Começa a temporada dos melhores relógios do ano e a gala Timepiece World Awards, realizada no enquadramento do Toronto Timepiece Show, teve um grito de independência e um cheirinho português. O relato do evento e a lista dos vencedores.
Foi no passado sábado fim-de-semana que o Toronto Timepiece Show acolheu a cerimónia inaugural dos Timepiece World Awards — num serão dedicado a celebrar o que há de melhor na relojoaria contemporânea independente. A gala teve lugar no Lyric Theatre do Meridian Arts Centre em North York (Toronto) após a feira ter tido lugar durante o dia, e reuniu líderes da indústria, jornalistas especializados, colecionadores e entusiastas.

O duplo evento foi, ao mesmo tempo, um marco na relojoaria canadiana e uma festa de gala. Pela primeira vez, a comunidade local (e não só) de colecionadores/entusiastas foi convidada a comemorar a excelência relojoeira com a atribuição dos Timepiece World Awards — uma nova celebração da relojoaria promovida por pares da indústria e líderes de opinião, que teve transmissão em direto para todo o mundo via online. Hoje em dia, qualquer evento local que seja significativo ganha facilmente dimensão internacional e em qualquer parte do mundo existe sempre a curiosidade de saber quais são os melhores relógios da temporada. É sempre um exercício aliciante.

E a época dos concursos destinados a elencar os melhores relógios de 2024-2025 (ou apenas de 2025) começou. Para a semana haverá em Zurique a gala Temporis Watch Awards (a Espiral do Tempo estará presente), depois a cerimónia Watch Of The Year em Varsóvia e em Novembro realiza-se o Grand Prix d’Horlogerie de Genève — mas o Timepiece World Awards merece destaque particular por ter ocorrido pela primeira vez e pelos contornos em que se realizou, valorizando as marcas participantes no Toronto Timepiece Show e com uma tendência especial para as micromarcas e marcas independentes. E a britânica Isotope, fundada pelo português José Mendes Miranda, foi consagrada com dois troféus; também a Fears somou dois, um deles em parceria com a Studio Underd0g: não há dúvida, a relojoaria britânica está mesmo em grande!

Criado por Jason Hutton, organizador dos Toronto e Vancouver Timepiece Shows, o certame Timepiece World Awards (TPWA) pretende ganhar espaço a nível global e o leque de categorias em compita foi pensado para reconhecer conquistas excecionais — abrangendo as áreas de design, inovação, narrativa e mesmo serviço. Os TPWAs adotaram uma abordagem orientada para o júri, que envolve um comité inicial de aproximadamente quarenta profissionais e um painel final de sete jurados, garantindo que os vencedores são selecionados com base no mérito e no respeito da relojoaria, em vez da popularidade ou das métricas das redes sociais.

E a noite da cerimónia foi tão requintada como os relógios que homenageou. Os convidados percorreram uma inevitável passadeira vermelha antes de se sentarem no grande teatro, recebidos pelo carismático Colin Mochrie — mais conhecido pelas suas prestações cómicas em Whose Line Is It Anyway?. O humor ágil do apresentador levou o público de uma categoria para outra, fazendo muitas vezes os presentes rir à gargalhada. Mas quem riu melhor foram mesmo os vencedores…
Variedade de Galardoados
Os prémios atribuídos destacaram a extraordinária diversidade da relojoaria moderna, desde a funcionalidade dos tool watches ao artesanato artístico. Aqui ficam as categorias e os respetivos vencedores, escolhidos entre os 185 modelos candidatos:
- Time Only: Isotope Watches – Mercury Shadow. Categoria destinada a relógios tradicionais que apresentam horas, minutos e, opcionalmente, um ponteiro de segundos ou pequenos segundos.
- Chronograph: Angelus – Chronographe Telemetre (OCHO.SG01A.V010S). Categoria para relógios mecânicos com pelo menos uma função de cronógrafo, embora com latitude para complicações adicionais.

- Sports: Oris – Aquis Great Barrier Reef IV Limited Edition. Categoria para relógios desenvolvidos especificamente para o desempenho desportivo, com designs e materiais adequados para estilos de vida mais ativos.

- GMT/Worldtime: DOXA – SUB250T GMT Professional (855.10.351.10). Categoria para relógios capazes de exibir a hora num segundo ou mais fusos horários através de uma funcionalidade mecânica dedicada (as lunetas giratórias não se qualificam por si próprias).
- Tool Watches: Marathon Watch Company – ADANAC SSNAV-D Pilot’s Automatic. Categoroa para relógios específicamente criados para ambientes desafiantes ou profissionais, como mergulho, aviação, militar, médico e serviços de emergência.
- Innovative Complication: Fears – Brunswick 40.5 Jump Hour ‘Edwardian Edition’ (BS240.506). Categoria para relógios que demonstram engenho mecânico, incluindo escapes inovadores, mostradores das horas exclusivos, funções acústicas ou outros conceitos relojoeiros excecionais.

- Exceptional Materials: GoS – Fullero Sword, Midnight Blue. Categoria para relógios que se distinguem pela utilização de materiais inovadores ou invulgares na construção ou acabamento.
- Jewellery and Artistic Craft: AWAKE – Son Mai, Frosted Leaf Green. Categoria dedicada à joalharia e ao artesanato, através de relógios que exibem superlativas técnicas de cravação, gravação, esmaltagem, esqueletização ou outras técnicas artesanais decorativas.

- Foundation: Studio Underd0g x Fears – Brunswick 02SERIES Gimlet (02GIG). Categoria para relógios mecânicos ou de quartzo acessíveis, vendidos por 2.500 dólares ou menos.

- Exception: Kudoke – 3 Flakes Gold. Categoria para relógios com preços entre os 2.501 e os 15.000 dólares.

- Pinnacle: Vianney Halter – Art Deco Metropolis. Gama alta numa categoria de relógios de luxo com preços acima dos 15.000 dólares, representando o pináculo da alta relojoaria.

- People’s Choice — Isotope Moonshot Chronograph Terra Maris e Christopher Ward C12 Loco. Categoria votada pelos participantes do Toronto Timepiece Show; de modo inverosímil, houve dois vencedores: a contagem entre os milhares de visitantes que votaram designou um empate entre os modelos da Isotope e da Christopher Ward!

Vozes dos Vencedores
Para muitas das marcas a concurso, o reconhecimento teve um peso adicional, dado o peso institucional da competição. José Miranda, fundador da Isotope, saiu de Toronto com não um, mas dois prémios — o prémio Time Only e o People’s Choice. «Não estava à espera», disse José Miranda mais tarde. «Nós não produzimos relógios para ganhar prémios. Foi uma grande surpresa. Mas nada muda para nós. Continuaremos a ser humildes. Continuaremos a criar designs, não só para nós, mas para todos».

Entre as muitas marcas independentes, a Oris sobressaiu igualmente por se tratar de uma marca mainstream de grande individualidade — e recebeu o prémio da Categoria Desportiva pelo seu Aquis Great Barrier Reef IV Edição Limitada. «É ótimo ter reconhecimento entre tantos concorrentes de peso no setor», afirmou VJ Geronimo, CEO da Oris para as Américas. «O Aquis Great Barrier Reef IV não é apenas um grande relógio, mas foi concebido para apoiar uma grande causa. Por isso, estamos muito honrados».

O que começou como uma ideia ambiciosa discutida durante um almoço, há dois anos, floresceu num evento que teve quase 6.000 participantes durante todo o fim de semana da feira. Durante um dia, Toronto foi o centro relojoeiro do mundo e esse dia acabou em grande com a gala dos Timepiece World Awards.

E por cá? Num país conhecido e reconhecido pela clemência meteorológica, oferta hoteleira, população afável e preços acessíveis, porque não criar um evento de repercussão mundial que promova a relojoaria, satisfaça os aficionados nacionais e atraia a este cantinho à beira-mar plantado os protagonistas de uma indústria conotada com prestígio? É mesmo preciso colocar Portugal na rota dos concorridos certames internacionais de relojoaria…