As novidades da sétima edição da Dubai Watch Week sucedem-se a um nível frenético, juntamente com alguns acontecimentos marcantes e mesmo inéditos. Aqui fica o necessário guia para o acompanhamento à distância do melhor e mais interativo evento relojoeiro do ano.
No Dubai
A Dubai Watch Week cumpre este ano uma década de vida e está na sua sétima edição — tendo assumido uma vertiginosa ascensão desde o seu arranque até se tornar, em múltiplos parâmetros de avaliação, no melhor evento relojoeiro do planeta e mesmo o modelo a seguir para todos os outros (incluindo aquele que é considerado o maior de todos, o Watches and Wonders). Com edições bienais no Dubai e intercaladas por um evento itinerante denominado Horology Forum, que já teve lugar em Londres, Nova Iorque e Hong Kong, a Dubai Watch Week cresceu organicamente e seduziu praticamente todos os líderes e opinion makers da indústria relojoeira.

Obviamente que, decorrendo no Médio Oriente, não está propriamente perto dos principais centros europeus, americanos ou mesmo asiáticos — e a viagem também não é propriamente barata, mesmo que haja cada vez mais gente a fazer a deslocação até ao Dubai. Mas, na era digital contemporânea, é relativamente fácil acompanhar a Dubai Watch Week de longe e mesmo possível respirar um pouco o ambiente tão especial do certame… pelo que preparámos um pequeno guia dedicado a todos os adeptos da relojoaria que o queiram fazer. Porque o evento foi mesmo gizado como uma plataforma onde os profissionais do setor e os aficionados se reúnem para conectar, criar e celebrar.

O primeiro conselho é uma visita ao website oficial da Dubai Watch Week e o acompanhamento das atividades tanto pela página do Instagram em @dubaiwatchweek como das palestras na respetiva conta YouTube (em direto ou diferido). A agenda oficial soma 50 sessões de programação, incluindo várias estreias e novos formatos. De resto, convém apresentar melhor os contornos de um evento que vai decorrer até ao próximo domingo com a participação de 93 marcas de renome e num novo local com cerca de 18.500 metros quadrados: o Dubai Mall Burj Park, perto do emblemático arranha-céus Burj Khalifa e na margem de um pequeno lago artificial.

Para além dos espaços de exibição das marcas, e que podem ir desde enormes pavilhões (sobretudo da Audemars Piguet, Rolex e Van Cleef & Arpels) até pequenos stands numa grande nave multimarcas, a edição deste ano foi ainda concebida para proporcionar oportunidades de networking e fomentar a troca de experiências entre relojoeiros, colecionadores e entusiastas.
Rolex protagonista a abrir
Por exemplo, o salão denominado House of Horology é palco de mais de 12 sessões de conversas com líderes, criativos e vozes culturais. E a programação arrancou com grande pompa e circunstância logo no primeiro dia: pela primeira vez na história da Rolex, um seu líder participou num debate semipúblico (a lotação esgotou rapidamente) com transmissão online. Jean-Frédéric Dufour, CEO da Rolex, foi acompanhado por Abdul Hamied Seddiqi, Presidente da Seddiqi Holding que organiza o evento, numa conversa intitulada ‘A hora de agir é agora: uma mensagem para a indústria relojoeira’ que foi moderada por Wei Koh. Claro que houve temas que ficaram de fora (nomeadamente a recente conversa com Donald Trump na Sala Oval sobre as tarifas de importação suíças), mas vale a pena ver o que se passou através deste link: The Time To Act is Now – A Note to the Watch Industry.

Ainda na jornada inaugural, mas mais ao fim da tarde, houve outra sessão inédita. Num ambiente tornado propositadamente escuro para maior efeito teatral, quatro CEOs juntaram-se à volta de uma mesa iluminada e debateram o estado atual da indústria relojoeira: Georges Kern (Breitling, Universal Genève, Gallet), Ilaria Resta (Audemars Piguet), Karl-Friedrich Scheufele (Chopard, Ferdinand Berthoud) e Julien Tornare (Hublot), com moderação de Andy Homan. A sessão foi pensada para estimular um diálogo franco entre líderes do setor e proporcionar ao público informações exclusivas sobre as estratégias que impulsionam a relojoaria contemporânea.

Outro momento marcante do primeiro dia foi a apresentação do conceito House of Brands por parte de Georges Kern, o CEO da Breitling que anunciou o posicionamento e planos futuros das sister companies Universal Genève (segmento acima) e Gallet (a um preço mais acessível). «No contexto da nossa House of Brands, a Universal Genève operará a partir dos 15.000 francos suíços, posicionando-se como uma maison independente requintada, sediada em Genebra e com a sua própria equipa. A Gallet, por outro lado, ficará na fasquia entre 2.500 e 5.000 francos, como uma marca irmã totalmente integrada na Breitling em termos de fabricação, cadeia de fornecedores e distribuição. Cada marca tem um propósito distinto, e o portefólio é estruturado para evitar sobreposições».

Também no primeiro dia, Hind Seddiqi, a CEO da Dubai Watch Week, afirmou numa palestra de boas-vinda que «a Dubai Watch Week tem crescido não só em escala, mas também em propósito; o nosso objetivo sempre foi o de criar uma plataforma que una tradição e inovação, conecte vozes de toda a indústria e inspire o público a encarar a relojoaria como arte e cultura». A missão tem sido bem-sucedida desde a primeira edição.
O programa que se segue
Após as tão celebradas sessões que marcaram o primeiro dia na House of Horology, o programa de palestras tem prosseguido com os seguintes temas e protagonistas — e é sempre possível acompanhar as sessões ao vivo através de streaming na página YouTube da Dubai Watch Week:

François-Henry Bennahmias, o homem que colocou a Audemars Piguet na fasquia do bilião anual de faturação até ceder o seu lugar de CEO a Ilaria Resta, foi a personagem principal do fórum denominado ‘Fresh Eyes on Old Dials: A Critique of the Watch Industry’, que abordou a perspetiva de como um legado se pode tornar num fardo.
A sessão ‘When Labubu Beats the Birkin. Luxury in the Age of Hype’ contou com Richard Benc (Studio Underd0g), George Bamford (Bamford Watch Company) e Misha Daud (Harper’s Bazar), sendo moderada por Robin Swithinbank; abordou o modo como os algoritmos e a viralidade estão a remodelar o desejo consumidor e o que acontece ao legado quando os gostos se tornam virais.
O debate ‘The Legacy Tension: The Art and Risk of Modernising the Familiar’ leva-nos para dentro da ousada reinvenção dos ícones da Bvlgari pelo mão do diretor criativo Fabrizio Buonamassa e avalia o delicado equilíbrio existente entre a evolução e o esquecimento. A sessão ‘Design. Defend. Win: DWW x Grail Design Finale Pitch’ promove uma competição de design ao vivo inédita. O programa conta igualmente com uma conversa aprofundada com Alexia Genta sobre a vida e a visão do seu pai, o lendário Gerald Genta, e ainda uma ‘troca de galhardetes’ entre Maximilian Büsser e Kari Voutilainen, moderada por Chris Hall — no qual tão distintos protagonistas da relojoaria atual explorarão os aspetos emocionais, estratégicos e práticos de preparar uma marca para o futuro, ao mesmo tempo que se constrói o seu legado.
Colecionadores e clínicas
O Collector’s Lounge proporciona uma experiência mais imersiva para aqueles que desejam mergulhar no mundo da relojoaria e do luxo. O espaço conta com diversas sessões especialmente criadas para o evento, além de uma secção dedicada às edições limitadas exclusivas do 75.º aniversário da firma Ahmed Seddiqi. Especialmente selecionada para tão significante data, a coleção homenageia a visão do fundador e celebra a vertente artesanal da relojoaria mecânica.

As masterclasses permitem aos participantes vivenciar o mundo da relojoaria e do artesanato através de experiências interativas e práticas. Desde a pintura de materiais luminescentes com o relojoeiro interno da Wristcheck até os processos artísticos por trás do design de marqueteria, reinventando essa técnica tradicional através da lente da colagem, cada sessão no espaço dedicado ao efeito abre uma janela para a mais refinada vertente artística da relojoaria.

Os destaques entre as masterclasses incluem a experiência Métiers d’Art da Gerald Charles, com os participantes a experimentarem a martelagem manual de mostradores; a sessão sobre meteoritos da Bangalore Watch Company, que oferece aos presentes a rara oportunidade de manusear rochas celestes e descobrir os seus padrões naturais de Widmanstätten na feitura de mostradores únicos; e a clínica The Art of Dings and Dents da Atelier Wen permitirá experimentar a técnica decorativa de martelagem, podendo os participantes depois levarem para casa um pingente de prata 925 feito por eles mesmos, selado com um belo acabamento em esmalte Grand Feu. A Hermès também promove um dia inteiro de masterclasses ao longo.

Depois, há toda uma panóplia de novidades relacionadas com o produto — mediante a apresentação de novos modelos do catálogo regular das marcas (como os novos Ranger, da Tudor, que já escalpelizámos) ou de edições limitadas, algumas delas especialmente dedicadas ao Dubai ou aos Emirados Árabes Unidos. E cá estaremos para ir dando conta dessas novidades nos próximos dias e semanas.




