automóvel, havendo muitas marcas próprias de braceletes NATO ou variantes a comercializar o seu produto na internet ou em lojas de colecionadores.

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As braceletes NATO são leves, resistentes, fáceis de lavar, moldam-se bem ao pulso e particularmente agradáveis de usar no período estival; a sua substituição é extremamente fácil e pode-se fazer uma mudança em escassos segundos — bastando passar a bracelete entre a caixa do relógio e as molas das asas. Num ápice, a troca de cores muda o aspeto de um relógio consoante a circunstância e o estado de espírito! As braceletes NATO da Tudor não são propriamente NATO no sentido em que dispensam o segmento suplementar e o excesso de peças metálicas (que muitos aficionados cortam); o visual é mais clean e o fecho permite ajustar o comprimento.

Também as braceletes sintéticas de perlon podem ser inseridas na mesma categoria, embora a sua estrutura entrelaçada impeça conjugações de cores das braceletes NATO e até proporcione um look mais limpo devido à ausência das peças metálicas suplementares de proteção. Ainda não foram adotadas pelas marcas de prestígio, já que não se apresentam tão resistentes. Mas têm tido cada vez mais aderentes ao longo dos últimos dois anos.


Pele ou metal: do couro vintage à milanaise

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E depois há as correias de couro ou pele de búfalo, envelhecidas de modo a parecerem antigas e a combinarem melhor com modelos de inspiração vintage ou militar. A Panerai e a Bell & Ross foram das primeiras marcas de prestígio a descartarem o uso da anteriormente inevitável pele de crocodilo (de excelente qualidade, mas de visual menos adequado) e a recorrerem a couros mais consentâneos com os seus relógios. Ultimamente têm-se visto couros com gravações a potenciar o cariz militar e há pequenas empresas especializadas capazes de fazer qualquer coisa à vontade do freguês — a Maurice de Mauriac, por exemplo, é uma marca completamente obcecada por correias e braceletes de todo o tipo que apresenta uma oferta incrivelmente alargada; a última tendência é o fabrico de correias de pele velha com dois pespontos laterais cozidos à mão em Itália (exemplo: vintagestraps.it), sendo que a Eberhard já adotou o visual na sua reedição do histórico cronógrafo Contograf e a Eterna fez o mesmo com uma das novas reedições do SuperKontiki de 1973.

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No que diz respeito às braceletes metálicas, as que apresentam um pendor mais rétro são as milanaise — uma espécie de malha formada por elos muito pequenos que proporcionam um conforto superior ao das braceletes de elos maiores e um visual que começou por ser visto em reedições da Eterna (a primeira reedição do Super KonTiki e uma das que foram reveladas este ano em Baselworld) e Omega (PloProf) e que já faz parte de linhas regulares, como a Portofino (da IWC). Também começam a surgir como proposta de catálogo em marcas que dedicam particular atenção aos adereços, como a marca belga desportiva de nicho Raidillon — que tem uma alargada panóplia de correias feitas pela excelente empresa belga Lic mas que também oferece a bracelete milanaise em alternativa. ET_simb

Super KonTiki Limited Edition 1973 Foto Eterna
Super KonTiki Limited Edition 1973 | Foto: Eterna

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