Entre as décadas de 80 e 90, a Ebel foi uma das mais destacadas marcas relojoeiras do planeta e marcou uma geração com o Sport Classique. A sua coleção atual inclui versões muito interessantes desse icónico modelo e indica potencial para um regresso ao primeiro plano. Fomos experimentar uma das novas variantes: o Sport Classique 37mm Automatic Earth Brown.
Na história da relojoaria sempre se assistiu à flutuação da importância das marcas no mercado, com raras exceções e muitos casos em que algumas simplesmente desapareceram ou estão adormecidas à espera de recuperar o seu brilho de antanho. A Ebel não desapareceu nem entrou em hibernação — mas tem paulatinamente feito o seu caminho de regresso a uma visibilidade mais consentânea com a fama que teve entre o final da década de 70 e meados da década de 90, período durante o qual foi claramente uma das 10 melhores firmas relojoeiras do planeta (senão mesmo top 5) e o Sport Classic o cool watch que todos desejavam ter.

Desenhado em 1977 por Eddy Schopfer (designer que se destacou também ao serviço de outras marcas, como a TAG Heuer), o Sport Classique — também conhecido pela nomenclatura inglesa Sport Classic — surgiu na linhagem do relógio-bracelete com design integrado que caraterizou os anos 70. Caraterizava-se sobretudo por uma caixa com a luneta redonda fixa por cinco parafusos sobre uma estrutura de geometria singular, mostrador redondo com algarismos romanos e uma bracelete metálica articulada com ondas. Foi o relógio que colocou a Ebel nos píncaros numa era em que as novas gerações consideravam as marcas históricas como sendo demasiado tradicionais e escolhiam mesmo o Sport Classique em vez do Royal Oak da Audemars Piguet ou o Nautilus da Patek Philippe, modelos consagrados que se incluíam na mesma categoria sport chic.

O Sport Classique rapidamente se tornou no relógio cool das vedetas e dos desportistas de eleição, com a Ebel a ganhar especial notoriedade em meios desportivos de prestígio como o ténis, o golfe e a Fórmula 1. No caso do ténis, foi mesmo official timekeeper de grandes torneios (de Roland Garros a Monte-Carlo) e patrocinou grandes campeões como Boris Becker, Stefan Edberg, Yannick Noah, Andre Agassi ou Gabriela Sabatini. E Boris Becker tornou-se, há precisamente 40 anos, no mais jovem campeão de Wimbledon ao triunfar na edição de 1985 com um Sport Classique no pulso. Se na última década e meia pareceu estranho ver jogadores a atuar de relógio no pulso (começando por Rafael Nadal até aos vários que o fazem hoje em dia), na década de 70 e sobretudo na de 80 era mais comum isso acontecer. Até porque, na altura, muitas das melhores marcas mundiais tinham sucumbido à precisão do quartzo e esse tipo de relógios não era tão vulnerável ao impacto como as variantes mecânicas.

Boris Becker surpreendeu o mundo e ganhou Wimbledon aos 17 anos com o seu serviço-canhão e mergulhos à rede, ganhando o cognome de ‘Boum Boum’ pela sua potência. No pulso, ostenteu um Sport Classique de 36mm com movimento de quartzo e bracelete metálica. Anos depois, Stefan Edberg também ganhou na Catedral do Ténis com um Ebel no pulso (no caso do sueco, um 1911, modelo um pouco mais volumoso e com bracelete de três elos). E, no 40º aniversário do inesquecível triunfo do germânico na relva do Centre Court, fomos experimentar um digno sucessor do seu Sport Classique — o novo Sport Classique ‘Earth Brown’ de 37mm com movimento de corda automática.
Clássico com contexto
O test drive com o Sport Classique assume particular importância pessoal porque foi o meu primeiro relógio ‘aspiracional’ (esquecendo o Casio com calculadora do liceu…), já que na altura a Ebel estava nos calcanhares da Rolex e tinha forte presença no meu mundo do ténis. Foi o modelo que me fez interessar pela fina relojoaria, a par dos Reversos da Jaeger-LeCoultre que via na montra de uma relojoaria na minha Coimbra natal. E convém sublinhar que é mesmo um dos grandes ícones do design integrado, demarcando-se claramente dos outros (Royal Oak, Nautilus, Ingenieur, Laureato, 222/Overseas, Constellation, Polo) pela sua originalidade, embora hoje em dia raramente vem à baila. Este artigo também tem o intuito de recordar a importância que teve e a importância que ainda pode ter, num contexto atual em que o design integrado se mantém popular e a Gen Z aprecia particularmente relógios-bracelete mais pequenos/finos.

Na verdade, o design do Sport Classique, mesmo sendo típico do final dos anos 70/anos 80, não é verdadeiramente integrado: a estrutura tem asas tradicionais, embora curtas, e Andre Agassi até o usou com uma correia azul de pele de tubarão (uma opção típica da Ebel) personalizada com corações vermelhos. Mas a bracelete foi concebida para ser o prolongamento ideal para a caixa com as suas ranhuras onduladas e facilmente se pode integrar o relógio na categoria do design integrado. A bracelete é mesmo notável e prima pela singularidade estética, tendo mesmo inspirado a bracelete do Streamliner da H. Moser & Cia. E junta a forma à função, tendo em conta que as ranhuras onduladas representam também a ligação entre os elos.

Quanto à caixa, é particularmente fina na sua arquitetura — parecendo e sentindo-se no pulso ainda mais fina do que os 8mm de espessura que tem. O movimento automático utilizado é um Sellita SW 300-1, um movimento particularmente delgado similar ao ETA 2892A2 mas com mais quatro rubis (25); apresenta carregamento bidirecional e rodagem aperfeiçoada (na parte dos dentes) relativamente ao SW300. Pode ser visto com massa oscilante personalizada através do fundo transparente em vidro de safira. O diâmetro de 37mm, lançado há dois anos, está atualmente disponível em várias versões automáticas em aço (o Earth Brown que usámos no test drive, mais o Mint Blue e o Green Galvanic de mostrador similar; azul e preto com centro contrastante) e de quartzo em aço/ouro (incluindo variantes joalheiras e com mostrador de madrepérola).

O diâmetro satisfaz a tendência atual para tamanhos mais contidos e assume um perfil unissexo, já que também pode servir pulsos femininos. O Sport Classique 37mm Automatic Earth Brown apresenta um mostrador galvânico de acabamento raiado cuja tonalidade varia entre a tonalidade creme e o tom prateado, consoante a incidência ou as condições de luz. Qualquer dos três modelos — a par do Mint Blue e do Green Galvanic — é um digno sucessor do histórico modelo usado por Boris Becker há 40 anos, se bem que exista uma versão bicolor aço/ouro com movimento de quartzo e mostrador branco ainda mais fiel. O Sport Classique está também disponível em diâmetros de 40mm, 33mm e 29mm — com os tamanhos mais pequenos a incluírem mostradores de pedras semipreciosa e mesmo uma variante totalmente em ouro, para além de edições femininas em edição limitada especialmente dedicadas ao ténis no contexto do patrocínio do torneio WTA de Bad Homburg.
Catálogo e Cronógrafos
O resto do catálogo atual da Ebel inclui linhas emblemáticas do período áureo da marca, como a 1911 (de caixa parecida com a do Sport Classique mas ligeiramente mais robusta e com bracelete de três elos) e a variação 1911 Globe (antigamente designada Voyager), a Wave (que sublinha ainda mais a ondulação da bracelete) e a variação Sportwave, a Voyager e mesmo a Brasilia (de caixa retangular). E recentemente surgiram também versões cronográficas do 1911 que merecem relevo e remetem para o papel fundamental que a marca teve no renascimento dos cronógrafos mecânicos no início da década de 80. Porque a Ebel foi mesmo a primeira, antes da Rolex, a contactar a Zenith para recuperar o seu calibre El Primero. E o Sport Classique Chronosport com movimento El Primeiro foi o primeiro grail watch de… Max Büsser.

«Nos anos 80, a Ebel era o paradigma do cool. Pierre-Alain Blum fez um trabalho incrível ao relançar a marca, enquanto a Rolex ainda mantinha aquela atitude do relógio de bracelete em ouro que não interessava aos mais jovens. Ainda por cima a Ebel acertou na mouche com a campanha ‘Architects of Time’. Até o Don Johnson usava um cronógrafo Ebel na série Miami Vice!», conta Max Büsser. «Em 1989, quando estava a fazer o serviço militar, tive um terrível acidente de jipe e fui cuspido a 50 km/h, caindo sobre as minhas costas. Nem sei como não morri. Saí do hospital seis semanas depois e ainda com gesso, mas fui diretamente à relojoaria gastar todo o meu dinheiro para comprar o cronógrafo Ebel e celebrar o facto de ainda estar vivo. Não só achava o design lindo, e adorava aquelas curvas, mas também tinha o calibre El Primero da Zenith».

Como recorda Max Büsser, Pierre-Alain Blum era então o líder da Ebel e uma espécie de Jean-Claude Biver antes de Jean-Claude Biver; a genial campanha de publicidade ‘Arquitetos do Tempo’ capturou o imaginário da clientela e o investimento nos chamados desportos de prestígio fez com que a Ebel se alcandorasse ao topo, mordendo então os calcanhares da Rolex e vendendo movimentos à Cartier numa era dominada pelo quartzo. Para além de Don Johnson, outras grandes vedetas planetárias da altura eram embaixadores Ebel, como Harrison Ford e Madonna; Giselle Bundchen apadrinhou mesmo o lançamento da linha feminina Brasilia e a emblemática Maison Ebel era constantemente visitada por estrelas.

Diz-se que Pierre-Alain Blum ganhou tanto dinheiro na relojoaria que investiu muito noutras áreas que não dominava bem e depois foi forçado a vender a Ebel à Investcorp, que depois a vendeu ao grupo LVMH, que a vendeu ao grupo MHG… perdendo relevância e identidade no processo. Faz atualmente parte do grupo MGI e, sob a batuta do atual CEO Flavio Pellegrini, procura recuperar lustro — regressando também ao ténis com o patrocínio de alguns torneios do WTA Tour e o lançamento de mais modelos masculinos. Pelo papel que assumiu enquanto líder das marcas suíças de prestígio perante a avalanche do quartzo japonês que invadiu o mercado ocidental, não há dúvida de que a Ebel merece um protagonismo bem maior.
As nossas impressões
Num contexto em que o design integrado se tornou na grande tendência da relojoaria contemporânea, a Ebel tem toda a legitimidade histórica para se destacar. E o Sport Classique é um excelente veículo para a sua reafirmação, até porque é bem diferente da maior parte dos relógios integrados que se vêm no mercado. E é um melhor exemplo da categoria sport chic do que a grande maioria da concorrência, tendo em conta as suas proporções mais elegantes — especialmente na versão de 37mm, com os seus 8,63mm de espessura.

Trata-se de um relógio-bracelete muito confortável que facilmente desliza para dentro da manga da camisa ou do blazer, ao contrário de exemplares mais volumosos da concorrência. Talvez um novo diâmetro de 38,5mm (entre os existentes 37 e 40mm) pudesse ter lugar no catálogo, já que em relojoaria qualquer milímetro faz uma grande diferença. Outra sugestão é a adoção de mais mostradores de acabamento mais mate e menos sunburst para as versões automáticas (os mostradores mate estão mais confinados aos modelos de quartzo nas linhas Sport Classique e 1911).

Mas uma coisa é certa: colocar o Sport Classique 37mm Automatic Earth Brown no pulso foi, para mim, um blast from the past — e o facto de o ter testado em ambiente tenístico acabou por reforçar essa nostalgia, tendo tirado fotografias com colegas da imprensa que também tinham Ebel no pulso. O preço de 2.950 euros (o mesmo das versões Green Galvanic e Mint Blue) é um bom posicionamento, considerando a qualidade e toda a herança/história por trás dele: tempos houve em que um Ebel era mais caro do que o seu equivalente na Rolex (como era o caso do Chronosport com El Primeiro comparativamente ao Daytona El Primero). Ficamos à espera de novas propostas de mostrador nos tamanhos de 37 e 40mm e ainda de uma versão cronográfica de 40mm a juntar à já existente de 44mm na coleção 1911.
Algumas caraterísticas técnicas:
Ebel
Sport Classique 37mm Automatic Earth Brown
Referência | 1216652
Ano de lançamento | 2025
Movimento | Mecânico de corda automática, Calibre Sellita SW 300-1, 25 rubis, 28.800 alt/h (4 Hz), 42 horas de reserva de carga, mudança rápida da data.
Funções | Horas, minutos, segundos e data.
Caixa Ø 37 mm | Aço. 8,63 mm de espessura. Estanque até 50 metros. Acabamentos polidos e acetinados. Vidro de safira antirreflexos na frente e no fundo.
Mostrador | Em tom castanho muito claro com tratamento galvânico e suave efeito sunburst radial; algarismos romanos aplicados com acabamento rodinado; escala dos minutos e grafismo pintado a negro; ponteiros rodinados das horas, minutos e segundos.
Bracelete | Metálica de acabamento escovado com elos ondulados polidos e fecho de báscula.
Preço | 2.950 euros
Para mais informações, visite o site oficial da Ebel (link externo).