Escudo: de Inglaterra com iconografia lusa

Nascida em Inglaterra, inspirada em Portugal e alimentada por calibres suíços: a jovem marca independente Escudo investe declaradamente na simbologia lusa, bem patente na sua primeira linha Ocean Seacrest. Entretanto, há mais novidades no horizonte…

Tem-se dito que Portugal está na moda… e a crescente adesão turística parece confirmar isso. Mas uma coisa é um destino turístico com bom boa meteorologia, boas praias, boa gastronomia e boa gente. Outra coisa é a conquista de espaço próprio no muito complexo universo relojoeiro de prestígio, esmagadoramente dominado por marcas de grande tradição e pelo Swiss Made. O advento de plataformas de financiamento como o Kickstarter e a popularização das chamadas micromarcas junto de um público mais conhecedor vieram alterar um pouco o cenário, sem esquecer os múltiplos projetos relojoeiros saídos do confinamento. Como a Escudo, marca sedeada em Inglaterra que nasceu durante a pandemia.

Escudo Ocean Seacrest
O Ocean Seacrest Chocolate apresenta tons quentes e combina o aço com o bronze | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Historicamente, a Inglaterra roubou o domínio dos mares a Portugal e à Espanha graças à capacidade de navegar em mar alto com a ajuda de precisos cronómetros de marinha que permitiram aos navios de Sua Majestade resolver o problema do cálculo da longitude. Os desenvolvimentos de John Harrison foram cruciais para a evolução da própria relojoaria no século XVIII. Agora, no século XXI, surge uma marca inglesa que presta homenagem à portugalidade e à tradição marítima de ambos os países — que este ano celebram o 650º aniversário da mais antiga aliança do mundo.

Escudo Ocean Seacrest na Torre de Belém
O Ocean Seacrest Preto e a saga dos Descobrimentos Portugueses | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Escudo Ocean Seacrest com mostrador preto
Ocean Seacrest Preto com correia em couro pespontado | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Percebe-se porque é que a recém-fundada Escudo é a marca que mais investe na iconografia portuguesa e no imaginário nacional, começando logo no nome. Foi fundada em Liverpool pelo luso-descendente Simon Correia e pelo amigo britânico Richard Johnson, casado com uma portuguesa e atualmente residente em Cascais. «Portugal está sub-representado como fabricante de relógios de prestígio e tendo em conta o alcance global da influência portuguesa, devido aos laços históricos com tantas partes do mundo», afirma Simon Correia. «Sempre adorámos relógios e não houve uma decisão consciente de criar uma marca até que o Covid criou um hiato que nos deu a oportunidade de começar», diz Richard Johnson.

Fundo e caixa do Escudo Ocean Seacrest onde se observa o rotor com as cores portuguesas
A massa oscilante do movimento automático suíço evoca a bandeira portuguesa | © Escudo
Richard Johnson e Simon Correia, os fundadores | © Escudo

O arranque foi dado através do Ocean Seacrest, um tool watch de 39mm inspirado nos clássicos relógios de mergulho e que exibe múltiplos elementos de design inspirados não só na iconografia lusa, mas também na epopeia dos Descobrimentos. O modelo inaugural da Escudo está declinado em seis variantes numeradas (de 001 a 300) que constituem a primeira linha da coleção, entre modelos de aço e de aço com toques de bronze: Silver Inox e Silver Rose de mostrador opalino, Preto e Preto e Bronze com mostrador negro, Chocolate Bronze com mostrador negro e Azul com mostrador azul. Até a designação de alguns modelos recorre a terminologia portuguesa…

Escudo Ocean Seacrest com mostrador azul em Cascais
O Ocean Seacrest Azul em Cascais | © Miguel Seabra / Espiral do Tempo

Para além disso, o ponto de referência na luneta tem as cores lusas, o mostrador inclui as pontas da rosa dos ventos tão associada aos Descobrimentos, a coroa de rosca ostenta a Cruz de Cristo desenhada na ponta em esmalte, o fundo da caixa também apresenta a Cruz de Cristo gravada em relevo e — porventura um detalhe inédito! — o vidro de safira tem um logo holográfico que surge quando exposto ao vapor ou quando é bafejado. Lá dentro, embora não estando visível, a massa oscilante do movimento automático suíço (o Calibre 1488, baseado no SW200-1 da Sellita com 38 horas de reserva de carga) também evoca a bandeira portuguesa.

Escudo Ocean Seacrest com mostrador branco
O Ocean Seacrest Silver apresenta uma luneta polida que acentua o caráter prateado do relógio | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

A própria embalagem é evocativa dos Descobrimentos, dos mapas antigos e das cores da bandeira Portuguesa. Inclui uma bolsa, uma ferramenta para troca de correia/bracelete e uma bracelete suplementar Tropic em borracha para complementar a grossa correia em couro feita na Escócia. A Escudo também dispõe de braceletes single pass tipo NATO com fivela ajustável ao comprimento a condizer com cada um dos modelos.

Escudo Ocean Seacrest junto ao símbolo do escudo nacional no Padrão dos Descobrimentos
Simbologia lusitana com a Cruz de Cristo em destaque no fundo | © Paulo Pires / Espiral do Tempo
Escudo Ocean Seacrest no pulso junto ao Padrão dos Descobrimentos
À descoberta: o Ocean Seacrest Silver | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O Ocean Seacrest apresenta a tão reconhecível tipologia dos relógios clássicos de mergulho popularizada pelo Rolex Submariner, mas com um cheirinho vintage mais próximo dos Tudor Black Bay. A sua robusta estrutura assegura estanqueidade até 200 metros e a luneta rotativa unidirecional (de 60 cliques) facilita os cálculos de permanência debaixo de água. Tanto os marcadores em relevo da luneta como os indexes do mostrador estão carregados com Super-LumiNova C1 de grande luminescência.

Escudo Ocean Seacrest em tons castanhos
Tanto o Ocean Seacrest Chocolate como os restantes modelos fazem-se acompanhar de uma correia em pele e uma bracelete Tropic em cauchu | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

A robusta construção (39mm de diâmetro por 12,8mm de espessura) em aço 316L com acabamento alternadamente polido e escovado faz-se acompanhar de um espesso vidro em safira com tratamento anti-reflexo de ambos os lados. A coroa apresenta um ‘pescoço’ que não é muito usual, aproximando estilisticamente os Ocean Seacrest dos modelos Black Bay da Tudor. A luneta dos modelos Preto, Chocolate e Azul é mate, ao passo que nas variantes Silver e Silver Rose é polida. Nas variantes bimetálicas, o bronze surge na base da luneta e na coroa — um bronze com tratamento que o impede de patinar excessivamente e ganhar verdete.

Escudo Ocean Seacrest
O acabamento polido lateral da caixa e o ponto referencial da luneta com as cores portuguesas | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

E qual é o próximo passo da Escudo? Para já, uma bracelete em aço para os Ocean Seacrest. Mas não só: «Devido à incrível reação à nossa marca, estamos para já em modo reativo e não pró-ativo; mas estamos já a trabalhar num modelo GMT e seguir-se-á um cronógrafo de forma a povoar os vários segmentos do mercado em que queremos estar representados», prometem Simon e Richard. A marca anglo-portuguesa tem também o apoio de José Fonte, o internacional português que emparceirou com Pepe no centro da defesa da seleção nacional que se sagrou campeã europeia em 2016. E futuramente poderá ter fornecedores portugueses de componentes e até estabelecer um polo de assemblagem em Portugal.

Conjunto Escudo Ocean Seacrest
Estojo, garantia (de quatro anos!) e respetiva ferramenta de troca de braceletes que acompanham o relógio | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Após a já conhecida Isotope, fundada pelo portuense José Mendes Miranda em Londres há oito anos, a Escudo é a segunda micromarca de conotação lusa vinda de terras de Sua Majestade. A par de algumas iniciativas nacionais (como a Borealis, a Meia-Lua, a Exímio e a Contar, a par das edições do Museu do Relógio), promete lutar por um espaço na coleção dos aficionados portugueses. E não há dúvida de que se trata de um interessante projeto.

Escudo Ocean Seacrest
Pormenor da Cruz de Cristo na coroa e os indexes do mostrador evocativos da rosa-dos-ventos | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

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