Os relógios com indicação da hora mundial ou GMT deixam de lado os fusos horários com decalagem de 15, 30 ou 45 minutos em relação ao Tempo Universal Coordenado (UTC). Com exceção de alguns modelos, úteis para quem faz negócios em Katmandu e, sobretudo, em Deli.
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Por David Chokron
Artigo originalmente publicado no número 64 da Espiral do Tempo (edição de outono 2018)
Imagem de destaque: mapa que assinala todos os fusos horários.
Se o dia está dividido em 24 horas, é tentador pensar que a Terra tem o mesmo número de fusos horários. Mas, atualmente, existem 37. Assim, 13 fusos horários têm uma diferença de meia hora em relação à hora completa, como o Afeganistão (UTC + 4 h 30), ou mesmo de um quarto ou três quartos de hora, como acontece no Nepal (UTC + 6 h 45). Importa perceber que Waitangi (UTC + 12 h 45) não é uma zona de elevada atividade a ser seguida dia e noite, com receio de lá acordar os seus interlocutores em pleno sono. A única exceção é a dimensão: a Índia, com os seus, 1,3 mil milhões de habitantes, e o seu fuso horário único de UTC + 5 h 30. E como a relojoaria é uma área de inspiração científica, visa funcionar de forma sistemática e de representar a realidade e as suas convenções arbitrárias na totalidade.
Na totalidade
Designados por relógios com horas universais ou horas do mundo, os instrumentos do tempo que apresentam as horas de todos os lugares em simultâneo são forçados a fazer uma escolha cruel. Ao quererem abranger toda a Terra num só relance, fazem o seu melhor com mostradores de poucos centímetros quadrados. E se ler os 24 fusos horários já não está ao alcance de todos os olhos, querer representar em detalhe os 37 fusos não é, simplesmente, realista… a menos que se entre numa lógica gráfica, mais detalhada e de dois gumes. De facto, a Vacheron Constantin sacrificou a legibilidade no altar da exaustividade. Numa caixa Overseas ou Traditionnelle, o Calibre 2460 WT / 1 Horas do Mundo acompanha o funcionamento clássico das horas universais: um anel horário periférico graduado em 24 horas, onde o tempo se lê em coordenação com um anel adjacente, no qual são exibidas as cidades de referência. Mas, em vez de apenas 24, a Vacheron Constantin imprimiu 37 cidades. As 13 que não estão integradas nos fusos horários de hora completa são ligeiramente deslocadas, e encontram-se destacadas a amarelo no Overseas Heures du Monde, de mostrador castanho, um mostrador bem preenchido.
O outro lugar
O sistema-padrão de exibição dos relógios de tipo GMT, geralmente chamados de modelos de duplo fuso horário, concentra-se apenas nos fusos completos. A hora local e a hora remota têm, cada uma, um ponteiro distinto, mas o ponteiro dos minutos é comum aos dois fusos horários. O limite do exercício é atingido quando se trata de fazer negócios com Mumbai. Para ler as horas dos fusos intermediários, há duas soluções. A primeira consiste em integrar vários movimentos independentes numa única caixa, como o fazem a Glycine, a Jacob & Co ou a Meccaniche Veloci. Mas estes relógios apresentam dimensões significativas e, numa ótica purista relojoeira muito preocupada com a integração, acabam por revelar falta de elegância. A outra opção, com um único movimento e, portanto, com proporções razoáveis, conta em tudo e para as três marcas, que exibem vários fusos horários com os seus próprios minutos independentes. A Parmigiani introduziu, em 2011, o seu modelo Tonda Hemispheres. Apesar do que pode ser visto nas fotografias que a marca fornece, onde o fuso horário secundário exibe os mesmos minutos que o fuso horário principal, ao centro, os minutos são totalmente dessincronizados pela coroa. Mas devemos devolver a César o que a César pertence e reconhecer o papel pioneiro da Franck Muller e de um dos seus modelos fundadores, o Master Banker. Sem ser descontinuada desde 1996, esta família de relógios permite a leitura de três fusos horários — um, no centro, e dois, nos respetivos submostradores. Acertados pela coroa, são também precisos ao minuto.
Exceção na exceção
Mas a vasta problemática das horas do mundo não para por aqui. Cerca de 20% da população mundial está sujeita a uma mudança da hora a cada dois anos. A transição do horário de verão para o horário de inverno torna imprecisos, metade do tempo, uma boa parte dos mostradores universais. Até ao momento, apenas a Glashütte Original, com o seu Cosmopolite, resolveu o problema. A indicação do segundo fuso horário é acoplada, neste relógio, a um par de janelas. Na primeira, o fuso encontra-se na hora legal e, na segunda, na hora de inverno. Complementarmente, este relógio utiliza um minuto desviável de 15 em 15 minutos.
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