Foi com o Natal à vista que surgiu, inesperadamente, uma das surpresas do ano: o Kollokium Projekt 01. O primeiro — e muito original ! — relógio de uma plataforma de projetos fundada por três amigos bem conhecidos dos meandros relojoeiros.
O primeiro vislumbre surgiu no pulso de Manuel Emch durante a Dubai Watch Week. Não era um Louis Erard, a marca pela qual é responsável — nem sequer uma colaboração da Louis Erard com um qualquer mestre ‘fora da caixa’, como já sucedeu com os incomparáveis Alain Silberstein ou Vianney Halter. Também não era um Raketa, marca russa que tem aconselhado. Era algo de completamente diferente, com um mostrador algo bizarro.
O esclarecimento surgiu algumas semanas depois, já em pleno mês de Dezembro: era mesmo um relógio completamente novo, saído de uma parceria a três entre o próprio Manuel Emch, um executivo que nasceu praticamente num berço relojoeiro (a mãe era um quadro do Swatch Group), Barth Nussbaumer, um designer que trabalhou na TAG Heuer e foi autor da estética de modelos da Jacquet-Droz, Hautlence, Petermann Bedat, Louis Erard, Ferdinand Berthoud, Maurice Lacroix, Victorinox ou Georg Jensen, e Amr Sindi, o colecionador que também faz alguns trabalhos na área dos media e é conhecido no Instagram por The Horophile.
O relógio tem o nome de Kollokium, uma variação algo germanofila do termo colóquio. E Kollokium não é propriamente uma marca, dizem eles — é uma plataforma de projetos destinados a explorar alternativas acessíveis na relojoaria que já foi fundada há mais de três anos, em 2020, sem que a iniciativa fosse do conhecimento geral. É-o agora, e de que maneira, graças a um relógio que caiu imediatamente no goto dos especialistas e aficionados pela sua originalidade e preço. E é essa a intenção do triunvirato: fazer relógios mecânicos que transcendam as fronteiras da relojoaria tradicional, incorporando áreas de preferência dos três amigos. Como arquitetura, design, arte contemporânea, subculturas e tudo o que existe pelo meio.
Relojoaria neobrutalista
Mais especificamente, o novo relógio é batizado Kollokium Projekt 01 e é caraterizado, segundo os três amigos, por «um pouco de brutalismo pós-guerra, algo da synth-pop dos Kraftwerk e um contexto retrofuturístico de Philip K. Dick; não é tanto um estilo definido, mas a interpretação de uma disposição através de alguns elementos que podem parecer familiares e outros nunca antes vistos num relógio», dizem, acrescentando que «pode parecer simples à primeira vista, mas uma observação mais de perto é reveladora de detalhes que entram pelos olhos dentro: texturas, profundidade, contraste, jogos de luz e sombra, a sublimação do grafismo e um caos controlado».
E o Kollokium Projekt 01 surge primeiramente como um presente de Natal para amigos e familiares da troika fundadora, num conceito similar ao MAD 1 inaugural de Max Busser & friends: a primeira fornada, de somente 99 exemplares, vai para amigos e familiares de Manuel Emch, Bart Nussbaumer e Amr Sindi. Apresenta um mostrador que é a reconstrução 3D de uma imagem pixelada, com as 12 marcações da hora em destaque através de uma espécie de bastões para as quatro horas cardinais (3, 6, 9, 12) e círculos para as restantes.
De longe, tudo parece esbatido… mais de perto, tudo se clarifica. Há 468 cilindros de seis diferentes alturas e diâmetros que são aplicados à mão no mostrador. O efeito ótico é notável e ainda mais notável em condições de luz precárias, porque cada um dos cilindros é preenchido (à mão!) por material Super-LumiNova que emite uma luminescência alaranjada. Sem afetar a legibilidade das horas e dos minutos, graças a ponteiros inteligentemente concebidos com demarcação em Super-LumiNova e que parecem flutuar sobre o mostrador tridimensional. Não há logótipo, mas o contrapeso em triângulo do ponteiro dos segundos é uma espécie de assinatura do trio…
Quanto à caixa em aço 316L de 40mm de diâmetro por 11mm de espessura (incluindo o vidro de safira glassbox que eleva sobremaneira a estrutura), foi idealizada ergonomicamente com asas curtas para servir quase todos os pulsos e tem um acabamento industrial brutalista, cru, impactante até na sua arquitetura — com uma coroa triangular. A própria bracelete não é comum; é do tipo single-pass com alguma elasticidade e que deixa respirar a pele para secar rapidamente. Relativamente à motorização, a escolha recaiu sobre o movimento automático G101 da La Joux-Perret — com 68 horas de reserva de carga.
O preço? 2.666,66 francos suíços — mais IVA. E, para todos os não-amigos e não-familiares do triunvirato, vale mesmo a pena esperar pela segunda tiragem do relógio…