Montblanc: Jens Henning Koch

Jens Henning Koch é Executive Vice President Marketing da Montblanc e veio a Portugal para a apresentação ao retalho e ao público das novidades Montblanc para 2015. Mais do que às canetas ou à marroquinaria, a Espiral do Tempo esteve atenta às novidades relojoeiras, como lhe competia. Não era caso para menos, pela primeira vez uma grande marca de luxo, e uma grande casa relojoeira, produziu uma linha inspirada num português — Vasco da Gama. Na próxima edição da revista destacaremos o acontecimento, por ora tentámos saber por que águas navega a Montblanc.

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Jens Henning Koch, Executive Vice President Marketing da Montblanc, veio a Portugal para a apresentação ao retalho e ao público das novidades Montblanc para 2015.

Que valores da epopeia de Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia foram retidos pela Montblanc para o lançamento desta coleção?
Foi o como e o porquê. Foi a curiosidade que levou Vasco da Gama a embarcar em tão incerta viagem e a encontrar o caminho marítimo para o Este. Ele não tinha acesso aos instrumentos tecnológicos de que hoje dispomos e teve que ser não só extremamente corajoso mas teve que planear, que preparar, que estudar para obter a precisão necessária e cumprir o seu objetivo. Esta curiosidade e esta bravura para ir além das fronteiras, para explorar território desconhecido, combinadas com a precisão, foi o que nos motivou.

Fala muito em precisão e já a apresentação que fez previamente esteve muito focada, entre outros valores da marca, na precisão. A precisão não é suposto ser algo que se tem por adquirido quando se fala de alta-relojoaria e de Montblanc?
Para nós a precisão está no cerne da nossa atividade e estamos sempre à procura de novas soluções para alcançar essa precisão. Quando combinamos complicações queremos que se traduzam em precisão porque se a Montblanc se pode definir numa palavra, ela é substância. A medição do tempo, a cronometria, é aquilo que fazemos — mas queremos fazê-lo de uma forma clara, elegante, contemporânea, integrando complicações mas não apenas pelo prazer de as fazer. Quando decidimos fazer uma coisa, tem que haver um propósito, um sentido, uma função, tem que haver funcionalidade.

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A Montblanc deixou-se seduzir pelas façanhas de Vasco da Gama e criou uma coleção inspirada no explorador português: a Heritage Chronométrie que inclui algumas edições limitadas. A coleção Villeret também foi complementada com um modelo de tributo a Vasco da Gama, o Tourbillon Cylindrique Geosphères Vasco da Gama (à esquerda).

Curiosamente, ou precisamente… a coleção de onde surge a linha Vasco da Gama chama-se Heritage Chronometrie. Pode dizer-se que a Montblanc vai buscar essa precisão à herança e ao know how da antiga manufatura Minerva, em Villeret, que é vossa?
Exato. No desenvolvimento desta coleção expressámos o princípio da secção relojoeira da Montblanc que é sharing the passion for fine watchmaking (partilhando a paixão pela relojoaria fina). Isso parece muito genérico porque, afinal, quem é que está neste setor que não esteja apaixonado por ele? O que é único na Montblanc é que temos duas manufaturas, a Minerva, em Villeret, fundada em 1858, e a de Le Locle, uma manufatura state of the art. É assim que conseguimos criar peças únicas, inovadoras, com o refinamento próprio da indústria relojoeira suíça. A complicação do dual time é um exemplo de uma solução desenvolvida em casa, mas que nos permite um refinamento relojoeiro que nunca foi visto neste segmento e que, portanto, nos permite acrescentar valor. Quando se vê como o mercado se desenvolveu ao longo dos tempos num mundo onde temos por garantida a inovação digital, estas soluções têm um grande efeito. Quando vocês falaram do neo-vintage, na última edição da Espiral do Tempo, o que é que há de tão especial no neo-vintage? Queremos entender isso e sentimos que há um apelo de certos valores que ainda parecem ser importantes e verdadeiros. O desafio de alcançar soluções mecânicas funcionais num espaço tão minúsculo continua atual e é nesse espaço que nós queremos estar.

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Montblanc Heritage Chronométrie ExoTourbillon Chronograph Vasco da Gama. Edição limitada a 60 exemplares. © Montblanc
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Montblanc Heritage Chronométrie ExoTourbillon Chronograph Vasco da Gama. Edição limitada a 60 exemplares. Através do fundo transparente é possível ver o movimento de manufatura Calibre MBR230 © Montblanc

Pois, a mim parece-me que quanto mais o mundo é tecnológico mais os processos mecânicos são valorizados e valorizáveis.
Essa é certamente uma razão. Outra é que o mundo é, hoje, extremamente complexo, enquanto que as soluções mecânicas são muito claras e entendíveis. Carrega-se aqui, aquela alavanca atua e acontece aquilo. Há um espaço muito definido na beleza da precisão, na previsibiliade, que é algo que as pessoas querem preservar.

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Diário da expedição de Vasco da Gama à Índia. © Montblanc

Que receção têm tido estas coleções, quer a Vasco da Gama quer a linha inspirada no Phytagore?
Foram recebidas extremamente bem. Acho que as pessoas perceberam o esforço que estamos a fazer nos detalhes e acreditam nos valores que defendemos. A receção à linha Vasco da Gama foi mais surpreendente do que esperávamos. Previmos o impacto da ligação simbólica entre o leste e o oeste, mas subvalorizámos o impacto que teria em termos de norte e sul. O facto de, na linha Vasco da Gama, estar visível o céu do hemisfério sul, teve muito impacto. E depois, o nome de Vasco da Gama é muito forte no Brasil e na América do Sul. Foram experiências emocionais de globalização através de uma linha de relógios. Experienciámos também o orgulho dos nossos colegas portugueses que nos levaram a produzir um modelo limitado a Portugal, que é algo que raramente fazemos.

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Montblanc Heritage Chronométrie Quantième Annuel Vasco da Gama. Edição limitada a 238 exemplares. O submostradores às 6 h apresenta o céu noturno do Cabo da Boa Esperança, tal como Vasco da Gama o observou em 1497. © Montblanc
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Montblanc Heritage Chronométrie Quantième Annuel Vasco da Gama. Edição limitada a 238 exemplares. O fundo é decorado com a assinatura do explorador e a sua caravela – São Gabriel. © Montblanc

Face aos desafios presentes, qual será o futuro próximo da alta-relojaria? Eu sei que hoje em dia é difícil fazer previsões do que seja, mas estamos a falar de instituições centenárias que já passaram por muitas crises, pelo que têm, necessariamente, uma perspetiva diferente da nossa, comuns mortais com um ou dois pares de décadas de vida.
Não há piloto automático! Não podemos confiar que vamos continuar a crescer, que o futuro será sempre bom, independentemente do que fizermos. Isso seria muito perigoso. Temos que estar confiantes, mas alertas, perto do mercado e a senti-lo. Penso que nos próximos anos se vão criar peças realmente apelativas. Teremos que convencer o cliente, não tanto por argumentos racionais, mas emocionais. Veremos muitas iniciativas no mercado em prol do refinamento com novas soluções. A discussão sobre os smart watches, por exemplo, atraiu a atenção dos media para o que se usa no pulso, o que é bom. É provável que as gerações mais novas adiram a estes gadgets, como é provável que, mais tarde, queiram experimentar ter uma coisa mecânica. Toda a discussão pode provocar, mais tarde ou mais cedo, a atenção das gerações mais novas para os relógios mecânicos e para a sua forma de funcionar. Há uma dinâmica diferente nos mercados, não será uma crise mas é interessante saber se é uma mudança real ou uma tendência.

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Montblanc Heritage Chronométrie Collection: Quantiéme Complet Vasco da Gama Special Edition. © Montblanc

É aí que entra, ou pode entrar, a vossa política de preços?
Não. A nossa política de preços é fruto das nossas considerações sobre qual o valor que acrescentamos a determinado produto, em termos de complicação, de solução mecânica, de elegância, de design e de refinamento. O que quer referir, penso, é a possibilidade que temos de usar o know how de Villeret para, conjuntamente com Le Locle, criar produtos de excelência em segmentos onde eles não costumam estar, valorizando a oferta do que fazemos e não o preço.

Ou seja, Villeret é a vossa Formula 1. As soluções encontradas e testadas ali passam depois para as gamas mais baixas.
É verdade, isso passou-se por exemplo com o Metamorphosis e os seus ‘multidiscos’, que nos permitiu desenvolver a coleção Nicolas Rieussec. Houve quem perguntasse como é que tinhamos conseguido. Conseguimos porque temos esta possibilidade. ET_simb

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Montblanc Collection Villeret Tourbillon Cylindrique Geosphères Vasco da Gama. Edição limitada a 18 exemplares. Está equipado com o movimento de manufatura Calibre MBM68.40 do qual se destaca um turbilhão de 1 minuto, que é conduzido por uma espiral cilíndrica. © Montblanc
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As representações do hemisfério norte e do hemisfério sul associadas à função worldtimer que podemos encontrar no Villeret Tourbillon Cylindrique Geosphères Vasco da Gama. © Montblanc

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