Ferdinand Berthoud FB2RE

Depois de um auspicioso lançamento coroado com o galardão de relógio do ano no Grand Prix d’Horlogerie de Genève, a Ferdinand Berthoud apresentou recentemente o delfim do premiado FB1 Chronometer — e fomos descobrir pessoalmente o FB2 RE no Geneva Watch Days.

Pois é. Não houve a edição inaugural da Watches & Wonders que era suposto suceder ao Salon International de la Haute Horlogerie e também não houve Baselworld devido à pandemia. Mas o projeto sucedâneo apelidado Geneva Watch Days foi mesmo para a frente (após um adiamento inicial) decorreu durante quatro dias na cidade de Calvino — com o apoio da municipalidade genebrina e um total de 16 marcas associadas. A Ferdinand Berthoud é uma delas e, após a recente divulgação do primeiro modelo da segunda linha do catálogo, fomos conhecê-lo no showroom do Hotel Beau Rivage onde a marca recebeu a imprensa. E o Chronomètre FB 2RE não desiludiu… antes pelo contrário: é mais uma extraordinária peça de relojoaria.

Chronomètre FB 2RE em ouro branco 18kt. © Ferdinand Berthoud
Chronomètre FB 2RE em ouro branco 18kt. © Ferdinand Berthoud

O inaugural FB1 Chronometer foi pensado para fazer jus a Ferdinand Berthoud, o lendário relojoeiro do século XVIII. A recuperação de nomes históricos da relojoaria clássica para o estabelecimento de marcas contemporâneas de relógios de pulso tem sido um exercício frequente; os grandes mestres sempre fascinaram os aficionados e a ideia de não só recuperar pormenores estéticos de alguns como aproveitar detalhes técnicos de outros acaba por ser um desafio fascinante. Karl-Friedrich Scheufele é um grande aficionado dos cronómetros de marinha de Ferdinand Berthoud (isso constata-se pelo espólio do seu museu L.U.Ceum em Fleurier) e decidiu recuperar o lendário relojoeiro do século XVIII ao lançar uma marca de alta-relojoaria sob o seu nome em 2015. O superlativo modelo inaugural conquistou a crítica e ganhou mesmo o prémio principal no Grand Prix d’Horlogerie de Genève em 2016.

Ferdinand Berthoud
Retrato de Ferdinand Berthoud ostentando ao peito a insignia da Legião de Honra. O retrato faz-se acompanhar da inscrição ‘Ferdinand Berthoud, Horloger, Membre de l’Institut de France et de la Légion d’Honneur’. © Chronométrie FERDINAND BERTHOUD SA

A ressurreição do mestre Ferdinand Berthoud tornou-se um projeto pessoal de Karl-Friedrich Scheufele, co-presidente da Chopard e grande mentor da manufatura L.U.C que a marca genebrina tem em Fleurier. Após uma primeira divulgação da Ferdinand Berthoud em Paris, cidade onde o histórico relojoeiro suíço se radicou, Karl-Friedrich Scheufele inaugurou o atelier da sua nova manufatura de alta-relojoaria com pompa e circunstância precisamente em Fleurier, na região de Val-de-Travers de onde Ferdinand Berthoud era oriundo (nasceu em 1727 na vizinha localidade de Plancemont-sur-Couvet). O atelier fica no terceiro andar da manufatura L.U.C da Chopard, do lado oposto ao museu LUCeum (nome que resulta da contração das iniciais de Louis-Ulysse Chopard e do termo latino lyceum, local de aprendizagem) que conta no seu acervo com alguns relógios de Ferdinand Berthoud e descendentes, como o seu sobrinho Pierre-Louis e ainda Charles-Auguste — incluindo o Relógio de Marinha M.M. nº6, datado de 1777.

Relógio de Marinha n.º6, de Ferdinand Berthoud, datado de 1977, exposto no Museu LUCeum © Ferdinand Berthoud
Relógio de Marinha n.º6, de Ferdinand Berthoud, datado de 1977, exposto no Museu LUCeum © Chronométrie FERDINAND BERTHOUD SA

E foi precisamente no Relógio de Marinha nº6 que a Ferdinand Berthoud se inspirou para realizar o novo Chronomètre FB 2RE, também destinado a comemorar uma data especial: o 250º aniversário da nomeação do próprio Ferdinand Berthoud em 1770 como ‘Relojoeiro e Mecânico por Indicação do Rei de França e da Marinha Francesa’. O Chronomètre FB 2RE reinterpreta no pulso a arquitetura do Relógio de Marinha nº6, sendo especialmente caraterizado por uma janela panorâmica no flanco e uma caixa redonda em ouro de 18 quilates que enquadra um belo mostrador com dois níveis em esmalte Grand Feu; o design é aparentemente simples, mas esconde um movimento excecional que combina a transmissão por fuso e corrente com um mecanismo de força constante de um segundo.

o Chronomètre FB 2RE é uma peça contemporânea com raízes profundas no legado de Ferdinand Berthoud que está à altura da reputação inovadora do velho mestre. © Ferdinand Berthoud
O Chronomètre FB 2RE é uma peça contemporânea com raízes profundas no legado de Ferdinand Berthoud que está à altura da reputação inovadora do velho mestre. © Ferdinand Berthoud

A Ferdinand Berthoud assegura que a combinação de uma transmissão de fuso e corrente com um dispositivo de força constante de um segundo é uma estreia absoluta. Independentemente do seu ineditismo, essa associação assegura resultados cronométricos excelentes ­— ou seja, o Chronomètre FB 2RE é uma peça contemporânea com raízes profundas no legado de Ferdinand Berthoud que está à altura da reputação inovadora do velho mestre. E só ao alcance de uma elite conhecedora, já que se restringe a duas exclusivas edições numeradas de 10 exemplares em ouro branco com mostrador branco em esmalte e ouro rosa com mostrador preto em esmalte.

Inspirado pelos históricos relógios da marinha, o movimento está inserido num contentor cilíndrico em ouro de 18 quilates e estanque até 30 metros. © Ferdinand Berthoud
Inspirado pelos históricos relógios da marinha, o movimento está inserido num contentor cilíndrico em ouro de 18 quilates e estanque até 30 metros. © Ferdinand Berthoud

Esteticamente, o Chronomètre FB 2RE aparenta ser muito mais simples do que o FB1 Chronometer — que tinha uma caixa desenhada por Guy Bove (entretanto transferido para outras paragens…) de grande pendor geométrico e construção modular. A caixa do novo Chronomètre FB 2RE também é modular mas não evidente; para começar, também se inspira na modularidade particular dos históricos relógios de marinha descritos pelo próprio Ferdinand Berthoud no seu Tratado dos Relógios Marítimos de 1773: o movimento está inserido num contentor cilíndrico em ouro de 18 quilates e estanque até 30 metros, enquanto as asas são acopladas através de parafusos estilizados e têm entre si um acrescento metálico.

A caixa — em ouro branco ou rosa de 18 quilates com origem ‘ética’ — apresenta 44 milímetros de diâmetro por 14 milímetros de espessura, sendo encimada por uma luneta curva e um vidro de safira sobressaído; também a escotilha lateral que proporciona acesso visual à construção em pilares do movimento e o vidro do fundo transparente são em safira.

Para evocar a sua inspiração histórica, o mostrador é declaradamente simples na sua aparência mas de complicada execução e complexa confecção.  © Ferdinand Berthoud
Para evocar a sua inspiração histórica, o mostrador é declaradamente simples na sua aparência mas de complicada execução e complexa confecção. © Ferdinand Berthoud

Para evocar a sua inspiração histórica, o mostrador é declaradamente simples na sua aparência mas de complicada execução e complexa confecção. Para tornar mais fácil a leitura do tempo a bordo, Ferdinand Berthoud desenhou então um mostrador de dois níveis com dois tipos de graduação no seu Relógio de Marinha nº6: mais ao centro, a indicação das horas surgia em algarismos romanos; na orla, os minutos surgem especificados em algarismos árabes. E a construção do mostrador do Chronomètre FB 2RE segue o mesmo princípio, mas a um nível de sofisticação superior — uma vez que o mostrador é confecionado segundo a refinada técnica de esmaltagem grand feu.

A caixa — em ouro branco ou rosa de 18 quilates com origem ‘ética’ — apresenta 44 milímetros de diâmetro por 14 milímetros de espessura, sendo encimada por uma luneta curva e um vidro de safira sobressaído. © Ferdinand Berthoud
A caixa — em ouro branco ou rosa de 18 quilates com origem ‘ética’ — apresenta 44 milímetros de diâmetro por 14 milímetros de espessura, sendo encimada por uma luneta curva e um vidro de safira sobressaído. © Ferdinand Berthoud

O mostrador, de uma base em aço amagnético, inclui duas partes: um medalhão central espalmado e um anel circundante convexo. A técnica de esmaltagem grand feu implica diversas cozeduras a 800 graus num forno especial, com timings muito precisos para evitar qualquer distorção ou variações de espessura na camada de esmalte. A tipografia também é em esmalte pintado, necessitando de uma cozedura suplementar. O mostrador preto da versão em ouro rosa tem inscrições em esmalte branco, enquanto o mostrador branco da variante em ouro branco inclui inscrições a preto. Os ponteiros dos minutos e das horas são em ouro de 18 quilates e apresentam-se como uma diversificação dos ponteiros do FB1 Chronometer, enquanto o ponteiro dos segundos é feito em titânio para que o seu peso mínimo (0,01 grama) alivie o sistema de força constante. Há um outro ponteiro, o da indicação da reserva de corda, no lado do mecanismo visível através do fundo transparente.

O movimento inclui 26 pontes suportadas por 10 pilares em aço que evocam a construção dos calibres dos cronómetros náuticos Ferdinand Berthoud do século XVIII. © Ferdinand Berthoud
O movimento inclui 26 pontes suportadas por 10 pilares em aço que evocam a construção dos calibres dos cronómetros náuticos Ferdinand Berthoud do século XVIII. © Ferdinand Berthoud

O fundo transparente em vidro de safira permite observar as principais valências do calibre de corda manual FB-RE.FC, construído segundo uma arquitetura inédita na relojoaria contemporânea e claramente associada à Chronométrie Ferdinand Berthoud. O movimento inclui 26 pontes suportadas por 10 pilares em aço que evocam a construção dos calibres dos cronómetros náuticos Ferdinand Berthoud do século XVIII. Foi um século de grande inovação relojoeira que estabeleceu Ferdinand Berthoud como um nome incontornável na história da relojoaria e a construção em escada do Chronomètre FB 2RE é reminiscente das práticas dessa era.

O novo calibre FB-RE.FC apresenta o ineditismo de combinar a transmissão por fuso e corrente com um mecanismo de força constante de um segundo © Ferdinand Berthoud
O novo calibre FB-RE.FC apresenta o ineditismo de combinar a transmissão por fuso e corrente com um mecanismo de força constante de um segundo. © Ferdinand Berthoud

O novo calibre FB-RE.FC apresenta o ineditismo de combinar a transmissão por fuso e corrente com um mecanismo de força constante de um segundo, duas soluções técnicas da alta-relojoaria tradicional que foram associadas pela Chronométrie Ferdinand Berthoud para garantir um funcionamento estável e perfeito ao longo do arco das 50 horas de reserva de marcha. E é essa a precisão mecânica absoluta almejada pela marca. O sistema utilizado no calibre proporciona saltos de um segundo ao ponteiro dos segundos — ou seja, os chamados ‘segundos mortos’, como sucedia nos cronómetros de marinha e nos relógios de pêndulo. A reserva de corda de 50 horas é de 50 horas, embora o tambor acumule energia para várias horas mais… mas o sistema bloqueia a marcha do relógio para além das 50 horas que garantem a anunciada precisão cronométrica. Para essa precisão, a Chronométrie Ferdinand Berthoud também optou por um balanço de inércia variável com quatro masselotes e uma frequência de 18.000 alternâncias/hora para o consumo de energia não ser demasiado elevado. Mas também porque é mais agradável para o olho um funcionamento ‘mais visível’ do balanço.

As nossas impressões

É um relógio substancial. No tamanho, na qualidade, na técnica, no peso. E no lastro histórico. A qualidade vê-se e sente-se no pulso, embora o seu rosto aparentemente simples possa enganar quem esteja à espera de algo mais consentâneo com uma etiqueta de preço superior a 200 mil euros, a mesma fasquia de preço do modelo inaugural da Chronométrie Ferdinand Berthoud. Mas o mostrador é mesmo sumptuoso e, tecnicamente, o Chronomètre FB 2RE é merecedor de todos os encómios. Um relógio para colecionadores que são também grandes aficionados da relojoaria histórica e que não é nada desmerecedor do modelo inaugural da marca, já de si uma maravilha com o seu turbilhão associado a uma transmissão de fuso e corrente.

Características Técnicas

Ferdinand Berthoud
Chronomètre FB 2RE

Cada versão está limitada a 10 exemplares e numerada.

Referência/ FB-2RE.1 (versão ouro branco); FB-2RE.2 (versão ouro rosa).
Movimento/ Mecânico de corda manual,  calibre base FB-RE.FC, 50 horas de reserva de corda, certificado pelo COSC, 21.600 alt/h (3Hz), turbilhão com sistema de força constante fusée à chaîne, 58 rubis.
Funções/ Horas, minutos, segundos, stop-seconds e indicação de reserva de corda no verso.
Caixa Ø 44 mm / Ouro branco ou ouro rosa 18kt, vidro e fundo em cristal de safira com tratamento antirreflexos, estanque até 30 metros.
Bracelete/ Pele de aligátor cosida à mão com fivela em ouro rosa 18kt ou ouro branco.
Preço/ Sob consulta.

Ferdinand Berthoud FB-2RE. Versão em ouro branco 18 kt e versão em ouro rosa 18kt. © Ferdinand Berthoud
Ferdinand Berthoud FB-2RE. Versão em ouro branco 18 kt e versão em ouro rosa 18kt. © Ferdinand Berthoud

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