Chopard: eternidade a três vozes

Depois da comemoração das bodas de prata da sua manufatura de alta-relojoaria em 2021, a Chopard celebra, este ano, o 25.º aniversário da coleção L.U.C — e fá-lo com uma trilogia de luxo, que contou com a afinação de dois virtuosos músicos. Tal como um violino ou um violoncelo, o L.U.C Full Strike Tourbillon, o L.U.C Full Strike Sapphire e o L.U.C Strike One dão um timbre alternativo mais emocional ao tempo.


Artigo originalmente publicado no número 78 da Espiral do Tempo (primavera 2022) 


Em 2018, Karl-Friedrich Scheufele assistiu a um marcante concerto no festival Sommets Musicaux de Gstaad. A paixão com que o consagrado violinista Renaud Capuçon se exibiu levou o copresidente da Chopard a repensar os seus relógios dotados de complicações sonoras, de modo a que deixassem transparecer ainda melhor aquilo que tão bem transmitem os instrumentos musicais: emoção. E foi a partir daí que germinou a ideia de um trio acústico que pudesse comemorar de maneira superlativa as bodas de prata da coleção L.U.C, a linha de alta-relojoaria batizada em honra do fundador Louis-Ulysse Chopard.

As três novas complicações acústicas da Chopard: o L.U.C Full Strike Tourbillon, L.U.C Full Strike Sapphire e o L.U.C Strike One.
As três novas complicações acústicas da Chopard: o L.U.C Full Strike Tourbillon, L.U.C Full Strike Sapphire e o L.U.C Strike One | © Chopard

Renaud Capuçon é um violinista de exceção e o seu irmão, Gautier Capuçon, é um virtuoso do violoncelo; Renaud toca com um violino Guarneri que data de 1737, ao passo que Gautier Capuçon usa um violoncelo de Matteo Goffriller da mesma época — dois preciosos instrumentos cuja perfeição ultrapassou o teste do tempo. Mas os irmãos franceses são também especialistas na área do som e da acústica. A relação de amizade com Karl-Friedrich Scheufele conduziu a um projeto melómano que não só assentou na sensibilidade artística dos consagrados músicos, como também teve o contributo do professor Romain Boulandet. O diretor do Laboratório de Acústicas Aplicadas da escola de engenharia genebrina HEPIA acabou por funcionar como chefe de orquestra, inventando um programa analítico que vai além dos critérios meramente mesuráveis (intensidade do som, riqueza tonal, nível de amortecimento etc.) para abraçar uma outra vertente: a do som percebido por quem escuta. Resultado: um timbre mais puro, demorado e harmonioso do que o que é proporcionado pelos gongos metálicos tradicionais.

Renaud Capuçon, Karl-Friedrich Scheufele e Gautier Capuçon.
Renaud Capuçon, Karl-Friedrich Scheufele e Gautier Capuçon | © Chopard

«O Renaud Capuçon já tinha tocado no evento de apresentação do Full Strike em 2017 e mantivemos contacto com ele e o irmão desde então», confidenciou-nos Karl-Friedrich Scheufele. A missão atribuída aos músicos foi a de escolher e ‘afinar’ a melhor tonalidade entre as que podem ser proporcionadas pela tecnologia assente na combinação de vidro de safira com gongo de safira integrado que é patenteada pela Chopard. «Perguntei-lhes se estavam interessados em afinar o som num plano mais emocional, que não pode ser objetivamente medido. E eles aceitaram. Têm uma sensibilidade extremamente apurada que nós não temos — não conseguimos escutar as nuances de som que eles ouvem».

Karl-Friedrich Scheufele coloca as complicações acústicas num mundo à parte. «Classifico as complicações acústicas fora das tradicionais complexidades relojoeiras porque têm a dimensão acrescentada do som. Nos relógios, tudo está habitualmente visível de uma maneira ou de outra, mostrado por algum ponteiro ou dispositivo. Com o som, entramos noutra esfera ainda mais fascinante». Daí a escolha da trilogia comemorativa das bodas de prata: «O nosso maior feito no desenvolvimento de movimentos e complicações foi seguramente o Full Strike. Tínhamos duas ideias a fermentar à volta dele, o de ir mais longe na utilização da safira e a associação a um turbilhão. Decidimos usá-las para o 25.º aniversário no Full Strike Sapphire e no Full Strike Tourbillon. E acrescentámos um Strike One atualizado com o novo gongo em safira, para mostrar a grande diferença relativamente ao Strike One inaugural de 2006».

Perenidade e eternidade

A história da Chopard na dimensão sonora arrancou precisamente com o L.U.C Strike One, de corda automática e microrrotor, que proporciona um discreto sinal horário à passagem de cada hora. Uma década depois, a marca genebrina elevou consideravelmente o tom com o lançamento do L.U.C Full Strike — um repetidor de minutos que se faz ouvir de maneira completamente distinta dos seus congéneres e que ganhou a Aiguille d’Or, o prémio principal destinado ao melhor de todos os relógios finalistas do Grand Prix d’Horlogerie de Genève. O advento do Full Strike concitou 17.000 horas de pesquisa e desenvolvimento ao longo de seis anos, sendo o seu inovador sistema acústico protegido por quatro patentes.

Pela primeira vez, o mecanismo patenteado Full Strike surge associado a outra complicação no L.U.C Full Strike Tourbillon.
Pela primeira vez, o mecanismo patenteado Full Strike surge associado a outra complicação no L.U.C Full Strike Tourbillon | © Chopard

A função designada por repetição de minutos é uma complicação relojoeira clássica que faz com que, ao puxar-se uma alavanca ou um botão, o relógio faça soar as horas, os quartos de hora e os minutos (geralmente em dois gongos). O problema dos sistemas acústicos tradicionais baseados em mecanismos de aço, latão ou ouro prende-se com o facto de os metais se alterarem consoante o tempo e as circunstâncias — e também podem sofrer lentas deformações com o passar dos anos, como sucede nas peças de qualquer movimento relojoeiro. No entanto, uma obra-prima deve ser sempre concebida para a eternidade; não só pelo elevado custo que lhe está subjacente, mas também porque a sua inerente complexidade merece durar para sempre.

No caso específico das complicações acústicas, manter a afinação ao longo do tempo é sempre um problema — mas os gongos de safira são inalteráveis porque não se deformam, envelhecem ou dilatam com o calor. Tocam sempre os mesmos tons F e C, fazendo com que o som permaneça igual… embora com um ‘colorido’ especial consoante o material da caixa. Entre 2017 e 2021, a Chopard lançou edições limitadas do L.U.C Full Strike em ouro rosa, ouro branco, platina e aço.

Gongos e martelos

Este ano, a inovação no plano mecânico é o L.U.C Full Strike Tourbillon, que junta aquela que é considerada a complicação nobre por excelência da relojoaria, o turbilhão, à dimensão acústica da repetição minutos. A estreia absoluta do Full Strike Tourbillon dá-se numa variante em ouro rosa ético que é acompanhada de novas edições dos já conhecidos Full Strike, numa versão com caixa em safira, e Strike One, também em ouro rosa ético. A nota comum prende-se com a utilização do sistema monobloco formado pelo vidro e gongo de safira nos três elementos do triunvirato. A tradição das complicações acústicas na relojoaria implica a utilização de ligas metálicas tanto para os martelos, como para os gongos; no caso, são utilizados gongos transparentes em cristal de safira para a obtenção de um som ainda mais… cristalino no sentido literal da palavra, porque o vidro de safira sintético é elaborado a partir do cristal de corindo.

L.U.C Strike One com o novo gongo de safira e o martelo visível a partir do mostrador.
L.U.C Strike One com o novo gongo de safira e o martelo visível a partir do mostrador | © Chopard

Além da longevidade mecânica, o outro desafio inerente às complicações acústicas é a propagação: fazer com que o som saia da caixa do relógio sem perder qualidade sonora e com um tom que faça a diferença. A solução inovadora do conceito Full Strike prende-se com o facto de os gongos integrarem o próprio vidro (que é também a maior superfície do relógio e um meio homogéneo) para que o som saia diretamente para o ar: o vidro é o ressonador. Duas grandes valências, conseguidas através de uma inovadora arquitetura mecânica que também resolve duas pechas habituais: proporciona a redução do espaço de tempo entre os batimentos dos diferentes gongos e o silenciamento da operação do mecanismo que despoleta o processo acústico.

O desenvolvimento dos gongos do sistema Full Strike exigiu, por si só, três anos. A produção do vidro com gongos incorporados (numa só peça) dura duas semanas e é extremamente complexa. Já os martelos em aço foram desenhados para poderem ser regulados individualmente pelos relojoeiros, de modo a ajustar a intensidade do batimento; os testes preparatórios efetuados na Universidade de Lyon incluíram 1,5 milhões de batidas dos martelos — 88.000 ciclos de batidas a 12h59 para os tons agudos do gongo dos minutos e 100.000 ciclos do tom mais grave do gongo das horas. A sofisticada arquitetura do movimento permite ao dispositivo acústico bater no momento mais complexo e consumidor de energia (16 segundos para fazer soar as 12 horas e 59 minutos!) até 12 vezes. A fonte autónoma de energia assegura que o mecanismo repetidor apresente sempre o mesmo ritmo, qualquer que seja o tipo e o número das batidas.

L.U.C Full Strike Sapphire no pulso do violinista Renaud Capuçon.
L.U.C Full Strike Sapphire no pulso do violinista Renaud Capuçon. Som e visual cristalino | © Chopard

Os calibres L.U.C 08.01-L (Full Strike) e 08.02-L (Full Strike Tourbillon) de carga manual incluem também sistemas de segurança que impedem o mecanismo acústico de encravar ou mesmo de se partir; em vez da habitual alavanca no flanco da caixa, a função sonora é ativada a partir do botão embutido na coroa.

Cristal total

Mas se a novidade mecânica é o L.U.C Full Strike Tourbillon, a estrela do triunvirato acaba por ser o L.U.C Full Strike Sapphire pelo look cristalino total devido à caixa transparente em safira — que permite uma visibilidade de 360 graus do movimento. A vedeta da companhia é o primeiro relógio de caixa não metálica a receber o Punção de Genebra e o primeiro repetidor de minutos de caixa totalmente elaborada em safira. Conteúdo e contentor fundem-se num instrumento musical transparente; a safira sintética, confecionada por especialistas na matéria, é também um dos materiais mais resistentes ao risco e ostenta uma dureza de nove na escala de Mohs (só ultrapassada pelo diamante).

A vedeta da companhia é o primeiro relógio de caixa não metálica a receber o Punção de Genebra e o primeiro repetidor de minutos de caixa totalmente elaborada em safira.

Bem destacado no mostrador, um peculiar sistema de inércia serve como escape que regula a velocidade dos padrões de batimento e assegura uma constância ideal, tanto no ritmo, como na sonoridade. Graças a dois ponteiros coaxiais, um indicador duplo de reserva de carga revela não só a autonomia de marcha do movimento do relógio, mas também da corda da função sonora; o sistema acústico é automaticamente desativado quando a corda é insuficiente.

L.U.C Full Strike Sapphire
L.U.C Full Strike Sapphire | © Chopard

A caixa em safira permite acompanhar todo o extraordinário processo acústico e faz com que o Full Strike Sapphire (limitado a cinco exemplares com 42,5mm de diâmetro) seja um regalo para a vista e para o ouvido. Já as caixas mais tradicionais em ouro rosa Fairmined de 18 quilates do Full Strike Tourbillon (42,5mm, tiragem de 20 peças) e do Strike One (40mm, 25 unidades) são concebidas na fundição própria da Chopard. Uma soberba trilogia ratificada pelo COSC (precisão cronométrica) e pelo Punção de Genebra (acabamento e decoração), que é digna do aniversário que se comemora.

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