Fernando Martins: a navegar, navegar (a propósito do projeto ‘Mar Portuguez’)

Edição impressa | A coleção de conservas ‘Mar Portuguez’ é já um objeto de culto. Esta iniciativa, sob a chancela da editora A Bela e o Monstro, tornou-se uma verdadeira parceria gastronómica, estética e cultural com várias entidades envolvidas e que presta homenagem à ligação de Portugal com o mar. Fernando Martins animou o projeto com as suas ilustrações.

A criação da marca ‘Mar Portuguez’ pela editora A Bela e o Monstro teve como objetivo reunir, sob essa designação, um conjunto de conteúdos e iniciativas ligadas a Portugal e à sua relação com o mar. A primeira dessas iniciativas foi o lançamento de uma coleção de conservas de chef. Segundo Maria João Ribeiro, de A Bela e o Monstro, todo este projeto motivou uma saída da habitual zona de conforto da editora que estava mais focada nas edições em papel. Os Azeites Casa Anadia e as conserveiras nacionais A Poveira e La Gondola foram os parceiros escolhidos para o desafio – 14 chefs, 14 peixes diferentes em 14 receitas especialmente desenvolvidas para esta edição. Admitimos que os olhos foram os primeiros a comer e o que nos chamou de imediato a atenção foram as maravilhosas ilustrações criadas para cada lata de conserva por Fernando Martins, com direção de arte de Maria João Ribeiro (aka Bloodymary). Em terras de sua majestade, onde vive há três anos e meio, descobrimos o artista gráfico, com quem conversámos um pouco acerca da sua inspiração para este projeto. Ficámos também a saber que, ‘relojoeiramente’, o seu pulso navega por mares nipónicos na fiel companhia do seu Casio G-Shock. Lançada num primeiro momento com o jornal Público a coleção está agora disponível em vários pontos de venda.

Ilustração para a conserva de Filetes de Chaputa, à esquerda e Bacalhau à direita.
Ilustração para a conserva de Filetes de Chaputa, à esquerda e Bacalhau à direita.

De onde te veio a inspiração para as ilustrações do ‘Mar Portuguez’?
Apesar de digital e em duas dimensões, graficamente veio-me à cabeça, no processo de criação, um registo próximo ao da animação de volumes das primeiras animações do Tim Burton – figuras distorcidas e um pouco desproporcionadas – e do cinema de Leste muito mais antigo, como o extraordinário The Mascot do Wladyslaw Starewicz. Depois, acho que também existe uma ligação ao universo das pin-up e das tattoos.

Sabes que mesmo as conservas ‘modernas’ recorrem sempre a uma estética vintage, de tradição. Tu, pelo contrário, trouxeste a coisa para o século XXI. Foi consciente esse upgrade estético, em relação ao que habitualmente se vê neste tipo de suporte – latas de conserva?
É engraçado que perguntes isso, pois, na verdade, quis usar uma estética mais vintage, nas roupas, penteados e cores. No entanto, tecnicamente, é tudo produzido digitalmente no Photoshop, misturando elementos fotográficos com ilustração. Talvez seja isso que fuja um bocado do registo mais usual nas conservas, das ilustrações mais realistas e com menos riqueza cromática. Além disso, em alguns temas, há um certo humor que difere, de alguma forma, da austeridade visual daquele universo.

Ilustração para a conserva de Biqueirão à esquerda e Filetes de Carapau, à direita.
Ilustração para a conserva de Biqueirão à esquerda e Filetes de Carapau, à direita.

Chegaste a provar alguma das receitas do ‘Mar Portuguez’?
Incrivelmente ainda não. Esqueci-me da coleção em Lisboa…

Que tipo de serviços gráficos prestas? Ou seja, as pessoas podem recorrer a ti em que situações?
Profissionalmente, sou freelancer, pós-produtor fotográfico (que aqui se chama photo retoucher) e ilustrador. Sou também fotógrafo e, nesta área, dedico-me mais a projetos pessoais, embora, talvez em breve comece também a dedicar-me à fotografia a um nível mais profissional.

Que ferramentas usas no teu trabalho? Digitais ou não, claro.
Uso quase exclusivamente o Adobe Photoshop, embora tenha recentemente começado a explorar o Cinema 4D.

Usas relógio ‘por usar’, ou usa-lo como tool watch? Dás-lhe alguma aplicação prática que vai além do ver as horas?
À parte de ver as horas, uso o cronómetro para correr, nadar ou contar os tempos enquanto cozinho.

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Fernando Martins
PAIXÃO NIPÓNICA: o pulso de Fernando Martins é fiel ao seu Casio G-Shock GW9100-1, uma ferramenta que usa diariamente em diferentes contextos. Fotos de Fernando Martins por © Filipa Colaço.
Logo a Bela e o Monstro.
A BELA E O MONSTRO:  ‘Fazer da edição um ato de partilha e paixão’ é o lema desta editora criada há 16 anos por Maria João Ribeiro e João Pinto de Sousa. Além do amor ao papel, o âmbito dos trabalhos realizados leva a novos caminhos, à descoberta de novos suportes e maneiras de comunicar. MORADA: Rua Nova do Almada, N.24, 3º esq. – Lisboa. Telefone: 21 887 0513

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A coleção completa Mar Portuguez.
A coleção completa Mar Portuguez: 14 CHEFS, 14 PEIXES Henrique Sá Pessoa | Peixe Agulha Pedro Pena Bastos | Polvo Ivan Fernandes | Mexilhão Bertílio Gomes | Peixe-Espada Nuno Bergonse | Lulas Tiago Feio | Bacalhau Henrique Mouro | Carapaus Kiko Martins | Chaputa Ana Moura | Salmão Óscar Gonçalves | Truta João Rodrigues | Sardinhas Patrícia Borges | Cavalas Vítor Matos | Atum Marlene Vieira | Biqueirão

Nota da redação: Por lapso omitimos o nome de João Pinto de Sousa como fundador da editora A Bela e o Monstro na edição impressa da Espiral do Tempo (número 63/ edição de verão 2018). Pelo facto pedimos as nossas sinceras desculpas.

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