No espaço de três dias, três relevantes marcas de alta-relojoaria conceptual que saltaram para a ribalta no novo milénio apresentaram as suas primeiras novidades de 2021. Mas se no caso da Urwerk e da MB&F se trata de uma nova e espetacular versão de um modelo existente, a De Bethune lançou uma inédita obra-prima.
Ano novo, vida nova? Com a pandemia a grassar por todo o mundo, não há dúvida de que 2021 se mantém na senda de 2020 — mas, enquanto o mercado relojoeiro regular continua a sofrer com a pandemia, o recente anúncio de novidades de monta por parte de três das mais relevantes marcas milenares serviu para animar um pouco os ânimos dos aficionados mais indefetíveis da alta-relojoaria alternativa. Em três dias consecutivos, a Urwerk, a De Bethune e a MB&F desvelaram os seus primeiros relógios do ano e não deixaram os seus créditos por mãos alheias…
Urwerk UR-100V T-Rex
Na verdade, a Urwerk não é propriamente uma marca do novo milénio — foi fundada ‘ainda’ em 1997 por Felix Baumgartner e Martin Frei, que continuam à frente dos destinos da companhia. Mas obviamente que foi já dentro dos anos 2000 que a marca ganhou força e projeção através de múltiplos galardões no Grand Prix d’Horlogerie de Genève e uma clientela muito virada para soluções alternativas de mostrar o tempo. O UR-100 tem sido um dos favoritos da coleção nos últimos tempos e o primeiro relógio apresentado pela Urwerk em 2021 é mais uma versão do UR-100.
O UR-100V T-Rex apresenta-se com uma caixa em bronze envelhecido e um acabamento sulcado que evoca a pele do rei dos predadores no tempo dos dinossauros: o Tyrannossaurus Rex. Esse acabamento, já utilizado no UR-105 T-Rex de 2016, provoca de imediato uma forte impressão visual e táctil que faz com que o UR-100V T-Rex se tenha tornado instantaneamente na mais cobiçada de todas as variantes do UR-100 — um modelo que assenta no sistema satélite usado pela Urwerk há já cerca de duas décadas e que até é dos menos caros da coleção.
O padrão da gravação em relevo da caixa evocativo da pele do poderoso réptil é irregular e gradual; após a textura ser implementada, a caixa em bronze recebeu um tratamento de jato de areia para ganhar um acabamento mate; depois foi tratada com químicos para a obtenção de uma patina particular e parcialmente polida para um efeito final acastanhado espetacular.
Mecanicamente, o UR-100V T-Rex tem dois indicadores celestiais às 10 e às 2 horas — que anunciam a distância percorrida pela Terra na rotação do seu próprio eixo e da Terra na sua trajetória orbital à volta do sol. A indicação do tempo é efetuada pelo sistema orbital de discos típica da Urwerk com a hora digital a apontar para a escala dos minutos. No Calibre UR 12.01 de corda automática utilizado sobressai também um rotor tipo turbina. O UR-100V T-Rex é limitado a 22 exemplares vendidos ao preço unitário de 50 mil francos suíços.
De Bethune DB Kind of Two Tourbillon
Fundada em 2002, a De Bethune cimentou a sua crescente fama numa estética singular e numa técnica irrepreensível implementada pelo mestre Denis Flageollet que também lhe valeram inúmeros galardões. E o novo DB Kind of Two Tourbillon será seguramente um dos relógios do ano, com tudo para recolher eventualmente mais alguns prémios para o currículo da marca de L’Auberson. Baseado na estrutura do DB-28, apresenta-se como a proposta exclusiva da De Bethune em relação aos sempre apetecíveis (mas pouco usuais) relógios de duas faces. O DB Kind of Two Tourbillon é mesmo um dois em um — e com um preço redobradamente a condizer: 215 mil francos suíços.
No DB-28 Kind of Two Tourbillon, a arquitetura de asas flutuantes do DB-28 inclui uma espécie de eixo sobre o qual a caixa do relógio roda — podendo o utilizador escolher qual dos dois mostradores prefere, sendo que ambos se completam para personificar a dualidade de estilos da De Bethune. Um lado mais clássico, que caraterizou os primeiros anos da marca e que continua presente nalgumas das suas criações; e um lado mais futurista, que expressa bem a estética original que tem granjeado a admiração do mundo relojoeiro. O lado mais clássico é mais simples, com algarismos árabes e três ponteiros Breguet; o lado vanguardista inclui o turbilhão patenteado de alta frequência.
Pode dizer-se que o lado vanguardista é o principal, devido ao turbilhão (de 30 segundos, ultra-leve e com um balanço de silício e platina que bate a 36.000 alternâncias/hora); inclui também elementos de estilo habituais na De Bethune, como a característica ponte em delta e as superfícies de titânio polidas de onde sobressaem apontamentos azulados. O Calibre DB2579 de corda manual com cinco dias de reserva de corda foi construído para poder dar a mesma hora nas suas duas faces opostas. A caixa tem pouco mais de 42 milímetros de diâmetro por apenas 9,5mm de espessura.
MB&F HM9 Sapphire Vision
Cronologicamente, a MB&F foi a terceira das três marcas a ser fundada — em 2005. E foi também a terceira do triunvirato a revelar a sua primeira novidade de 2021, curiosamente no dia de aniversário do seu fundador: Max Büsser, que inclusivamente já lançou modelos em colaboração com a Urwerk e a De Bethune. O presente que o aniversariante teve para dar ao universo relojoeiro foi de relevo, já que o HM9 Sapphire Vision é uma cintilante variante da sua nona Horological Machine e o preço revela-se igualmente substancial. 390 mil francos suíços… mais impostos.
O HM9 Flow foi lançado em 2018, evocando a escola de design denominada Streamline Moderne que tanto influenciou a estética de automóveis e comboios nas décadas de 30 e 40. No HM9 Sapphire Vision, o uso de grandes superfícies em vidro de safira torna o relógio mais transparente e, simultaneamente, mais técnico devido à melhor visibilidade de toda a sua estrutura mecânica formada por 301 componentes. O novo HM9 é lançado em quatro declinações: duas em ouro rosa, duas em ouro branco, cada qual limitada a cinco exemplares numa tiragem total de 20 peças.
A caixa em safira é complexa de confecionar, até pela sua estrutura tripartida e arredondada. Mas o resultado final é soberbo e coloca em especial evidência toda a parte mecânica — com uma fuselagem central que indica o tempo e dois ‘reatores’ que alojam as rodas de balanço gémeas, que batem a 18.800 alternâncias/hora. A transparência quase total oferece um efeito visual muito distinto do HM9 Flow, mas tem um custo elevado: para além do já referido preço, exige 350 horas de preparação e muitos exemplares da caixa deitados para o lixo, porque qualquer imperfeição implica a consequente inutilização. O mostrador, também ele em vidro de safira, está colocado verticalmente a 90 graus e contribui para a grande transparência da peça. Max Büsser tem afirmado entusiasticamente que o HM9 Sapphire Vision é o mais louco e contém o movimento mais bonito de todos os Horological Machines. Pelos vistos teve o melhor aniversário possível…