Depois de Eric Giroud e de Emmanuel Gueit, destacamos esta semana o perfil de Jorg Hysek, o grande veterano dos designers relojoeiros ainda em atividade. Lembramos que, na sequência da última edição da revista dedicada ao mundo do Design, a Espiral do Tempo tem vindo a apresentar alguns dos protagonistas da relojoaria que dão rosto ao tempo.
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Com o desaparecimento do idolatrado Gerald Genta e a reforma de Eddy Schöpfer, Jorg Hysek — Jorg Hysek Sr, porque já há um Jorg Hysek Jr na relojoaria! — passou a ser o único grande veterano dos designers relojoeiros ainda em atividade.
A mais recente colaboração do velho mestre suíço trouxe de novo o seu nome à baila num grande eveno relojeiro: participou numa pièce unique desvelada pela De Bethune durante a Dubai Watch Week — a Dream Machine Nº6, um extrardinário relógio de mesa onde se nota a influência das emblemáticas Colonnes du Temps que Jorg Hysek tem idealizado nos últimos anos.
Nascido em 1953 em Berlim, a viver na Suíça desde 1960 e tendo estudado na London Academy of Art, Jorg Hysek começou por se focar na escultura e na pintura mas rapidamente se dedicou aos relógios. Criou alguns ícones da década de 70, como o 222 da Vacheron Constantin (o modelo em edição limitada que mais tarde inspiraria o Overseas e para muitos o melhor design integrado daqueles tempos). Desenhou o Marine para dotar a Breguet de um modelo mais forte, desportivo e contemporâneo; assinou peças para a Tiffany & Co e Ebel. Também ficou famoso pelo Kirium, que reforçou a imagem de estética de ponta da TAG Heuer em 1997, e pelo revolucionário Seiko Arctura. Dois relógios dotados do chamado design integrado que fez escola na década de 70 e que contempla tantos ícones da relojoaria.
«O design integrado veio automaticamente com a aparição dos designers na relojoaria entre as décadas de 60 e 70. Como designers, idealizavam o conjunto, não uma caixa por um lado e a bracelete por outro. Claro que antes já havia design integrado, mas era um conjunto mal acabado e a integração era imperfeita», recorda Jorg Hysek. «Os designers passaram a fconceber os relógios completos, em vez de serem os fornecedores de mostradores ou de caixas — que antes desenhavam os seus próprios componentes e os apresentavam às marcas para que escolhessem.» A década de 70 foi muito marcante. «Na altura, a grande novidade foi a ideia de que o aço podia ser tratado como material de luxo. O Royal Oak foi marcante, o Nautilus não tinha na altura o sucesso que tem agora. A Ebel mudou muito a imagem da relojoaria com o Sport Classic desenhado por Eddy Schöpfer.»
Jorg Hysek lançou a marca Hysek e depois fundou a HD3 Complications com os seus discípulos Valérie Ursenbacher e Fabrice Gonet para peças vanguardistas mais conceptuais. Hoje em dia, a relojoaria tradicional e conceptual de pulso ficaram para trás — apesar de nunca perder de vista o que se vai passando. Até porque, para além do filho Kim que trabalha consigo, Jorg Jr também trabalha na relojoaria, estando ligado à excelente De Bethune e tendo lançado a marca L&JR com Lionel Ladoire).
A atividade de Jorg Hysek está atualmente mais centrada na escultura — embora não tenha deixado totalmente a relojoaria, porque tem investido ultimamente nessas autênticas esculturas relojoeiras que são os La Toupie (uma espécie de piões com relógio) e as Colunas do Tempo.
Perfil originalmente publicado no número 69 da Espiral do Tempo (inverno 2019).
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