Diz-nos a história da Espiral do Tempo que sempre que é programada uma sessão fotográfica outdoor, acabo por contrair lesões, mazelas e passar por um sem número de peripécias, mais ou menos graves. Como já contámos, esta tradição manteve-se enquanto levávamos a cabo uma sessão fotográfica para o número 74 da revista! Por outro lado, que melhor prova de fogo para qualquer máquina do que uma sessão sem a proteção e ambiente controlado do estúdio?
Chegaram-nos os relógios e um deles iria ser capa do número 74 da Espiral do Tempo. No entanto, queríamos aproveitar o facto de termos em mãos os quatro novos Rolex Explorer para fotografar e conseguir imagens que ilustrassem o artigo dedicado às linhagens Explorer que acabou por ser publicado nessa mesma edição. Na Espiral do Tempo sentíamos que este contexto pedia ar livre e natureza. Imediatamente, como referi na entrada do texto, começaram a surgir os contratempos, pois o dia marcado iria estar chuvoso. Sou muito pouco dado à leitura dos manuais das máquinas, mas tive de ir conferir se a Leica SL era, como se costuma dizer, «weather sealed».
A resposta foi um rotundo sim! A Leica SL e respetivas lentes são «weather sealed». Quanto ao resto, improvisaríamos com proteções elaboradas no local. O dia, no entanto, acabou por nascer com um sol radioso para nossa surpresa! Menos um problema. Com o ânimo em alta fizemo-nos à estrada. Bem sabemos que os Rolex Explorer, herdeiros históricos de mil e uma aventuras, com visitas a algumas nas zonas mais inóspitas deste terceiro planeta a contar do Sol, mereceriam talvez algo mais agreste, mas o fascínio do verde da Serra da Arrábida era o enquadramento que queríamos para esta série de imagens.
Na bagagem a Leica SL com a brilhante Macro Elmar R 100mm f/4, os dois novos Rolex Explorer II e os dois novos Rolex Explorer I, toalhitas agarra pó, tripé, pincel de pelos de marta, acrílicos opalinos, cavaletes de relógio, refletores, frutos secos e água! Alguns itens podem parecer deslocados mas confie em nós, caro leitor, isto bate tudo certo!
Após uma caminhada para decidir qual o cenário a usar, decidimos assentar armas e bagagens num local onde a luz matinal era filtrada pela folhagem verde, criando zonas de luz e sombra. Era precisamente esse detalhe que procurávamos. Por volta das 11h da manhã, a luz era fortíssima, ampliada pelas gotas de chuva dos dias anteriores. Lindo de ver mas um pesadelo para fotografar!
Mãos à obra!
Digo muitas vezes aos meus colegas que fotografar um relógio são 30 minutos para limpar a peça e colocá-la em posição, mais 10 minutos para posicionar o tripé, sobretudo em terreno irregular, 10 minutos para posicionar os difusores e, finalmente, 2 minutos para tirar a fotografia. Quando tudo parecia pronto para começar, um manípulo mal apertado, como já contámos, fez com que a Leica SL tombasse para trás sendo amortecida pela cana do meu nariz!
Golpe pequeno mas profundo, sangue a pingar…
Outras memórias de sessões na Arrábida e na Serra de Sintra fizeram-nos rir.
– Não há volta a dar. Sempre que saímos, o Pires acaba todo espatifado!
Já recomposto da mazela, foi altura de começar realmente a fotografar.
Não é de todo fácil trabalhar no meio da natureza. Os reflexos são imensos, mas não fazia sentido tentar eliminá-los se era precisamente esta luminosidade natural que pretendíamos. Para os leitores mais apaixonados por fotografia, posso dizer que a diferença de exposição entre os picos de luz e as sombras chegavam a ser de quatro stops! Significa que, medindo a luz para as altas luzes, as sombras iriam perder todo o detalhe e ficarem negras. Medindo a luz para as sombras, as altas luzes iriam explodir e contaminar visualmente a cena.
O objetivo era então reduzir a diferença entre a alta-luz e a sombra e foi aqui que o acrílico opalino entrou em ação. O acrílico opalino funciona como difusor tornando a cena mais homogênea, baixando os picos de luz e clareando as zonas de sombra.
Cada foto, ou melhor, captar a matéria-prima que se irá tornar numa imagem, demora mais de uma hora e apesar de ter levado a lente auto-focus 60mm Macro Elmarit TL, estou definitivamente rendido à focagem manual que o fole de extensão exige. É um ritual que abranda o processo fotográfico. Obriga-me a uma dose extra de cuidado e trabalho, mas por outro lado faz-me sentir como nunca que sou eu que comando a imagem.
Abrir a lente a f4, focar. Fechar a lente usando o live-view para controlar a profundidade de campo. Escolher uma abertura. Normalmente uso entre F8 e F16. Máquina no auto-timer, ISO mais baixo possível e obtura-se! Rever a foto ampliada, limpar alguma partícula de pó, corrigir posicionamento dos difusores e/ou relógio, corrigir exposição. Não correr riscos e volta a fazer tudo de novo para a foto seguinte!
Para os apaixonados por relojoaria, onde me incluo, é o mesmo que dar corda ao relógio todas as manhãs, acertar se necessário, dar-lhe uma limpeza de tempos a tempos. São rituais que nos fazem apaixonar ainda mais por estes objetos. No entanto, e apesar do amor, literal amor, que tenho por máquinas fotográficas, se não servem o objetivo então descarto imediatamente. Para mim a combinação de beleza, qualidade, robustez e fiabilidade fazem da Leica SL um cavalo de trabalho no qual confio totalmente e é um prazer de usar.
Curiosamente, ou não, são também essas as caraterísticas dos Rolex Explorer!