Com origem nos primeiros relógios de mergulho com função de alarme, o Memovox Polaris da Jaeger-LeCoultre remonta à década de 1960 e ali permaneceu até emergir em 2018 como uma coleção de espírito desportivo e elegante que une diversos universos — permanecendo, ainda assim, fiel aos elementos estéticos que caraterizam o modelo original. Este ano o lançamento de um calendário perpétuo como novo membro da família revela-se uma boa surpresa.
Artigo originalmente publicado no número 78 da Espiral do Tempo (primavera 2022)
Lançada em 2018, a coleção Polaris da Jaeger-LeCoultre pode ser encarada como exemplo de uma tendência que continua a sentir-se em força na relojoaria: com patrimónios ricos e repletos de história, muitas marcas descobrem em modelos do passado a sua inspiração para a criação de novos modelos. Não é a primeira vez que falamos disto, nem será a última. Mas, se por vezes, esta redescoberta soa a redundância e a caminhos mais fáceis, outras vezes soa mesmo a caminho certo. Principalmente quando se nota uma preocupação em recriar com coerência e consistência, respondendo à evolução dos tempos. Neste contexto, a coleção Polaris é, de facto, um exemplo da tendência flagrante de inspiração em modelos antigos, mas é também um exemplo de como é possível continuar a escrever uma história com princípio, meio e fim, surpreendendo ao mesmo tempo. A adição de um novo Polaris com calendário perpétuo à coleção traz este fator surpresa – afinal trata-se de uma coleção inspirada diretamente no Memovox Polaris, um relógio de mergulho da década de 1960, com uma identidade estética bem marcada.
Mergulho no azul
A origem do Memovox Polaris que inspirou a atual coleção Polaris remonta ao Memovox, o primeiro relógio de pulso com alarme e mecanismo de corda manual da Jaeger-LeCoultre, lançado em 1950, e ao seu sucessor de corda automática, de 1956. No final dos anos 50, foi apresentado o Memovox Deep Sea, o primeiro relógio de mergulho com função de alarme – um modelo que, ao ser aperfeiçoado, acabaria por dar então origem ao Memovox Polaris, apresentado em 1965, depois de alguns protótipos terem começado a aparecer. Com caixa de 42mm, mostrador de excelente legibilidade, estanqueidade até 200 metros e função de alarme, o Memovox Polaris destacava-se pela arquitetura em três partes que garantia um som mais intenso dentro de água e uma estanqueidade maior à medida que a profundidade fosse mais elevada. Além disso, era resistente aos choques e ao magnetismo e tinha uma luneta rotativa interna, controlada por uma terceira coroa. Alguns destes aspetos técnicos foram adotados nos atuais modelos Polaris, mas o mostrador em setores com luneta interior, os indexes em forma de trapézio e os numerais geometrizados com tratamento luminescente são os elementos estéticos que evocam a versão de 1968, a mais cobiçada das versões do Memovox Polaris e aquela que efetivamente inspirou a coleção.
Depois de ter apresentado modelos Polaris de formato oval na década de 70, a Jaeger-LeCoultre aventurou-se na viragem do milénio pela sobredimensionada linha Master Compressor também com reminiscências do Memovox Polaris de 1968, traduzidas num estilo moderno e numa grande resistência a condições extremas. A inspiração histórica foi sobretudo óbvia no formato dos numerais e nos marcadores das horas, enquanto a grande novidade passou pelo sistema de válvulas protetoras que assegurava níveis elevados de estanqueidade. No entanto, a transição para a segunda década do novo milénio foi acompanhada por uma gradual adesão a perfis vintage e a tamanhos mais conservadores.
A Jaeger-LeCoultre focou-se então nas suas linhas clássicas e continuou a desenvolver grandes complicações, com algumas exceções de caráter desportivo, até voltar a sentir a necessidade de renovar o seu catálogo com a inclusão de uma nova família de índole casual-elegante. Sob a direção criativa de Lionel Favre, nascia assim a coleção Polaris, coincindindo com as Bodas de Prata do Memovox Polaris de 1968, que já tinha sido reeditado em 2008 através do Memovox Tribute to Polaris 1968, uma reprodução muito aproximada do original, acompanhada da edição Memovox Tribute to Polaris 1965. Aquando da apresentação da nova coleção, em 2018, a Jaeger-LeCoultre desvelou cinco modelos distintos de maior ou menor complexidade, com diferentes variantes de mostradores e materiais da caixa: o Polaris Memovox (uma reedição do original limitada a 999 exemplares), o Polaris Automatic, o Polaris Date, o Polaris Chronograph e o Polaris Chronograph WT. Meses depois era apresentado o Polaris Geographic Worldtimer, numa edição limitada restrita às boutiques da marca. Entretanto, o Polaris Date recebeu uma declinação especial para o mercado americano que se distinguia pelo bonito mostrador azul degradé. Os restantes modelos de produção dita regular passaram a estar disponíveis em mostrador preto ou azul uniforme.
Em 2020, a linha Polaris foi enriquecida com a ramificação Polaris Mariner de vocação mais marítima. Enquanto os Polaris exibem uma personalidade mais urbana e estanqueidade entre os 100 e os 200 metros, os Polaris Mariner refletem uma aura náutica sublinhada por nuances azuis no mostrador e estanqueidade até aos 300 metros. Atualmente, o site da marca contempla 15 referências – com modelos em aço e ouro e mostradores pretos, azuis ou cinzentos. É agora complementada com um interessante calendário perpétuo, em duas versões: aço e ouro rosa. De mostrador azul.
O melhor de outros mundos
Além da função de alarme, o Polaris Memovox de 1968 tinha indicação da data e a Jaeger-LeCoultre optou por usar esta indicação em alguns dos atuais modelos – os mais parecidos com o original, precisamente. A coleção Polaris exala um visual desportivo que vai ao encontro da elegância da marca suíça. E nós acrescentamos: são estruturados, requintados e com acabamentos que fazem a diferença. Da mesma forma que esta coleção evoca nos modelos cronográficos o lado menos falado da sua ligação ao automobilismo e nos modelos worldtimer o fascínio das viagens pelo mundo, a manufatura atreve-se e acrescenta à coleção uma exigente complicação relojoeira num relógio de perfil casual e desportivo.
Com caixa de 42mm em aço ou ouro, o novo Polaris Perpetual Calendar tem mostrador azul degradé (inspirado no Polaris Mariner Memovox), evocando a transição do dia para a noite. O equilíbrio e a legibilidade são enfatizadas pelas indicações do calendário exibidas em três submostradores: os indicadores de data, mês e dia encontram-se às 9, 12 e 3 horas, respetivamente, com o ano apresentado no indicador de mês. Depois a indicação de fases da Lua é apresentada às seis horas, com uma exibição retrógrada para o hemisfério Sul a servir de moldura para uma exibição clássica para a sua contraparte Norte. Cada submostrador é ligeiramente recuado e com acabamento em texturas diferentes – caraterística de todos os modelos da coleção. No centro do mostrador, um discreto indicador de zona de segurança fica vermelho entre as 20h e as 04h como forma de chamar a atenção para o facto de que não se deve acertar a hora ou o calendário durante esse período de tempo. Destaque ainda para os ponteiros esqueletizados e os indexes aplicados em forma de trapézio, com revestimento luminescente, o que favorece a legibilidade em todas as condições de luz. A caixa de 42mm, em aço ou ouro rosa, apresenta os principais códigos de design Polaris: linhas marcadas, molduras finas, vidro e superfícies com acabamento escovado e polido. O fundo transparente permite acompanhar o funcionamento do calibre Jaeger-LeCoultre 868AA, uma versão atualizada, de acordo com as mais recentes tecnologias, e com reserva de corda ampliada, de um movimento de calendário perpétuo que apareceu pela primeira vez em 2013.
Perante este lançamento, muitos podem argumentar que dificilmente alguém vai mergulhar com um calendário perpétuo no pulso, tendo em conta a sua complexidade técnica. A verdade é que também há quem não mergulhe com relógios de mergulho e, no entanto, os relógios de mergulho estão entre os favoritos de muitos colecionadores. Trata-se apenas de uma questão de gosto pessoal e não funcional – como tanta vezes (ou cada vez mais vezes) acontece no mundo da relojoaria mecânica. Por outro lado, a coleção Polaris não contempla apenas relógios de mergulho; é uma coleção eclética que tem o mérito de reunir complicações utilitárias em modelos de perfil elegante e desportivo. E que melhor espírito prático pode haver do que um relógio com uma indicação de calendário que leva em conta as irregularidades dos meses
e dos anos, inclusive dos anos bissextos? A Jaeger-LeCoultre mostra desta forma que é possível fugir do esperado e fugir a convenções. Para isso, uniu elementos do seu património à sua capacidade inventiva e experiência comprovada na criação das mais celebradas complicações. O resultado é um relógio que faz sentido hoje e que tem tudo para fazer sentido no futuro também.
Características técnicas
Jaeger-LeCoultre
Polaris Perpetual Calendar
Ano de lançamento | 2022
Referência | Q9088480 (aço); Q9082480 (ouro rosa)
Movimento | Mecânico de corda automática. Calibre JLC 868Q, 70h de reserva de corda.
Funções | Horas, minutos, segundos, calendário perpétuo com indicação das fases da Lua para os dois hemisférios e zona de segurança vermelha.
Caixa ø 42 mm | Aço ou ouro rosa. Estanque até 100 metros.
Bracelete | Intercambiável em aço com fecho de báscula ou cauchu com fivela em aço (versão em aço). Cauchu ou pele de aligátor com fivela em ouro rosa (versão em ouro rosa).
Preço | Sob consulta.
Relógio cedido por Watchers.
Visite o site oficial da Jaeger-LeCoultre para mais informações.
