Na sequência da apresentação de alguns dos designers que têm dado rosto ao tempo, apresentamos esta semana Emmanuel Gueit — talvez dos nomes menos conhecidos entre os grandes designers relojoeiros da atualidade, mas alguém com um currículo de respeito e que se deu bem na difícil missão de suceder ao seu progenitor e a Gérald Genta. O disruptivo Royal Oak Offshore é da sua autoria, tal como a renovação da coleção Cellini da Rolex.
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«O designer é a essência da indústria relojoeira. Infelizmente, para muitas marcas não é tão vital como o é na indústria da moda». A frase é de Emmanuel Gueit — talvez dos nomes menos conhecidos entre os grandes designers relojoeiros da atualidade, mas alguém com um currículo de respeito e que se deu bem na difícil missão de suceder ao seu progenitor… e a Gerald Genta.

Porque se a apresentação do Royal Oak pela Audemars Piguet em 1972 marcou o advento do relógio moderno graças às suas linhas integradas e tratamento do democrático aço como se fosse um metal de luxo, o surgimento do Royal Oak Offshore em 1993 estabeleceu uma nova era com a passagem a um tamanho superior e a um design mais radical. A transição deveu-se ao então jovem ‘Manu’, que no final da década de 80 seguiu os passos do pai Jean-Pierre (que assinou peças para a Piaget, Harry Winston, Patek Philippe, Vacheron Constantin, Rolex, Concord e Movado) para começar a trabalhar na Audemars Piguet.


«Naquela altura apareceu a moda de as mulheres usarem relógios de homem, que eram então relativamente pequenos… por isso pensei em criar um modelo maior e bem masculino. Demorámos quatro anos a lançar o Royal Oak Offshore porque a cada seis meses me pediam para parar o projeto; achavam que era demasiado grande, demasiado pesado, não vendável».

A cólera de Gérald Genta
Foi finalmente apresentado em 1993. «A minha ideia era manter o mesmo visual mas ao mesmo tempo dar ao Royal Oak uma aparência mais jovem porque as vendas do original estavam a baixar — era imperativo que procurássemos um novo tipo de cliente». Gérald Genta não gostou. «Ele invadiu o stand da Audemars Piguet em Basileia a gritar que tinham destruído completamente o seu Royal Oak», recorda Emmanuel Gueit, «Se o design não é convencional e choca, isso significa que é meio caminho andado para o sucesso. A prova está no Royal Oak e no Royal Oak Offshore». O Millenary oval da Audemars Piguet também foi da sua autoria.

Nos últimos anos, ‘Manu’ assinou a renovação completa da linha mais elegante do catálogo da Rolex, a Cellini. E viu com algum divertimento a reação virulenta aos recentes modelos de design integrado, injustamente acusados de serem cópias de icónicos modelos de Gérald Genta dos anos 70. «Nem a Audemars Piguet, nem a Patek Philippe e nem mesmo Gérald Genta têm a exclusividade do design integrado», referiu. E sentenciou: «as décadas de 60 e 70 foram incrivelmente criativas, mas as pessoas deviam olhar mais para o futuro e não tanto para o passado». Considera Philippe Starck o designer mais genial de sempre e ressuscitou recentemente o trabalho de outro grande designer: foi convidado para atualizar a estética orgânica de Mark Newson na Ikepod, agora com novos donos e um posicionamento de preço mais acessível.

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