O regresso em força do design integrado dos anos 70 tem caraterizado a relojoaria na última meia dúzia de anos, potenciando o look full metal. E no Watches and Wonders, houve duas braceletes da Rolex e da Jaeger-LeCoultre que assumiram merecido protagonismo, com mais algumas menções honrosas.
No Watches and Wonders Geneva 2025
A febre do design integrado que marcou o advento do relógio moderno na década de 70 voltou a estar bem patente na recente edição do Watches and Wonders — com novas interpretações da tipologia, algumas mais esperadas do que outras. No primeiro caso, está a versão de 36mm do Bell & Ross BR05 e o esperado 222 em aço da Vacheron Constantin. No segundo, o Type 7 da Ressence e, sobretudo, o Land-Dweller da Rolex. Para além de tudo o resto, desde novas versões do Antarctique da Czapek até aos exercícios joalheiros femininas do Nautilus da Patek Philippe, sem esquecer o espetacular novo modelo da Louis Moinet 1816 que homenageia o primeiro cronógrafo mecânico de sempre.

A manufatura germânica A. Lange & Söhne adicionou mais uma variante do integrado Odysseus e a Zenith ‘inventou’ uma apelativa bracelete temática para o seu G.F.J. comemorativo. A própria Oris apostou muito em novas braceletes metálicas e a Chronoswiss lançou o seu primeiro modelo de sempre de design integrado. Mas há dois casos especiais de braceletes (e não de relógios-bracelete) a merecerem protagonismo por mérito próprio.

A Jaeger-LeCoultre já tinha vestido anteriormente o seu lendário modelo reversível com braceletes metálicas e o Reverso Grand-Sport do final dos anos 90 até tinha uma espécie de bracelete integrada na caixa, mas raramente se viu o Reverso equipado com braceletes metálicas ao longo dos tempos… o que faz com que a nova bracelete de malha milanesa em ouro adaptada ao Reverso Tribute Monoface Small Seconds Or Déco seja simplesmente brilhante. Quanto à Rolex, a marca da coroa que é a rainha dos relógios com bracelete metálica, equipou surpreendentemente o seu 1908 em ouro com uma bracelete condizente e denominada Settimo.

A tendência para braceletes em metal precioso que são exclusivas para relógios específicos terá começado no ano passado, com o Golden Ellipse da Patek Philippe.
Malha Milanesa: Ovo de Colombo da Jaeger-LeCoultre
O Reverso existe desde 1931 e já foi explorado em quase todas as suas dimensões. Mas nunca antes tinha sido apresentado com uma bracelete Milanaise. E quando o Reverso Tribute Monoface Small Seconds Or Déco foi apresentado com uma condizente bracelete em malha milanesa de ouro rosa, houve muita gente a questionar-se: como é que ninguém pensou anteriormente numa tal solução? Porque o conjunto é mesmo impressionante.

Ou seja, a nova bracelete metálica em malha milanesa do Reverso é uma espécie de ‘Ovo de Colombo’. Parece evidente, mas primeiro é necessário ter a ideia — que foi concretizada brilhantemente pela Grande Maison, porque se trata de uma bracelete muito fina e extremamente confortável. E que não só se adapta perfeitamente ao pulso como combina de maneira exemplar com a arquitetura retangular e estilo Art Déco do próprio Reverso (embora requerendo uma adaptação no interior das asas para a fixação da bracelete). A combinação catapultou mesmo o Reverso Tribute Monoface Or Déco para o papel de protagonista entre os novos modelos da Jaeger-LeCoultre apresentados na Watches & Wonders, a par do mais complexo Reverso Tribute Minute Repeater.

É muito possível que a nova bracelete de malha milanesa — que até está dotada de um sistema de remoção rápida — passe a fazer parte das alternativas da marca para o Reverso em versões de aço e ouro amarelo ou branco. Porque se trata de uma bracelete boa demais para não ser melhor aproveitada. Ou então é boa demais para ser considerada exclusiva e passe a ser criteriosamente utilizada em modelos muito específicos. O tempo o dirá…
Settimo: um toque neoclássico da Rolex
A Rolex tem por principal ADN a combinação dos seus relógios mais emblemáticos com braceletes metálicas quase tão famosas: President, Jubilee e Oyster. Essa combinação full metal e a míngua de relógios da marca também ajudou a fomentar o regresso em força do design integrado — e a própria Rolex lançou este ano uma linha dotada de tal arquitetura (a Land-Dweller), embora a sua coleção assente esmagadoramente em relógios redondos de construção com asas tradicionais e braceletes metálicas que são integradas para que não haja espaço entre a caixa. Há dois anos, a manufatura genebrina lançou o 1908 para criar uma variante mais elegante com correia de pele que substituísse a linha Cellini; este ano, desvelou um 1908 em ouro amarelo acompanhado de uma bracelete especificamente concebida para ele.

Essa bracelete é específica e tem mesmo um nome próprio: Settimo, por causa dos sete elos. Para além do conforto de uso e qualidade de construção, tem igualmente um perfume joalheiro devido ao metal precioso. E uma caraterística muito importante é o facto de, apesar do seu rebordo arredondado, proporcionar um espaço entre a bracelete e a caixa… algo que vários analistas não apreciaram, mas que se justifica plenamente tendo em conta duas razões: proporcionar um visual mais vintage sem que seja exageradamente nostálgico; e estabelecer uma distinção relativamente à esmagadora maioria dos relógios Rolex (que têm essa bracelete metálica ‘colada’ à caixa).

A história da Rolex mistura-se com a história do relógio de pulso, pelo que a marca da coroa sempre deu enorme importância às braceletes metálicas desde os seus primórdios — até pela sua natureza de robusto relógio de explorador com a qual forjou a sua reputação ao longo das primeiras décadas. A bracelete Settimo é composta por elos suficientemente pequenos para lhe darem um perfume de malha joalheira, mas que não se confunde com a malha milanesa; trata-se de uma bracelete extremamente confortável e que se adapta organicamente ao pulso. Para mais, a Settimo surge acompanhada do Crownclasp — o fecho de báscula da Rolex que é escondido sob a bracelete em si, mas adaptado à fineza dos seus elos peculiares. Tem também uma patente pendente relativamente à fixação nas asas, proporcionando segurança e facilitando a remoção das molas curvas que acompanham a peça da extremidade. Uma bracelete que entra para a história da Rolex.