Com o Salon International de la Haute Horlogerie 2019 a chegar ao fim, escolhemos cinco estrelas apresentadas por outras tantas casas de alta-relojoaria. São protagonistas que se destacam pela enorme complexidade e também pelo grande mediatismo, representando muito bem o papel de talking pieces capazes de gerar interesse dos colecionadores e debate entre os aficionados. Aqui vos deixamos uma mão-cheia de obras-primas com a assinatura da A. Lange & Söhne, Jaeger-LeCoultre, Vacheron Constantin, Audemars Piguet e Bovet.
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Por Cesarina Sousa e Miguel Seabra
A.Lange & Söhne Datograph Perpetual Tourbillon
Respiramos sempre bem fundo cada vez que vamos à descoberta das novidades da A.Lange & Söhne. Coerência, simetria, inovação técnica, discrição q.b., classe e extraordinário nível de acabamentos são apenas algumas das palavras que podemos sempre associar a cada um dos modelos da marca. E este ano são cinco. Apenas cinco. E dois aniversários para celebrar: os 25 anos do Lange 1 e os 10 anos do Zeitwerk. Por isso, a A.Lange & Söhne esmerou-se e bem. Mas com um ‘mas’: até ao dia 24 de outubro de 2019 (data simbólica associada à apresentação dos primeiros modelos da Lange renascida, há 25 anos) irão ser apresentados todos os dias ’24’ de cada mês uma novidade. Relativamente aos cinco relógios que vimos, poderíamos perfeitamente destacar o Zeitwerk Date, mas a conjugação de complicações e o inesperado mostrador fez-nos pender para o Datograph Perpetual Tourbillon. A Lange raramente foge a uma reduzida paleta cromática, mas resolveu dotar o seu modelo com cronógrafo flyback, calendário perpétuo e turbilhão de um mostrador em ouro maciço que lhe dá um visual único. Um dos preferidos da imprensa especializada que será seguramente um dos relógios do ano.
Jaeger-LeCoultre Master Grande Tradition Gyrotourbillon Westminster Perpétuel
A Grande Maison esmerou-se com mais uma extraordinária criação que revela a sua mestria: o Master Grande Tradition Gyrotourbillon Westminster Perpétuel volta a apresentar o Gyrotourbillon (turbilhão de eixos múltiplos) que é um dos ex-libris da manufatura conjugado com um calendário perpétuo (com o dia da semana, o mês e o ano em configuração digital) e um mecanismo de força constante, mas é sobretudo na vertente da repetição minutos que se destaca. Graças a quatro martelos e outros tantos gongos, a inconfundível melodia do Big Ben surge replicada com grande musicalidade e beneficia de décadas de desenvolvimento e especialização da Jaeger-LeCoultre no domínio das complicações acústicas. Tudo concentrado numa caixa de somente 43 milímetros de diâmetro por 14,3 de espessura.
Vacheron Constantin Traditionnelle Twin Beat Perpetual Calendar with up to 65 Days of Power Reserve
Um relógio extraordinário também pela estética que se afasta dos parâmetros clássicos da Vacheron Constantin, graças a um mostrador parcialmente em safira que deixa ver a complexidade da complicação que lhe está associada. Nele, a principal característica é um dispositivo que permite ao utilizador passar para um modo de baixa frequência ou para um modo de alta frequência, permitindo esticar a reserva de corda dos quatro até aos 65 dias o que é particularmente útil para manter o calendário perpétuo alinhado sem recurso a acertos. Este movimento de corda manual incorpora dois trens de rodagens, dois reguladores e um calendário perpétuo. Cada trem de rodagem está associado a um oscilador próprio, cada qual batendo a frequências diferentes (um de 5Hz – 36.000 alt/h – e outro 1.2Hz – 8,640 alt/h no modo stand-by). Esta mudança é feita por meio de um botão localizado às 8 horas. A caixa em platina de 42 por 12mm apresenta a estética habitual da linha Traditionnelle, mas o mostrador é decididamente modernista muito graças ao revestimento escurecido NAC, bem mais mais resistente do que o PVD.
Audemars Piguet Code 11.59 Perpetual Calendar
Tem tudo ver com detalhes, mas detalhes ao mínimo detalhe. Code 11.59 é o nome da nova e controversa coleção da Audemars Piguet, que tem sido muito criticada e até injustificadamente ridicularizada — mas que merece ser reconhecida pelo esforço colocado em cada pormenor, desde a parte estética até à mecânica no seu interior. A coleção surge dotada de novos movimentos e no seu lançamento inclui modelos automáticos de três ponteiros com data, cronógrafos e duas variantes mais complexas: um turbilhão esqueletizado e um calendário perpétuo. De todos, o calendário perpétuo é o nosso preferido: o mostrador é absolutamente celestial, assente numa base de aventurina azul estrelada. O maior destaque em toda a coleção acaba, porém, por ser o trabalho de construção de caixa, num misto de linhas rectas, resgatadas da tradição da marca, e linhas curvas. Em cada ângulo de observação, há algo de novo para nela descobrir. Esta coleção não é consensual, mas inaugura um novo capítulo na marca. Voltaremos a ela mais tarde e com mais calma também.
Bovet Récital 26 Brainstorm Chapter One
Presente pela primeira vez no Salon International de la Haute Horlogerie, a Bovet apresentou um excelente naipe de novidades — sendo que uma delas se destacou por revelar algo de diferente no plano estético: o Récital 26 Brainstorm Chapter 1, quase um modelo conceptual atendendo ao seu visual modernista que contrasta com o classicismo da maior parte das criações da marca do Vale de Fleurier. A caixa, inclinada como é habitual nos modelos Récital, foi esculpida em vidro de safira e alberga um turbilhão volante, a apresentação tridimensional das fases da lua e a indicação dos seus dez dias de reserva de corda. Um relógio impressionante e experimental que, como o seu nome indica, promete ser o primeiro de um novo caminho estético para a Bovet mas sem o radicalismo desportivo dos seus modelos com a assinatura Pininfarina.
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