VO’Clock 2024: mais três marcas em destaque

Entre as várias marcas relojoeiras presentes na VO’Clock, selecionámos algumas de menor mediatismo que merecem o devido destaque em três segmentos completamente distintos: a Lederer, a Leica (sim, a das célebres máquinas fotográficas) e a Yema. Um resumo das novidades.

Visitar um evento relojoeiro é sempre uma experiência enriquecedora no plano pessoal e profissional para qualquer jornalista do setor — e isso torna-se especialmente válido em certames fora do epicentro da indústria, logicamente localizado na Suíça. A Watches & Wonders é a principal feira mundial e os Geneva Watch Days têm vindo a ganhar importância no contexto da relojoaria de prestigio; fora de território helvético, a Dubai Watch Week recolhe as preferências e depois há os restantes eventos. Como o VO’Clock Privé, anualmente integrado na edição de setembro da Vicenzaoro.

A entrada para a Vicenzaoro | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

E depois de algumas notas gerais e das novidades da Zenith, vamos destacar três marcas de patamares bem distintos: a Lederer, do galardoado mestre Bernhard Lederer; a Leica, que criou uma divisão relojoeira que procura replicar as valências das famosas máquinas fotográficas; e a Yema, companhia francesa que se renovou para apresentar atualmente um modelo de negócio baseado em preços acessíveis.

1 | Lederer: a mão do mestre

Bernhard Lederer é um relojoeiro de origem alemã há décadas instalado na Suíça (atualmente com atelier em Saint-Blaise, na zona de Neuchâtel), com trabalho de destaque em múltiplas companhias de renome… até que decidiu lançar a sua própria marca em 2021. E ganhou logo no ano seguinte o Prémio Inovação no Grand Prix d’Horlogerie de Genève com o seu Central Impulse Chronometer.

O mestre Bernhard Lederer e o exclusivo Triple-Certified Observatory Chronometer | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O Central Impulse Chronometer sofreu recentemente uma evolução drástica, com a passagem de um diâmetro de 44mm nesse premiado modelo para uma nova versão de somente 39mm. E não se tratou apenas de uma redução de tamanho; o calibre não só foi reduzido no diâmetro, mas também em 18% da espessura — e houve igualmente a implementação de várias melhorias no sistema de corda, juntamente com uma nova sincronização dos ponteiros dos segundos. Mudar a geometria do escape faz com que houvesse outras repercussões técnicas no resto do movimento, mas o produto final é mesmo sensacional: o novo tamanho faz com que o Central Impulse Chronometer de 39mm (ou CIS 39) possa ser utilizado por praticamente todos os tipos de pulso.

O troféu do Grand Prix d’Horlogerie de Genève em destaque no espaço da Lederer na Vicenzaoro | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Os desenvolvimentos implementados permitem um melhor fluxo de transmissão de energia e, consequentemente, uma precisão ainda mais apurada num conceito mecânico de Bernhard Lederer inspirado pela obra de Abraham-Louis Breguet e de George Daniels. Tudo num estilo simultaneamente clássico e moderno do lado do mostrador, sem esquecer uma fascinante arquitetura mecânica passível de ser apreciada através do fundo transparente em vidro de safira. Em caixas de aço ou ouro rosa.

O novo Central Impulse Chronometer 39 com mostrador em tom azul | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Também foi possível ver em Vicenza o Triple-Certified Observatory Chronometer, uma edição verdadeiramente especial de somente oito exemplares com movimento certificado pelo COSC que receberam igualmente a certificação de três outras instituições de precisão cronométrica: o Observatório de Besançon, em França; o Observatório de Glashütte, na Alemanha; e o Observatoire Cronométrique de Genebra, na Suíça. Nesse sentido, o Triple-Certified Observatory Chronometer é mesmo único.

O Lederer Triple-Certified Chronometer Observatory | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O Triple-Certified Observatory Chronometer surge confecionado numa caixa em aço 904L com 4mm de diâmetro por 12,2mm de espessura e um belo mostrador ‘científico’ com o submostrador dos pequenos segundos descentrado inerente à arquitetura do calibre CIS. Não tem é a abertura de mostrador do Central Impulse Chronometer. O mostrador de uma pura tonalidade branca é confecionado através de vários processos de aquecimento e arrefecimento, e reflete a herança cronométrica com a inclusão das coordenadas dos três observatórios. O preço? Na casa dos 145.000 euros…

2 | Leica: efeitos óticos

A Leica resolveu investir fortemente num produto relojoeiro que estivesse à altura dos pergaminhos da marca na sua área de excelência e logrou apresentar algo de verdadeiramente interessante — tanto que a Espiral do Tempo se associou à companhia germânica num evento realizado no Porto em 2021 destinado a apresentar aos aficionados o modelo de estreia da coleção, nas variantes L1 e L2 com movimento exclusivo de corda manual ‘Made in Germany’.

Espaço de relojoaria da Leica no VO’Clock da Vicenzaoro | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O novo ZM 11 abre uma nova via estética, adotando os princípios do design integrado na sua arquitetura e investindo num surpreendente mostrador de peculiar efeito visual — aplicado em três modelos distintos. Sem esquecer a vertente mecânica.

Fundo transparente do Leica ZM 11 com o calibre desenvolvido pela Chronode e o botão para troca de bracelete | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

O Calibre LA-3001 de corda automática e 60 horas de autonomia foi desenvolvido em colaboração com o conceituado atelier suíço Chronode, do mestre Jean-François Mojon. Mas o grande destaque visual vai para o mostrador e para os efeitos óticos que proporciona. Assenta em duas finas camadas sobrepostas com apenas 0,4mm de espessura cada, com as ranhuras da camada superior a fomentarem os tais efeitos que mudam a cor do mostrador a partir do ângulo de observação.

O Leica ZM 11 Titanium Launch Edition com bracelete de titânio no pulso | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Quanto às variações, o ZM 11 Titanium Launch Edition de estreia surge com um mostrador preto e vermelho e está limitado a 250 exemplares. O ZM 11 Titanium Coffe Black assenta em cores mais quentes e variações do castanho com o dourado. E o ZM 11 Steel Midnight Blue oferece uma tonalidade azulada combinada com o preto.

Tons quentes: o Leica ZM 11 Titanium Coffe Black com uma bracelete em tecido técnico | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

As caixas em titânio ou aço apresentam 41mm de diâmetro e fazem-se acompanhar de uma original bracelete de elos articulados que prolonga o padrão horizontal do mostrador. O lendário fecho vermelho que prende a lente às máquinas fotográficas da Leica surge no sistema de troca rápida de braceletes no verso da caixa. Porque, para além das braceletes metálicas (em titânio ou aço), estão também disponíveis braceletes de tela técnica e em cauchu para mudança do visual dos ZM 11 à vontade do freguês.

O Leica ZM 11 Steel Midnight Blue com bracelete em aço | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Uma linha de relógios muito interessante e consentânea com a filosofia da Leica e do seu responsável, o Dr. Andreas Kaufmann — que já antes havia preconizado a extensão do conceito Leica para uma linha relojoeira.

3 | Yema: retorno em força

A Yema é uma marca francesa fundada em 1848 que esteve em particular evidência nas décadas de 60 e 70, mas desde os anos 80 que não apresentava a pujança que está a adquirir hoje em dia.

Yema: a histórica marca francesa está a regressar em força | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Direcionada para uma faixa de preço competitiva e investindo em modelos históricos que deram que falar nos seus tempos áureos (como os relógios de mergulho e os cronógrafos desportivos), assumiu um modelo de negócio parecido com o de muitas micromarcas e especialmente focado no on-line.

A reedição do histórico Yema Skin Diver Slim com o movimento in-house dotado de microrrotor | Fotos: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Mas a Yema não é propriamente uma micromarca. É uma companhia relojoeira que foi o principal fabricante francês e chegou a exportar quase meio milhão de relógios. E que teve como responsáveis na década de 80 nomes que depois se destacariam noutras marcas, como Henry-John Belmont (depois CEO da Jaeger-LeCoultre) e Richard Mille (que revolucionaria a relojoaria de luxo em 2002); a Seiko adquiriu uma posição maioritária na Yema até que o grupo Ambre France tomou conta dela em 2009, investindo milhões no desenvolvimento do calibre próprio MBP1000 que depois foi aperfeiçoado e transformado nos movimentos Yema2000 (três ponteiros) e Yema3000 (GMT).

O Yema Urban Field com bracelete do tipo Bonklip | Foto: Miguel Seabra

A partir de 2022, a firma estabeleceu-se completamente na região do Jura francês, perto do berço relojoeiro do país em Besançon e paredes-meias com a Suíça. Em 2023 surge a mais recente geração de calibres produzidos in-house, à exceção dos órgãos reguladores de origem helvética: o Calibre CMM.20 torna-se no primeiro movimento francês com microrrotor, o CMM.30 combina um turbilhão com uma complicação das marés e o CMM.10 é um movimento básico de três ponteiros mas com precisão cronométrica.

O Yema Navygraf Slim CMM.20 Limited Edition | Foto: Miguel Seabra/Espiral do Tempo

Atualmente, a Yema tem uma capacidade de produção que faz dela uma força crescente. Para além das suas valências industriais: tem três calibres automáticos próprios (entre os quais um dotado de microrrotor), para além dos movimentos de corda manual. Para além de cronógrafos (mecânicos ou mecaquartzo), apresenta na coleção interessantes modelos revivalistas de mergulho e até uma sua interpretação do design integrado típico dos anos 70 que tem estado tão em voga.

O Yema Urban Traveller assume a tipologia do design integrado tradicional dos anos 70 | Foto: Miguel Seabra

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