Paixão por Fotografia

A caminho de um ano passado sobre o início da parceria da Espiral do Tempo com a Leica, é chegado o momento de algumas reflexões que extravasam em muito o simples aspeto técnico e fotográfico. Se Pedro Torres, o fundador da Espiral do Tempo, dizia que «os relógios não importam, o que importa são as pessoas», acrescento ainda que as máquinas fotográficas também não importam, o que importa são as pessoas.

[As Crónicas Fotográficas resultam da parceria da Espiral do Tempo com a Leica, iniciada em 2021.]

No início de 2021 recebo em casa uma caixa bastante grande selada com um autocolante da Leica. Para um apaixonado por fotografia foi quase um Natal tardio. Dentro da caixa vinham os novos equipamentos fotográficos colocados ao nosso dispor. Imediatamente liguei para o Paulo Silveira, o nosso elemento de ligação à Leica , a agradecer e a perguntar como é que metade daquelas coisas funcionavam.

As quatro edições de 2021 da Espiral do Tempo
As quatro edições de 2021 da Espiral do Tempo | © Espiral do Tempo

Ao fim de tantos anos a usar diferentes máquinas, a minha curva de aprendizagem com um equipamento novo é bastante curta, mas, neste caso em específico, não só a Leica tinha enviado equipamentos novos, mas também componentes mais antigos que são simplesmente impossíveis ou muito difíceis de encontrar, a menos que se seja um absoluto apaixonado pela marca alemã como o é o meu caro amigo Paulo Silveira:

– Caro Paulo, obrigado pelos equipamentos. Nada como mudar para Leica e ter que passar a focar manualmente! Ao menos com a outra tinha autofocus!

– (vernáculos com sotaque do Porto impossíveis de transcrever neste texto) Não percebes nada disso porque nunca usaste uma máquina decente!

Acabei por desligar o telefone (bem humorado, claro) e ainda com o Paulo Silveira a maldizer-me e aos meus antepassados até à Idade do Bronze.

A grande verdade é que não só o Paulo percebe de fotografia, obviamente, como também percebe perfeitamente as necessidades fotográficas da Espiral do Tempo, sobretudo no que toca a fotografia de relógios e a macro-fotografia. A tal focagem manual que eu falava obriga a abrandar o processo fotográfico colocando do lado do fotógrafo o controlo absoluto sobre todas as fases do mesmo e, na realidade, o foco manual é quase uma experiência perdida neste mundo dos blazing fast autofocus.

O equipamento utilizado: detalhe do fole de extensão da Leica SL
O equipamento utilizado: detalhe do fole de extensão | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Eu não usava um fole de extensão desde o meu primeiro ano de fotografia na faculdade, ou seja aí por volta de 1714… Décadas depois, aqui estou a combinar o novo com o antigo, sendo este também um dos pontos fortes da marca do círculo vermelho. Tudo se adapta, tudo se combina, tudo é pensado para trabalhar.

Leica Macro Elmar-90mm and bellows
Leica Macro Elmar R 100mm f/4 short mount já no fole de extensão. Fotografado com uma Leica Q2 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

O conjunto inicial ficou estabilizado com o corpo Leica SL e com a soberba Macro Elmar 100mm f4 short mount for bellows. ‘Toma e embrulha, indústria relojoeira’, porque a fotografia também tem designações fantásticas para os equipamentos! Na realidade o «short mount for bellows» significa que à lente foi retirado o anel de focagem e que a mesma passa a ser feita por aproximação ou afastamento usando o fole de extensão (os chamados «bellows»).

O anel de aberturas da lente Macro Elmar R 100mm já sem o anel de foco. Fotografado com uma Leica Q2 Monochrom
O anel de aberturas da lente Macro Elmar R 100mm já sem o anel de foco. Fotografado com uma Leica Q2 Monochrom | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Em termos de fotografia pura é soberbo poder focar-se manualmente com ajustes milimétricos. Controle absoluto. Em termos de focus stracking, em que se tiram várias imagens com pontos de foco diferentes para posterior montagem digital, o foco manual é simplesmente perfeito.

Novo telefonema para o Porto:

– Caro Paulo, a coisa parece que funciona. Tenho de focar manualmente e pareço o senhor que tira fotos em frente ao Santuário de Santa Luzia em Viana do Castelo, mas tudo bem.

– (vernáculos com sotaque do Porto impossíveis de transcrever neste texto). Nunca mais vais querer outra coisa!

Leica SL e Apo-Summicron SL 90mm
O corpo Leica SL e a APO Summicron SL 90mm f/2. Fotografado com uma Leica Q2 Monochrom | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Bem dito, bem feito. Apaixonei-me profissionalmente pela combinação do corpo SL com a Macro Elmar adaptada ao fole de extensão. A partir desse momento, a Leica SL passou a ser a máquina principal usada nas nossas imagens. Passou todos os testes com distinção fossem em estúdio, fossem ao ar livre. Como tantas vezes se usa no mundo da fotografia, este kit é um autêntico cavalo de trabalho com a agradável surpresa da duração da bateria. Em todas as sessões e saídas nunca precisei de mais do que uma bateria. Impressionante, tendo em conta que uso live view no processo de captação de 90% das imagens, o que consome bastante energia.

Leica SL
Leica SL com o devido equipamento utilizado, lente e fole de extensão | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Mas nem só de fotografia de relógios vive a Espiral do Tempo. Entrevistas e reportagens obrigam a usar outro tipo de equipamentos. Mais leves, mais flexíveis, com outras distâncias focais. À medida das nossas necessidades, foram-nos enviadas diversas opções e foi com um enorme prazer que tive em mãos a Leica CL e, sobretudo, a Leica Q Monochrom que usámos na entrevista ao Carlão, por exemplo.

Linde Werdelin Oktopus Moon com luminescência
Linde Werdelin Oktopus Moon com luminescência | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Tirei quase 3500 fotografias durante 2021. Todos os equipamentos colocados ao nosso dispor foram usados sem contemplações em várias situações. Não há nenhuma outra marca fotográfica com tanto status como a Leica, mas a verdade é que quando chega a parte do trabalho, são equipamentos que não falham, que rapidamente se tornam um complemento do fotógrafo e a qualidade ótica é simplesmente a melhor do mercado.

Carlão em pé numas escadas a preto e branco
Carlão para a entrevista da Espiral do Tempo 74 | © Paulo Pires / Espiral do Tempo

Em plena paginação da última edição do ano, a edição 77, recebo um telefonema do meu caro Paulo Silveira.

– (vernáculos com sotaque do Porto impossíveis de transcrever neste texto). Olha lá artista, o que achas da Espiral do Tempo fazer uma exposição na Leica Gallery, aqui na Store do Porto?

– Meu caro, isso é maravilhoso! Era perfeito para culminar o ano do nosso vigésimo aniversário.

– (vernáculos com sotaque do Porto impossíveis de transcrever neste texto). Então faz-te à vida e toca a trabalhar!!

As pessoas na Exposição 'Paixão por Relojoaria' da Espiral do Tempo na Leica Store Porto
Fotografia de Pedro Torres na exposição ‘Paixão por Relojoaria’ | © Rita Tinoca / Espiral do Tempo

Toda a equipa ficou entusiasmada. A ação iria envolver um esforço gigante de curadoria de 20 anos de imagens, ao mesmo tempo que se fazia a última edição do ano, com várias viagens pelo meio. Todos ‘metemos mãos à obra’ e, após muitas semanas de trabalho, e noitadas seguidas chegámos a ‘bom Porto’. Literalmente, neste caso.

Seguimos para a Invicta para a tarde especial que foi a inauguração da exposição Paixão por Relojoaria. E, acreditem: foi um momento que nos encheu de orgulho ver parte dos nossos 20 anos de história nas paredes da Leica Gallery, mas, acima de tudo, foi um momento único termos tido a oportunidade de partilhar com os presentes algumas histórias por detrás das imagens expostas.

Exposição 'Paixão por Relojoaria' da Espiral do Tempo na Leica Store Porto
Exposição ‘Paixão por Relojoaria’ da Espiral do Tempo na Leica Store Porto | © Susana Gasalho e Rita Tinoca / Espiral do Tempo

Terminámos o ano da celebração do 20.º aniversário da Espiral do Tempo e o quase primeiro ano da nossa parceria com a Leica da melhor maneira, fazendo justiça às palavras do fundador da revista: «as pessoas é que importam!»

Ou, como diria o meu caro amigo Paulo Silveira:
– (vernáculos com sotaque do Porto impossíveis de transcrever neste texto). Mai’nada!!

Registo ainda que foi com um acrescido prazer que vi alguns presentes na inauguração da exposição com as suas Leica ao ombro e relógios no pulso.

Espaço da Exposição 'Paixão por Relojoaria' da Espiral do Tempo na Leica Store Porto
Exposição ‘Paixão por Relojoaria’ da Espiral do Tempo na Leica Store Porto | © Susana Gasalho / Espiral do Tempo

E, por fim, para todos, aqui fica uma pequena lista do material usado pela Espiral do Tempo nas suas edições do ano de 2021.

• Corpo Leica SL
• Lente Macro Elmar R 100mm f4 adaptada ao fole de extensão.
• Fole de extensão.
• Lente APO-Macro-Summarit S 120mm f2.5
• Lente Vario-Elmarit SL 24-70mm f2.8 ASPH
• Leica Q Monochrom
• Leica CL

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