O lendário fabricante de caixas de alta-relojoaria Jean-Pierre Hagmann deixou-nos aos 85 anos de idade. Uma retrospetiva sobre a sua vida e a sua obra.
No passado mês estava feliz e parecia em forma. E, em novembro, recebeu uma ovação de pé quando recebeu, no Théâtre du Léman, o Prémio Especial do Júri do Grand Prix d’Horlogerie de Genève — depois de já ter anteriormente recebido o também prestigiado Prémio Gaïa. O lendário Jean-Pierre Hagmann, porventura o mais destacado fabricante de caixas de alta-relojoaria no último meio século, morreu na passada segunda-feira. Tinha 85 anos de idade.
Para além dos consagrados mestres relojoeiros e dos CEOs das mais conhecidas marcas, apenas os grandes designers têm logrado ganhar protagonismo na relojoaria. Jean-Pierre Hagmann, embora longe da notoriedade de um Gerald Genta e conhecido somente no meio mais restrito do colecionismo, foi uma exceção.
Assinatura ‘JPH’
Nascido em Genebra no ano de 1940, começou a trabalhar na relojoaria como aprendiz em 1956, desenvolveu o seu ofício com o mestre Svend Andersen e acabou por conceber e produzir caixas para a grande maioria dos grandes nomes da indústria; ganhando importância no período do renascimento mecânico que, em meados da década de 80, se seguiu à crise do quartzo, as caixas manufaturadas com a caraterística assinatura das suas iniciais ‘JPH’ (no interior de uma das asas) tornaram-se especialmente procuradas por colecionadores e valorizadas em leilões.
Entre as marcas para as quais Jean-Pierre Hagmann trabalhou estão a Andersen Genève, a Franck Muller, a Blancpain, a Roger Dubuis, a Jaeger-LeCoultre, a Audemars Piguet, a Vacheron Constantin e, sobretudo, a Patek Philippe — para quem concebeu caixas para repetidores de minutos capazes de reproduzir um som excecional. Sempre utilizando ferramentas tradicionais e rejeitando o recurso às técnicas digitais para desenhar as suas caixas: para um artista da velha guarda como ele, o lápis, o papel e o compasso valiam mais do que qualquer programa de computador CAD.
Segundo fôlego
Em 2018, vendeu o seu atelier à Vacheron Constantin e reformou-se… para regressar no final do ano seguinte, desafiado por Rexhep Rexhepi e seduzido pelo projeto ‘conservacionista’ do jovem mestre na Akrivia. O multigalardoado Chronomètre Contemporain tem a assinatura ‘JPH’ gravada e é a prova de que se pode confecionar um relógio de pulso contemporâneo segundo as premissas de alta relojoaria da primeira metade do século passado. Entretanto, Jean-Pierre Hagmann foi formando novos aprendizes ao longo dos últimos anos na Akrivia.
A sua derradeira grande foi a caixa do complexo Louis Vuitton x Akrivia LVRR-01 Chronographe à Sonnerie. E a derradeira grande ovação foi a do conhecedor público que lotou o Théâtre du Léman para assistir à edição de 2024 do Grand Prix d’Horlogerie de Genève. De estatura diminuta, Jean-Pierre Hagmann encheu o palco.
Aqui fica a nossa homenagem ao mestre artesão e à sua obra, que viverá para a posteridade através de alguns dos mais belos relógios de pulso jamais feitos.
