A Grand Seiko lançou duas edições limitadas que recriam o primeiro relógio da marca equipado com movimento de corda manual de alta frequência. Ambos os modelos apresentam os mesmos códigos de design originais do 45GS de 1968 e os seus mostradores ajudam a compreender melhor este momento da história da Grand Seiko e da Seiko.
Em 1968, a Grand Seiko lançou o 45GS, um relógio que surgiu um ano depois do 44GS, referência que estabeleceu o código de design que a marca refere como ‘Grand Seiko Style’. Os dois tinham um estilo quase idêntico, no entanto, o novo modelo foi atualizado com o Calibre 4520, o primeiro movimento de corda manual e alta-frequência da marca japonesa. Este relógio foi reinterpretado em 2024 para integrar a Heritage Collection através de duas edições limitadas que evocam as variações apresentadas em 1968 e que são particularmente fieis ao design dos originais. As linhas angulares da caixa, com superfícies planas polidas espelhadas e laterais curvas, foram recriadas de modo a oferecer um intenso brilho baseado nas interações de luz e sombra, foco da marca desde sempre. Mas fora a caixas em si, o mostrador inclui apontamentos que ajudam a compreender melhor a história da Grand Seiko e da Seiko nessa altura.

Seiko e GS
Com as referências SLGW005 (ouro rosa) e SLGW005 (aço), os novos relógios têm mostradores e opções estéticas idênticas às dos originais de 1968, nomeadamente, os indexes e ponteiros em sintonia com o tom do material da caixa. Mas quem olha mais atentamente vai aperceber-se de que, na posição das 12 horas, surge a alusão ‘Seiko’ em estilo vintage e que, na posição das 6 horas, surge a sigla ‘GS’ em estilo gótico, alusiva à Grand Seiko. É um chamado mostrador ‘SGS’ (SeikoGrandeSeiko). Porquê? Porque até 2010, a Grand Seiko estava disponível em exclusivo no Japão. Nesta altura, houve uma tentativa de lançar a Grand Seiko no mercado internacional, que não foi bem sucedida. Em 2017, decidiu-se separar oficialmente as marcas, começando pelo mercado americano. Até então, a Grand Seiko era uma ‘sub-marca’ da Seiko.

Portanto, os relógios Grand Seiko feitos pela Seiko antes deste período têm as duas marcas no mostrador, o que não significa que não existam modelos mais antigos apenas com a referência Grand Seiko. Quando a marca foi internacionalizada, o seu símbolo oficial passou a posicionar-se às 12 horas e deixou de ser incluída a alusão à Seiko. Esta foi também uma forma de reforçar os padrões elevados associados aos relógios Grand Seiko, enquanto segmento mais elevado, em especial no mercado internacional, porque no Japão a distinção sempre esteve bem estabelecida. Em relação aos novos lançamentos, como se tratam da reinterpretações de modelos pré-independência, deixou-se ficar a referência a ambas as marcas, como acontecia no passado.

‘Hi-Beat’ e ‘36000’
Além da referência ‘GS’, às 6 horas, encontramos também na mesma posição os apontamentos ‘Hi-Beat’ e ‘36000’. Estas duas notas marcavam presença nos modelos originais e continuam a fazer sentido nas recriações. Os novos SLGW004 e SLGW005 estão equipados com o Calibre 9SA4, um movimento de corda manual de alta frequência (como aconteceu em 1968), mas desenvolvido recentemente pela marca.

Com frequência de 36.000 alt/h e reserva de corda de 80 horas, quando totalmente carregada, esta máquina foi projetada, de acordo com a marca, tendo em vista o máximo desempenho, mas também tendo em atenção as sensações tácteis, auditivas e visuais que só um relógio de corda manual pode oferecer. O clique e mola de clique foram assim adaptados para aperfeiçoar o modo como são sentidas e o som que emitem. E, embora, o 45GS original tivesse o fundo de caixa fechado, nas recriações o fundo é transparente para que todo o espetáculo mecânico e beleza de acabamentos possam ser devidamente apreciados.

O ‘raio’
No mostrador dos novos relógios, e também às 6 horas, vislumbra-se ainda um símbolo em forma de raio. Na verdade, este símbolo é uma evocação do logotipo da fábrica Daini Seikosha, local onde foi criado o 45GS original. O nome Seiko deriva de Seikosha, a primeira fábrica de relógios que Kintaro Hattori, fundador da Seiko, abriu em 1892. Em 1937, é estabelecida a Daini Seikosha, em Kameido, Tóquio, que se especializou na produção de relógios de pulso e que, apesar de pertencer à família Hattori, era independente da manufatura original.

A certa altura, durante a Segunda Grande Guerra, a Daini Seikosha foi destruída devido aos bombardeamentos e as suas operações foram transferidas para a Daiwa Kogyo, uma fábrica entretanto estabelecida em Suwa. Eventualmente, o nome acabaria por mudar para Suwa Seikosha e nela a produção de relógios foi progredindo consideravelmente. Porém, a fábrica de Kameido acabou por ser reconstruída e retomar a produção de relógios. É aqui que entra a conhecida história da ‘competição amigável’ que terá passado e existir entre ambas as manufaturas e que terá levado à elevação do padrão de qualidade dos produtos produzidos.

Este episódio aqui resumido é contado de diversas formas, com mais ou menos nuances e com mais ou menos elementos romantizados. Seja como for, no final da década de 1969, os relógios Grand Seiko eram fabricados em ambas as instalações: na Daini Seikosha de Kameido e na Suwa Seikosha. Enquanto empresas que operavam de forma independente entre si, sob a umbrela Seiko, tinham também diferentes logotipos — o símbolo estilizado de um raio para Daini e o símbolo de um remoinho com uma zona central circular para Suwa. O 45GS, que inspirou as atuais edições limitadas, foi produzido pela Daini Seikosha de Kameido.