Santos com asas

Quem diria que o grande ícone de uma casa tão francesa como a Cartier teria uma forte conotação brasileira e que o primeiro relógio de aviador se transformaria num símbolo de elegância intemporal? O Santos é um dos modelos mais emblemáticos da história da relojoaria — até porque inaugurou diversos parâmetros e porque se mantém atual como nunca.


Artigo publicado na íntegra no número 82 da Espiral do Tempo (primavera 2023)


Imagem de abertura: Uma das versões de 2023 do Santos de Cartier | © Cartier

A Cartier é uma das mais reputadas griffes no universo do luxo e a marca líder do grupo relojoeiro Richemont — que integra nas suas fileiras tão consagrados nomes como a Vacheron Constantin, a A. Lange & Söhne, a Jaeger-LeCoultre, a IWC, a Panerai, a Roger Dubuis, a Piaget, a Van Cleef & Arpels, a Baume & Mercier e a Montblanc. É também uma marca em claro ascendente nesse importante barómetro que são tanto os leilões como o mercado pre-owned, atingindo valores cada vez mais significativos. Não é para admirar: trata-se de uma maison com uma imagem inabalável e uma história incomparável, que se estende da relojoaria à joalharia, passando pela perfumaria e tudo o resto.

Santos de Cartier, ref: WHSA0009
Santos de Cartier, ref: WHSA0009 | © Cartier

Mesmo que a conotação joalheira seja especialmente relevante, e o monarca britânico Eduardo VII se tenha referido à Cartier como «o joalheiro dos reis e o rei dos joalheiros», a vertente relojoeira da marca também é significativa e com grande peso ao longo das últimas doze décadas. Como se pôde constatar através da escolha de vários protagonistas do século XX. Muhammad Ali e Andy Warhol usaram um Tank. Keith Richards e Bjorn Borg usaram um Panthère. Muitas outras lendárias figuras de todos os quadrantes da sociedade usaram um relógio de pulso da casa francesa — sendo que a primeira foi um distinto brasileiro que era um habitué das altas esferas parisienses e homem de ousados desafios.

Do balão ao avião

Louis Cartier e Santos-Dumont
Esq: Louis Cartier. © Ministère de la Culture – Médiathèque du Patrimoine, Dist. RMN/ /Atelier de Nadar | Dta: Santos-Dumont | © DR

Alberto Santos-Dumont era uma espécie de homem do Renascimento do início do século XX. Conhecido em Paris pela jovialidade e elegância, o dandy oriundo de Minas Gerais tinha múltiplos talentos e espírito desportista; a sua faceta de inventor contribuiu para que fosse considerado, por muitos (sobretudo, os seus compatriotas), o pai da aviação. O certo é que esteve mesmo intimamente ligado aos primórdios da aeronáutica, começando pela construção e pilotagem dos primeiros balões propulsionados a motor de gasolina. Em 1901, voou à volta da Torre Eiffel num balão idealizado por ele mesmo: o Dirigível N.º6 — o que lhe permitiu ganhar o Prémio Deutsch, instaurado por um magnata alemão e no valor de 100 mil francos. As manobras dos seus aeróstatos não eram fáceis de realizar e Alberto Santos-Dumont solicitou ao amigo Louis Cartier algo que lhe permitisse ver as horas sem ter de tirar as mãos dos manípulos para puxar o relógio do bolso. A solução foi confecionar de raiz um relógio para o pulso — e não adaptar um relógio de bolso ao pulso com o recurso a asas soldadas à caixa. 

Leia o artigo completo no número 82 da Espiral do Tempo (primavera 2023).


Espiral do Tempo

Continue connosco: