Edição impressa | A luneta dos relógios de mergulho é um dispositivo de segurança primordial. As suas modalidades de utilização são um campo de aplicação técnica por si só.
Por David Chokron
No momento de saltar para a água, os mergulhadores acertam os seus instrumentos do tempo. A luneta dos relógios de mergulho permite ler quanto tempo as suas garrafas lhes permitem respirar em imersão. Geralmente definida à hora, esta duração é determinante para a sobrevivência, um assunto de segurança que tem consequências específicas na exibição e ergonomia dos relógios. Sendo assim, as lunetas só podem rodar no sentido anti-horário, de modo a que uma manipulação acidental resulte apenas num encurtamento do mergulho. É necessário, no entanto, que estes anéis se mantenham manipuláveis com luvas ou mãos molhadas. Para responder a este conjunto de restrições, os relógios de mergulho apresentam vários níveis de segurança.
Exterior
O primeiro nível é o mais difundido e o mais elementar. A luneta é relativamente suave, com um entalhe ligeiro que facilita a preensão. As marcas desenham estas ranhuras de modo a apresentar uma identidade estética que as distinga, como a Bulgari com os seus entalhes semicirculares. O segundo nível passa por um entalhe mais marcado que permite tornar a rotação mais difícil, logo, mais segura. Neste caso, a mola escondida sob a luneta e torna-a unidirecional e mais ou menos fácil de manipular, e mais rígida. O Diver Deep Dive da Ulysse Nardin é emblemático, mergulhador a 1000 metros sem concessão, anguloso, e no qual o design transmite esta impressão de força. Mas as soluções mais técnicas provêm dos anéis de segurança. Eles cercam a luneta e apresentam um obstáculo à sua rotação.
Dedilhado
Nos modelos de grande profundidade da Seiko, a luneta é rodeada a três-quartos por uma subcaixa. Para a fazer rodar, é necessário imperativamente posicionar os seus dedos nos milímetros deixados acessíveis. A Oris imaginou um anel que cerca a luneta dos seus modelos Pro Diver e impede completamente a rotação. Para regular os seus tempos de mergulho, é necessário levantar este anel negro, algo impossível de realizar por acaso a partir do momento em que desce. A Richard Mille desenvolveu um sistema de dois botões, um às 12 horas e outro às 6 horas, que bloqueia a luneta. É necessário pressionar os dois simultaneamente para a libertar e fazer rodar com os mesmos dois dedos.
Interior
Outra forma de proceder consiste em não deixar no exterior a contagem do tempo de imersão. Com efeito, um anel rotativo, disposto na periferia do mostrador, é igualmente eficaz e legível. As marcas falam assim com frequência da luneta interna por abuso de linguagem. Trata-se com efeito de um anel graduado que faz a ligação entre o mostrador e a a face interior da caixa. O anel pode assim ser colorido à vontade, preenchido com substâncias luminescentes, sem receio de desgaste devido ao contacto com o exterior.
Variedade
A solução mais comum consiste em ligar esse anel graduado a uma coroa. Por uma questão de simetria, os relógios são assim concebidos com esta coroa às 2 horas e com a coroa de corda desviada para as 4 horas. Do seu lado, a Audemars Piguet rompeu com esta convenção estética, posicionando a coroa do Royal Oak Offshore Diver às 10 horas. Numa outra abordagem, a IWC criou uma modalidade híbrida com a nova geração Aquatimer. O anel graduado é rotativo, mas é comandado por uma luneta rotativa standard, sem marcações. Recém-chegada ao domínio dos relógios de mergulho, a Franck Muller imaginou uma solução de leitura/segurança única. De regresso ao ambiente seco, será necessário voltar a colocar a luneta no modo de leitura do tempo. O manuseamento deste anel bicolor faz-se por meio de dois botões de pressão. Por defeito, eles são bloqueados por um gancho colorido. Só quando o gancho está levantado é que é possível ajustar o anel. A segurança na imersão continua, portanto, a inspirar os relojoeiros, tanto no que respeita à técnica, quanto relativamente ao design.
Engenhosidade
Proteger o relógio durante o mergulho e, consequentemente, o seu utilizador, é uma ilustração clara da verdadeira vocação dos relojoeiros. Este trabalho é, acima de tudo, uma prática de engenharia e engenhosidade, indissociável da abordagem do design. Encontrar soluções mecânicas para os problemas ergonómicos da vida quotidiana é a mais profunda razão de ser do relógio. Inventar essas soluções por meio de técnicas comprovadas e de uma inventividade indispensável é a razão de ser dos relojoeiros. Para estes, trata-se, acima de tudo, de dar as horas, claro, mas nunca fora de um contexto a partir do qual derivam as restrições e as funcionalidades. Neste caso, o meio aquático e a elevada pressão barométrica, que representa risco para o mergulhador, é o meio mais exigente que se pode encontrar. Os dispositivos de segurança criados para permitir esta adaptação são o resultado de um estado de espírito focado na conceção aprofundada de mecanismos. Estes são frequentemente internos, mas igualmente externos, tanto em relação ao movimento, como em relação ao invólucro. Em ambos os casos, trata-se de um desafio que a relojoaria supera regularmente, com novas ideias, novas cores e novos argumentos. Tudo em torno de um pequeno anel graduado de 60 minutos.
—