Rolex Daytona: como um messias

Há anos que os aficionados e a crítica aguardavam pela nova geração do Oyster Perpetual Cosmograph Daytona. Mas a Rolex tem os seus próprios timings e fez-se esperar — a crescente expectativa só fez aumentar a apetência por um cronógrafo que é quase encarado como um profeta da relojoaria.

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Rolex Cosmograph Daytona
©Rolex/Alain Costa

O nome Daytona há muito que apresenta um fascínio mágico para dois universos distintos que, no entanto, são tão próximos que a sua associação se afigura perfeitamente natural. Porque entre o automóvel e o relógio existem mais afinidades do que as existentes entre os ponteiros do mostrador e do velocímetro: são ambos criações dotadas de um coração mecânico, produtos de apurada engenharia que suscitam fortes emoções. As afinidades revelam-se ainda mais evidentes num enquadramento desportivo, quando a fiabilidade e o tempo assumem maior preponderância. E a extensa praia de areias duras em Daytona, da Florida, sempre proporcionou uma pista ideal para corridas contra o tempo — enquanto o cronógrafo com o mesmo nome se mantém como um dos mais cobiçados objetos de culto do Planeta.

Daytona
Bluebird,1935 © Bettmann/Corbis

E tudo começou precisamente com uma aceleração contra o tempo na praia de Daytona. Foi lá que Sir Malcolm Campbell alcançou, de 1930 a 1935 e com um Rolex Oyster no pulso, múltiplos recordes de velocidade a bordo de várias versões do seu Bluebird equipadas com motores de avião. As corridas fizeram com que Daytona se transformasse não só no centro nevrálgico do desporto motorizado americano, mas também se tornasse lendária em todo o mundo, passando posteriormente para um circuito inaugurado em 1959 sob o nome Daytona International Speedway. Não demorou muito até que a Rolex se associasse às 24 Horas de Daytona e essa ligação daria origem em 1963 ao mais famoso de todos os cronógrafos: o Oyster Perpetual Cosmograph Daytona, mítico relógio que tantos pilotos famosos envergaram e que se mantém como um instrumento do tempo de eleição para muitos desportistas de elite.

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Daytona International Speedway, 2016 © Rolex/Stephan Cooper

Há já vários anos que se esperava que a Rolex apresentasse um facelift ou mesmo uma versão completamente nova do seu Oyster Perpetual Cosmograph Daytona em aço, cuja versão vigente havia sido lançada em 2000; primeiro pensou-se que a renovação coincidisse com o 50.º aniversário do lendário cronógrafo, mas por essa ocasião, em 2013, a marca da coroa apresentou ‘apenas’ uma edição em platina. Este ano, com a adesão da Rolex às redes sociais (a marca já estava no Facebook há algum tempo e arrancou com o Instagram no final de 2015), foi possível antecipar que haveria novidades em breve devido a vários teasers publicados e também à frequente recordação da história do Daytona. E em março, no maior certame mundial de relojoaria (Baselworld), os indícios confirmaram-se…


Profeta dos cronógrafos

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Cosmograph Daytona, 2016 ©Rolex/Alain Costa

A espera messiânica tinha acabado, chegou finalmente a nova versão do profeta dos cronógrafos. Um novo modelo Daytona em aço foi desvelado nas tradicionais duas variantes de mostrador branco ou preto — mantendo praticamente a mesma arquitetura da caixa e o mesmo tamanho, mas com um look substancialmente diferente devido à integração de uma espetacular luneta negra em Cerachrom com graduação fina de extraordinária precisão, graças a um revestimento em platina através do procedimento PVD que torna extremamente legível a sua graduação (a escala taquimétrica que permite medir velocidades médias até 400 milhas ou quilómetros por hora).

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©Rolex/Alain Costa

Essa luneta em cerâmica monobloco do novo Daytona é extremamente durável e resistente tanto aos raios UV como à corrosão. A opção pelo negro oferece uma aura estética completamente diferente ao visual que o Daytona tradicional em aço vinha apresentando nas últimas duas décadas. Os diversos retoques no grafismo do mostrador incluem, na versão de mostrador branco lacado, anéis pretos nos submostradores que dão ao conjunto um toque mais vintage, mais reminiscente do Daytona original de 1963 (Ref. 6239), do emblemático modelo de 1965 com caixa Oyster e botões de rosca (Ref. 624) e ainda de uma famosa versão posterior (Ref. 6263); o mostrador preto apresenta anéis acizentados. Todas as aplicações (os indexes para as horas) são em ouro com a inclusão de matéria luminescente Chromalight.

Rolex Cosmograph Daytona
wristshot Rolex Cosmograph Daytona © Espiral do Tempo / Miguel Seabra

A mecânica assenta no mesmo mecanismo relojoeiro de suprema qualidade devidamente certificado pelo Controlo Oficial Suíço de Cronometria: trata-se do calibre automático Cosmograph 4130, um movimento cronográfico de roda de colunas e embraiagem vertical com 72 horas de reserva de marcha, frequência de 28.800 alternâncias por hora, balanço Glucydur com regulação Microstar, espiral Breguet e sistema amortecedor Kif; a novidade é que a garantia foi esticada dos dois até aos cinco anos, como sucede em todos os relógios Rolex a partir de 2016.

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Calibre 4130, que equipa o Rolex Cosmograph Daytona. © Rolex/Jean-Daniel Meyer

É certo que o tamanho da caixa (em aço 904L) mantém o diâmetro de 40 mm que até puxa um pouco para os 39 mm, quando muitos esperariam uma versão um pouco maior — à semelhança do que sucedeu com o Explorer (o Explorer I passou de 36 para 39 mm em 2010; pouco depois o Explorer II foi de 40 para 42 mm) e também porque a média do diâmetro dos relógios aumentou claramente desde o lançamento da vigente caixa Daytona, na década de 90. Mas a Rolex sempre evitou mexer no tamanho do seu lendário cronógrafo até mesmo no auge da moda sobredimensionada (a meio da década passada) — e é inquestionável que a nova versão do Daytona, apesar do mesmo diâmetro, fica bem melhor com o seu tamanho devido ao visual ligeiramente rétro. Por vezes, pequenos detalhes fazem mesmo uma grande diferença.

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Cosmograph Daytona, 2016 © Rolex/Alain Costa

O carisma da Rolex e o facto de se ter tornado num ícone da relojoaria advém precisamente da sua resistência em embarcar nas modas e tendências correntes, a par da sua incondicional busca pela excelência e também da sua posição enganadoramente conservadora — o suposto conservadorismo esconde uma dinâmica busca pela perfeição e o melhor exemplo de evolução (em vez de revolução) é a nova versão do mítico cronógrafo da marca. Se a versão anterior já era um ‘status symbol’ que chegou a ter listas de espera de sete anos no auge da sua fama, o novo Oyster Perpetual Cosmograph Daytona, que começa agora a chegar a conta-gotas ao mercado, já recuperou esse epíteto de relógio em aço de produção regular mais desejado do mundo. Um conselho: corram já a reservar o vosso, porque o que irão pagar por ele (cerca de 11.600 euros, atualmente) quando chegar a vossa vez vão valorizar rapidamente… ET_simb

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