Relógios gravados: cinco novidades para conhecer

Quer seja no mostrador, na caixa ou até nas braceletes e fivelas, a gravação em metal oferece múltiplas possibilidades em relojoaria e é uma boa forma de contar histórias. E alguns lançamentos recentes são a prova disso mesmo. Aqui fica uma seleção de novidades reveladoras de um lado mais contemporâneo da gravação em relojoaria.

Os relógios gravados podem ser considerados verdadeiras obras de arte. Este tipo de peças guarda consigo uma história única, não apenas por resultar do trabalho de técnicas artesanais, como a gravação manual, mas também por muitas vezes estar associado a momentos especiais ou até mesmo a uma narrativa simbólica que vale sempre a pena conhecer. Claro que, em última análise, há sempre uma outra vertente mais contemplativa: em alguns casos, o trabalho é de tal forma elaborado que, independentemente das motivações que estão por trás da sua criação, o que nos cativa é mesmo o resultado estético final. E se tivermos em conta que existem diversos tipos de gravação, poderemos então ficar com uma maior noção das múltiplas formas de aplicar esta arte ao mundo dos relógios.

A gravação em metal é uma arte que compreende os seus próprios desafios, ainda assim, Eddy Jaquet consegue recriar em miniatura verdadeiras histórias | Fotos: MB&F

Apesar de ser uma técnica ancestral, a gravação em metais acabou por ganhar vida própria na relojoaria portátil de diversas maneiras, principalmente, para personalização das caixas – através de assinaturas, mensagens especiais ou datas, mas também de verdadeiros trabalhos artísticos. E nos tempos mais recentes quase que soa a tendência. Hoje em dia há diversas marcas que oferecem serviços específicos de gravação personalizada de relógios, mas há também aquelas casas cujo legado lhes permite criar peças verdadeiramente únicas, numa continuidade demonstrativa do seu savoir-faire e da sua tradição, como acontece com a Patek Philippe e a Vacheron Constantin que têm ateliers próprios dedicados a este ofício. Por outro lado, são já diversas as marcas que apostam em colaborações especiais com artistas especializados que têm, por exemplo, a capacidade de criar vida em mostradores – como Eddy Jaquet – ou de mimetizarem um efeito de tatuagem nas caixas, como acontece com os trabalhos do britânico Johny Dowell.

O ano de 2024 tem sido rico neste sentido, razão pela qual selecionámos alguns recentes lançamentos de inspiração contemporânea que se destacam precisamente pelos trabalhos de gravação em metal. Quase todos peças únicas.

De Bethune DW5 Al-Amal

Uma mensagem de esperança para as gerações futuras no De Bethune DW5 Al-Amal | Foto: De Bethune

A De Bethune criou um relógio único para a exposição Mavericks of Time organizada pela Ahmed Sediqqi & Sons no Museu do Futuro (MOTF), no Dubai, nos dias 9 e 10 de novembro, e que veio celebrar a criatividade e ousadia da relojoaria independente. Com o nome DW5 Al-Amal, o relógio tem como base o DW5, um dos mais reconhecidos modelos da marca, para passar uma mensagem de esperança para as gerações futuras. A estética espacial deste relógio, originalmente adotada no Dream Watch, ofereceu o espaço necessário para gravar uma mensagem universal, como se fosse uma cápsula do tempo enviada pela humanidade. Na caixa em titânio foram assim gravados motivos caligráficos inspirados na fachada exterior do museu que representam a palavra ‘Amor’ em seis caligrafias árabes distintas. De acordo com a De Bethune, o conceito de ‘amor’ em árabe é pronunciado e caligrafado de diferentes formas dependendo da nuance que adota. Entre as muitas palavras árabes que expressam este sentimento, foram selecionadas aquelas que evocam a amizade ‘Al-Amal’, o desejo, o coração, o amor, a paixão e a fé.

Louis Moinet Fuego Nuevo

O Louis Moinet Fuego Nuevo evoca a Piedra del Sol, emblemática da arte asteca | Foto: Louis Moinet

No âmbito do SIAR – Salón Internacional de Alta Relojeria México, que decorreu no passado mês de outubro, a Louis Moinet apresentou o Fuego Nuevo, um relógio único que evoca o ritual que marca o renascimento do sol e a renovação dos ciclos do tempo, simbolizado pela Piedra del Sol, uma das obras mais emblemáticas da arte asteca. Para este relógio, as gravuras da Piedra del Sol foram reinterpretadas num mostrador que tem como base um disco cortado de um dos meteoritos mais antigos descobertos na Terra, o Muonionalusta. Formado há 4,5 mil milhões de anos, este meteorito revela os conhecidos padrões geométricos de Widmanstätten formados no interior da própria rocha.

Para oferecer profundidade e relevo, o mostrador apresenta três diferentes níveis, incluindo um disco em aventurina que acrescenta um toque ainda mais celestial | Foto: Louis Moinet

Tendo em conta a precisão necessária para recriar em miniatura os diversos elementos da obra em causa, a marca recorreu a laser com impulsos ultracurtos na gama dos femtossegundos. Foram assim necessários 9800 esboços para reproduzir todas as referências da peça num mostrador em três níveis, pensado para criar um efeito de maior profundidade e relevo. Por fim, um anel em aventurina acrescenta contraste, bem como acentua a natureza celestial deste relógio de pulso.

Maurice Lacroix Masterpiece Skeleton

No mostrador, dois macacos olham um para o outro numa evocação da obra recentemente exposta no Instituto Wattis | Foto: Maurice Lacroix

Depois de parcerias com diversos artistas ao longo dos anos, a Maurice Lacroix uniu forças com Rodrigo Hernández para criar um relógio único destinado ao TimeForArt, um leilão de beneficência que vai decorrer em dezembro. O artista mexicano, reconhecido pelo seu trabalho variado inspirado na questão ‘Serão os humanos os únicos sonhadores da Terra?’, reinterpretou o Masterpiece Skeleton através da criação de uma escultura que se tornou o mostrador do relógio. Feita em bronze e gravada à mão, esta peça segue a lógica do trabalho de Hernández ao evocar personagens da natureza. Neste caso, dois macacos a olhar um para o outro numa evocação da obra recentemente exposta no Instituto Wattis.

O artista gravou também a sua assinatura na caixa em ouro rosa | Fotos: Maurice Lacroix

«Sabe-se que os macacos estão muito próximos de nós do ponto de vista evolutivo, mas esta proximidade não torna o seu mundo menos único», explica o artista. «Têm experiências conscientes que são inerentemente subjetivas e difíceis de descrever. Ao pensar noutros animais, somos influenciados pelos nossos sentidos e pela nossa visão em particular. Assim, ao colocar dois macacos um em frente ao outro, quero pensar no momento em que dois iguais podem realmente ver-se um ao outro como são, sem este preconceito que descrevi antes.»

MB&F x Eddy Jaquet LM Split Escapement 2024 Series

Detalhe do mostrador inspirado na obra O Livro da Selva | Foto: MB&F

Depois de uma primeira série em 2020 com gravuras inspiradas em obras Júlio Verne, a MB&F voltou a desafiar Eddy Jaquet para uma nova série de relógios, baseadas em oito obras incontornáveis da literatura mundial. Dos 15 romances de ficção juvenil que lhe foram inicialmente apresentados, o mestre gravador selecionou oito como base de trabalho: Robinson Crusoe de Daniel Defoe, Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas, O Último dos Moicanos de James Fenimore Cooper, O Livro da Selva de Rudyard Kipling, O Apelo da Selva de Jack London, Moby Dick de Herman Melville, A Ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson e Robin Hood.

MB&F x Eddy Jaquet LM Split Escapement 2024 Series
Desta vez, a MB&F desafiou Eddy Jaquet a criar oito gravuras inspiradas em obras de ficção juvenil, nomeadamente, Robinson Crusoe, como podemos ver na imagem | Foto: MB&F

O resultado são oito relógios únicos da série LM Split Escapement que têm mostradores personalizados com intricadas gravuras alusivas a episódios das referidas obras literárias. Entre os desafios para levar a cabo o projeto estiveram as diferenças de espessura das placas, a reflexão sobre a composição dos elementos, tendo em conta a obrigatória presença dos submostradores, das pontes e da espiral em relevo no mostrador, e, por fim, os necessários ajustes no LM Split Escapement original, de modo a maximizar o espaço de gravação disponível e permitir a Jaquet expor ao máximo o sei trabalho.

Ralph Lauren American Western

O American Western em formato cushion está agora disponível com mostrador preto. A gravação artesnal da caixa salta especialmente à vista | Foto: Ralph Lauren

Dando continuidade à coleção American Western que a Ralph Lauren lançou em 2018 no âmbito do seu 50.º aniversário, a marca apresenta este ano uma nova versão com mostrador preto do distintivo modelo de formato cushion (ou coussin, ou ‘almofada’) inspirado no imaginário do Oeste americano. Claro que o que continua a saltar à vista é a caixa em prata esterlina ou ouro rosa, personalizada com intricadas gravuras, um trabalho feito à mão por um artesão em Nova Iorque e que compreende ainda o envelhecimento do metal.

As caixas dos relógios são gravadas à mão em Nova Iorque por um artesão especializado | Foto: Ralph Lauren

Por outro lado, a marca volta a optar pelas correias de couro evocativas dos cintos Ralph Lauren que, por sua vez são inspirados nos cintos vintage dos rodeos. Os motivos orgânicos são gravados no Texas, mas depois as correias seguem para Itália onde são patinadas. Homenagem às décadas de 1930 e 1940, a caixa tem 42 mm que serve de moldura para um mostrador preto que mantém a configuração da coleção, com numerais romanos e árabes, e ponteiros de estilo Breguet. Os novos American Western estão disponíveis por encomenda.

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