Monocromáticos durante o dia, luminosos à noite. Ou, noutra perspetiva, formais para uma reunião de negócios à tarde e prontos para uma ida à discoteca no serão. Durante a Dubai Watch Week escolhemos três relógios em que a luminescência assume grande importância: o da Bell & Ross e da Ressence são novidades absolutas, o da Doxa é menos recente — mas todos eles são brilhantes peças relojoeiras.
A história da luminescência na relojoaria é já secular e passou por etapas verdadeiramente dramáticas e até fatais (a utilização de Radium matou e desfigurou muita gente nos anos 1920…), mas desde a gradual substituição do trítio por matérias finalmente não radioativas como a Super-LumiNova no final dos anos 90 que tão importante setor da indústria relojoeira tem conhecido um acelerado desenvolvimento. Ao longo dos últimos anos têm-se visto mais soluções e cores do que nunca, em parte devido ao trabalho da TriTec — a empresa suíça detentora da marca Super-LumiNova — e também graças ao surgimento de diversas outras firmas que desenvolveram soluções alternativas para um problema que desde sempre acompanhou a relojoaria: a legibilidade em precárias condições de visibilidade.
Mas já não se trata apenas de uma questão funcional. A luminescência também pode ser utilizada para reforçar a estética e a personalidade de um relógio. E durante a Dubai Watch Week houve três relógios que estiveram em especial destaque nesse sentido. Dois deles foram estreias absolutas: a Bell & Ross escolheu o evento para efetuar o lançamento mundial do seu BR-X5 Green Lum com uma caixa totalmente luminescente e a Ressence introduziu o Type 1 DX3 em edição limitada para os Emirados Árabes Unidos com o mostrador parcialmente luminoso. O outro foi o relógio escolhido pelo CEO da Doxa, Jan Edocs, para brilhar no seu pulso ao longo da semana: o Sub 300 Carbon Whitepearl de mostrador aparentemente branco opalino que mais não é do que uma placa luminescente.
Bell & Ross BR-X5 Green Lum
Devido às suas origens assentes em tool watches e relógios de inspiração militar, a Bell & Ross sempre atribuiu extrema importância à legibilidade em precárias condições de luz — e a Espiral do Tempo chegou mesmo a marcar presença num épico jantar no topo da Torre Eiffel em que o tema principal era, precisamente, a luminescência. Vários dos modelos lançados nos últimos anos (desde 2017) têm apresentado mesmo a designação Lum na sua nomenclatura, visando explorar as diversas possibilidades oferecidas pela luminescência: o BR 03-92 Horolum, o BR 03-92 Nightlum, o BR 03-92 Full Lum, o BR 03-92 Grey Lum, o BR 03-92 Diver Full Lum, o BR V2-94 Full Lum e o BR V2-92 Full Lum! Pois bem, a marca de Bruno Belamich e Carlos Rosillo resolveu ir mais longe do que nunca na sua missão de iluminar a relojoaria e no terceiro dia da Dubai Watch Week apresentou o espetacular BR-X5 Green Lum.
E espetacular é mesmo o termo adequado para descrever o mais recente modelo da já popular linha BR-X5, a variante ‘radical’ da gama BR 05. Porque a caixa do BR-X5 Green Lum é esculpida no inovador material compósito LM3D. Até agora, o conceito de luminescência na relojoaria vinha sendo habitualmente aplicado aos ponteiros, algarismos, índices e mesmo mostradores; no novo relógio da Bell & Ross, é a caixa de 41 mm que brilha no escuro graças a uma matéria desenvolvida especialmente para a marca parisiense… tornando o BR-X5 num objeto de arte conceptual.
Desde o seu lançamento, em 2022, que a linha BR-X5 assumiu extrema importância na estratégia da Bell & Ross graças à sua faceta desportiva de prestígio e aos calibres especialmente elaborados pela manufatura Kenissi com 70 horas de reserva de corda e certificação cronométrica — pelo que o BR-X5 Green Lum passa não só a ser o ponta de lança da coleção pelo seu caráter único, mas também um caso muito especial no contexto da relojoaria global. E não é apenas pela luminescência ou estanqueidade até 100 metros: a caixa multicamadas, que alterna LM3D e titânio DLC preto microjateado de grau 2, é especialmente leve. A secção em titânio que alberga o movimento automático é inserida entre duas placas de material compósito fotoluminescente feito de fibras de quartzo que difundem uma poderosa luminescência verde.
No escuro, (quase) toda a caixa brilha, destacando-se igualmente as indicações do mostrador: horas, minutos, segundos, data e reserva de carga. O BR-X5 Green Lum está limitado a 500 exemplares e o preço anda à volta dos 13.900 euros.
Ressence Type 1 Round DX3
O Ressence Type 1 Round DX3 constitui o terceiro capítulo de uma série em edição limitada estabelecida em colaboração com a companhia representante da marca belga no Médio Oriente, a Ahmed Seddiqi & Sons. E se os dois modelos anteriores já eram espetaculares pela técnica (o sistema mecânico da Ressence é mesmo único) e pela estética (a inspiração nas cores locais proporciona um visual mesmo único), o novo Type 1 Round DX3 eleva a série colaborativa a um patamar ainda mais alto graças à solução luminescente utilizada para abrilhantar o mostrador.
A base do relógio assenta numa caixa em titânio do conhecido modelo Type 1, com 42,7mm de diâmetro e 11mm de espessura — e que alberga o inovador módulo ROCS assente num calibre ETA 2892 modificado. O mostrador torna o conjunto ainda mais interessante graças a um padrão inspirado na arte geométrica árabe (denominada Girih) com alternância de tonalidades castanhas e douradas que são mais escuras na periferia e claras no centro. E, quando o ambiente se torna mais escuro, o mostrador exalta todos os seus padrões geométricos de maneira luminescente.
O Type 1 Round DX3 passa a ser um dos mais desejados (senão mesmo o mais cobiçado!) relógios da revolucionária marca fundada por Benoît Mintiens e não vai ser fácil agarrar um: é mesmo uma edição local e está limitada a somente 35 exemplares. Ficou esgotada praticamente logo que saiu, para grande pena dos aficionados da Ressence e dos colecionadores globais. Agora, só no mercado pre-owned… se é que alguma vez um dos 35 donos vai querer desembaraçar-se de tão especial relógio. A título de referência, aqui fica o preço: 23.600 CHF mais taxas.
Doxa Sub 300 Carbon Whitepearl
Ao contrário dos dois anteriores relógios, o Sub 300 Carbon Whitepearl da Doxa não foi desvelado na Dubai Watch Week e não é uma edição limitada. Mas é igualmente cool e tem um preço mais acessível, pelo que acaba por ser um relógio especialmente atrativo para os aficionados em geral. Assenta numa caixa ultraleve em carbono, apresenta um mostrador fotoluminescente e é a reinterpretação de um modelo icónico da relojoaria — em especial da relojoaria de mergulho: o Sub 300.
Durante a Dubai Watch Week, a Doxa até lançou uma atraente edição limitada em parceria com o seu histórico distribuidor local Ahmed Seddiqi & Sons com um dos mais bonitos mostradores em madrepérola que já se viram (numa bela tonalidade azul muito uniforme) — mas dotada de uma luminescência ‘normal’. Já o Sub 300 Carbon Whitepearl que o CEO da marca, Jan Edocs, usou no pulso ao longo do evento adequa-se melhor à ‘seleção luminescente’ deste artigo.
O emblemático Sub 300 estava disponível no catálogo da Doxa com caixa em aço e as habituais seis cores da coleção (laranja, amarelo, azul, turquesa, preto, prateado) até que passou também a incluir uma variante com caixa em carbono com algumas dessas tonalidades tradicionais. O Sub 300 Carbon Whitepearl surgiu há um ano, sendo enganador no sentido em que o seu mostrador branco-pérola não é propriamente branco — é uma placa fotoluminescente que só se revela quando as condições de luz se tornam mais precárias. Ou seja, um relógio que veio modernizar um ícone de maneira brilhante. Sendo também muito confortável no pulso (as dimensões 42,5 por 13,4mm‘vestem’perfeitamente graças ao formato de asas curtas), tem esse acréscimo técnico da caixa em carbono de padrão mesclado e do mostrador luminescente, faz-se acompanhar do certificado de precisão COSC e o seu preço situa-se um pouco abaixo dos 4.000 euros.