A relojoaria independente de prestígio continua a ganhar adeptos e a maravilhar aficionados. A Genus, revelação do GPHG de 2019, lançou uma nova variação do seu conceito mecânico. A Fleming estreou-se com três variantes do seu modelo inaugural.
As grandes marcas tradicionais estão bem e recomendam-se, como se pode constatar na tabela divulgada pela Morgan Stanley que tem a Rolex, a Cartier, a Omega, a Audemars Piguet e a Patek Philippe à cabeça. No entanto, as marcas independentes de alta relojoaria continuam a ganhar espaço e a seduzir aficionados que preferem ter no pulso algo que mais ninguém (ou quase mais ninguém) usa. Na última quinzena, duas marcas independentes estiveram em destaque — uma por via do lançamento de uma variante da complicação serpenteante que a tornou conhecida, outra através do seu próprio lançamento.
Genus: novo capítulo com o GNS2
A Genus foi uma das grandes revelações de 2019 e ganhou logo o galardão da ‘Mecânica de Exceção’ na edição desse ano do Grand Prix d’Horlogerie de Genève — e a singular interpretação relojoeira da marca sediada em Plan-les-Ouates, nos arredores de Genebra, teve depois múltiplas variações e até mesmo colaborações (como na edição do Only Watch com a Singer Reimagined) assentes numa complicação mecânica protegida por duas patentes. A ‘edição de lançamento’ do novo GNS2 dá continuidade ao espírito da Genus, mas apresenta um visual que é distinto.
Liderada pelo jovem mestre relojoeiro Sébastien Billières e pela COO Catherine Henry, ambos co-fundadores da marca, a Genus aplicou de maneira distinta o conceito ‘serpenteante’ de apresentar o tempo — numa espécie de ‘oito’ aplicado no mostrador de um relógio de espírito sport chic. Tudo com componentes e acabamentos da mais alta qualidade, com os diversos níveis, relevos e texturas a criarem um aliciante efeito visual numa fusão arquitetural do espaço, tempo e luz. O movimento, o mostrador e a decoração são confecionados à mão por Sébastien Billières, numa justaposição de formas hemisféricas, côncavas e esféricas complementada por superfícies marteladas (com uma ponta de 1/10 de milímetro!), escovadas, anguladas e polidas.
Num fundo prateado, sobressaem os dois discos submostradores da ‘Genera’ (o nome dado ao sistema mecânico da Genus) com fundo contrastante a negro; as indicações do tempo surgem a azul, passando de uma órbita para a outra. O ‘oito’ acaba também por ser o símbolo do infinito que é o tempo. Os minutos são indicados pela seta azul que se desloca no centro do mostrador; as horas são indicadas por três pequenas setas origami que parecem flutuar na periferia da complicação. Os parafusos não só fixam o mostrador como proporcionam um elemento de estilo adicional.
Quanto à caixa estanque a 30 metros com 43mm de diâmetro, é feita a partir de um bloco de titânio de grau 5 e faz-se acompanhar de um vidro tipo glassbox para uma abertura total do mostrador; apresenta uma maior ergonomia e menor espessura do que a do modelo inaugural — incluindo um fundo transparente em vidro de safira que revela o novo Calibre 260Rh-2 de carga manual, baseado no movimento do GNS1 inaugural mas com evidentes cambiantes estéticas. De um lado, o mecanismo de base com 50 horas de autonomia; do outro a placa com a complicação de horas e minutos que é a assinatura da Genus.
Fleming: projeto de colecionador
Quando Casper Ruud, na altura número quatro do ranking mundial de ténis, ergueu o troféu do Millennium Estoril Open há sensivelmente um ano, muito pouca gente sabia que relógio ele tinha no pulso. E o relógio que ele tinha no pulso era um dos primeiros protótipos de uma nova marca independente que seria apresentada num futuro próximo. Demorou mais do que o previsto e passou quase um ano até ao anúncio oficial, no recente dia 11 de março: o relógio de Casper Ruud era um Fleming, baptizado com o nome de um colecionador norte-americano que resolveu fundar a marca com premissas de alta relojoaria.
Thomas Fleming começou a pensar em fundar a sua própria marca durante a pandemia e colocou a fasquia muito elevada, como se pode constatar pelos nomes associados ao projeto: os galardoados mestres relojoeiros Jean-François Mojon (através do seu atelier de complicações Chronode) e Kari Voutilainen (via a sua manufatura de mostradores em Val de Travers, a Comblémine). Para além de James Kong (COO e Art Director). Ou seja, a Fleming foi lançada com um calibre exclusivo de corda manual idealizado por Mojon e um mostrador em guilloché supervisionado por Voutilainen. Nada mal!
O lançamento foi feito através de três variantes do modelo inaugural, o Series One Launch Edition — um elegante dress watch com códigos estéticos tradicionais misturados com algum modernismo, mas sobretudo dotado de acabamentos superlativos que o colocam no patamar da alta relojoaria. A inspiração baseia-se na relojoaria tradicional, com nuances que lhe conferem um carisma muito próprio… e uma ligação especial entre a forma das asas e o centro do mostrador. E as asas ocupam um lugar muito especial na arquitetura da caixa com 38,5mm de diâmetro por 9mm de espessura: são esqueletizadas lateralmente e assumem uma forma de gota próxima de alguns modelos históricos.
O Series One Launch Edition está disponível em três versões: uma em platina (sete exemplares, a 51.000 CHF cada), outra em ouro rosa (sete, 45.500 CHF) e outra em tântalo (25, 45.500 CHF). O modelo em tântalo sobressai pelo material escolhido, uma vez que se trata de um metal extremamente difícil de trabalhar. Para reforçar a personalidade dressy do relógio, surge equipado de origem com uma correia de crocodilo. Apesar da caixa neo-rétro e do movimento FM-01 especialmente decorado (e com indicação de reserva de corda vista através do fundo do relógio) com sete dias de reserva de carga, o protagonismo imediato vai para o mostrador. Ostenta um submostrador para pequenos segundos muito bem proporcionado e sobretudo um aturado trabalho decorativo: a versão em platina apresenta um mostrador em tons ‘Southwestern Brown’ e ambrósia; a variante em ouro rosa tem um mostrador em guilloché cinzento carbono e champanhe martelado; a opção em tântalo inclui mostrador em frosted platinum e aventurina azul. Um interessante projeto concretizado de maneira soberba!