Tempo e relógios dos Jogos Olímpicos: as medalhas de Paris

Sinal dos tempos: nunca antes se viram tantos relógios em destaque numa edição dos Jogos Olímpicos. As 33.ª Olimpíadas da era moderna, que se concluem neste fim-de-semana em Paris, têm proporcionado também uma acirrada competição entre marcas relojoeiras… mas quem ganha o ouro, a prata e o bronze?

É já neste domingo que se encerra a 33.ª edição dos Jogos Olímpicos. No total, estavam à disposição dos atletas 329 medalhas de ouro distribuídas por 32 disciplinas olímpicas. Cada medalha de ouro pesa 529 gramas e está avaliada em cerca de 900 euros, sendo que apenas 6% do total é no chamado metal precioso por excelência — o restante é prata, senão o preço unitário atingiria um valor superior a 40 mil euros.

Espetacular cenário noturnos dos Jogos Olímpicos de Paris com o Chamo de Mars e a Torre Eiffel em foco | Foto: Olympics
Espetacular cenário noturno dos Jogos Olímpicos com o Champ de Mars e a Torre Eiffel em foco | Foto: Olympics

Desde 1912 que não são atribuídas medalhas de ouro puro. Totalmente em ouro ou não, o valor de uma medalha vai muito para além do seu valor intrínseco e simbólico: os titulares olímpicos tornam-se heróis e, para além do cheque atribuído pelos respetivos governos (e que pode variar muito de país para país), qualquer campeão ou mesmo medalhado pode aproveitar a fama decorrente mediante acordos publicitários e benefícios paralelos até ao resto das suas vidas. Sendo que muitos atletas de elite têm já contratos com marcas diversas, incluindo companhias relojoeiras.

Os sensores nos blocos de natação tornaram-se fundamentais para a cronometragem da modalidade | Foto: Omega
Os sensores nos blocos de natação tornaram-se fundamentais para a cronometragem da modalidade | Foto: cortesia Omega

E nunca antes se viram tantos relógios no pulso de atletas olímpicos como em Paris. É um sinal dos tempos — a associação do desporto às marcas relojoeiras sempre foi evidente e natural, começando precisamente pela necessidade de existir uma cronometragem oficial que desde o advento das olimpíadas dos tempos modernos foi naturalmente assumida por companhias especializadas. Mas essa ligação está mais forte do que nunca, com dezenas de marcas a acotovelarem-se para ascender ao Olimpo no pulso dos mais destacados atletas. E para isso contribuiu uma decisiva abertura regulamentar no âmbito do atletismo, a disciplina principal dos Jogos Olímpicos.

No salto em altura: Richard Mille e Omega em confraternização entre os amigos Mutaz Essa Barshim e Gianmarco Tamberi | Foto: Olympics

Em 2016, o sprinter jamaicano Johan Blake surgiu a correr com um Richard MIlle no pulso. Na altura era proibido, porque a utilização de um relógio em corrida podia levar a que a movimentação dos braços atingisse outro competidor. Johan Blake foi proibido de utilizar o relógio sob pena de multa, mas voltou a utilizá-lo e pagou o que tinha a pagar; só perante a ameaça de exclusão da final é que foi forçado a deixar o seu relógio no saco. O certo é que esse ‘incidente’ conduziu a um debate que fez com que o Comité Olímpico Internacional abrisse o regulamento (excetuando nos desportos de equipa com contacto, precisamente por haver maior risco) e em Paris tem-se visto um autêntico festival relojoeiro nas pistas do Stade de France.

A Omega tem sido a histórica cronometrista oficial dos Jogos Olímpicos | Foto: Omega
A Omega tem sido a histórica cronometrista oficial dos Jogos Olímpicos | Foto: Omegadesportiva | Foto: cortesia Omega

O facto de o atletismo ser mesmo o desporto olímpico com maior visibilidade tem reforçado o ascendente da Omega — que é cronometrista oficial — nesta 33ª edição das Olimpíadas. O ténis é também tradicionalmente um desporto onde a relojoaria assume grande relevância. E entre o atletismo, o ténis e a natação é possível destrinçar os relógios que têm suscitado maior atenção em Paris; nesse sentido, a Richard Mille e a Rolex também acompanham a Omega no pódio. Há ainda vários ‘diplomas olímpicos’ a distribuir por diversas outras marcas de maior ou menos dimensão, de preço mais ou menos elevado — desde a De Bethune à Norqain, da Hublot à TAG Heuer, da FP Journe à Seiko… passando pela desconhecida marca turca Nacar do já icónico atirador prateado Yusuf Dikec. Sem esquecer alguns espetaculares relógios no pulso de famosos que têm marcado presença nas bancadas…

Medalha de ouro: Omega

Crónica cronometrista oficial dos Jogos Olímpicos, a Omega não podia deixar escapar a oportunidade de complementar esse estatuto com uma reforçada associação individual e nacional a muitos dos melhores atletas olímpicos — faz parte da sua estratégia de marketing e é perfeitamente compreensível. Logo na primeira semana se começaram a ver relógios Omega no pulso de vários dos melhores nadadores mundiais, incluindo o campeoníssimo francês Léon Marchand.

A extraordinária conclusão dos 100 metros, decidida no photo-finish | Foto: Olympics
A extraordinária conclusão dos 100 metros, decidida no photo-finish | Foto: Olympics

Depois veio o atletismo e a visibilidade aumentou significativamente com a utilização de relógios no pulso de várias vedetas. O norte-americano Noah Lyles ganhou no photo-finish a equilibradissima final 100 metros — talvez mesmo a prova rainha dos Jogos — com um Omega Speedmaster Apollo 8 Dark Side of the Moon Black Ceramic.

Os dois lados da lua estão representados em ambos os lados do Speedmaster Apollo 8 Dark Side of the Moon Black Ceramic de Noah Lyles | Foto: cortesia Omega

A holandesa Femke Bol utilizou um Seamaster Aqua Terra Ultra-Light 150M na sua fabulosa recuperação nos 4×400 metros e rapidamente se verificou que esse modelo ultraleve de 55 gramas se tornaria no mais medalhado relógio em Paris: foi usado pela ucraniana Yaroslava Mahuchikh a caminho da medalha de ouro no salto em altura, pela inglesa Keely Hodgkinson na vitória nos 800 metros e pelo saltador em altura Gianmarco Tamberi. Mas não só.

Omega Seamaster Aqua Terra Ultra Light | Fotp: Omega
O Seamaster Aqua Terra Ultra Light 150M e o seu movimento em titânio | Fotos: cortesia Omega

O Seamaster Aqua Terra Ultra-Light 150M é confecionado com elementos de alumínio, cerâmica e dois tipos de titânio — incluindo o chamado Gamma Titanium, uma liga de titânio e alumínio utilizada pela primeira vez pela Omega que é excecionalmente leve e resistente. Inclui uma coroa telescópica que se retrai e um movimento mecânico de corda manual com 72 horas de autonomia que é feito precisamente em titânio e titânio ceramizado, tendo um certificado de precisão cronométrica METAS.

O Seamaster Aqua Terra Ultra Light de tributo a Armand Duplantis | Fotp: Omega
O Seamaster Aqua Terra Ultra Light de tributo a Armand Duplantis | Foto: cortesia Omega

Uma versão especial em edição limitada com as cores suecas e bracelete com fecho de velcro foi lançada pela Omega ao mesmo tempo que Armand ‘Mondo’ Duplantis a usava no pulso voando para a medalha de ouro e mais um recorde do mundo no salto em altura (6m25). Já a sprinter americana Gabby Thomas usou um pequeno Omega Constellation de 25mm em ouro amarelo com diamantes na luneta. Muitos outros atletas exibiram diversos modelos Omega no pódio, como o mexicano Osmar Olivera e o seu Seamaster Planet Ocean 600M.

Medalha de prata: Richard Mille

A Richard Mille foi a marca que, a partir da sua associação a Rafael Nadal em 2010, mais caminhos desbravou no capítulo da relojoaria desportiva de alta-performance e da utilização no pulso de atletas de destaque. Também foi a marca que contribuiu para a abertura do atletismo ao uso de relógios a partir dos Jogos Olímpicos de Tóquio, após a polémica com Yohan Blake em 2016. E que, pelo estatuto adquirido e preços muito elevados, assume sempre protagonismo em qualquer arena desportiva.

Richard Mille no pulso de Shelly-Ann Fraser-Price | Foto: cortesia Richard Mille

Na prova de ténis, destacou-se no pulso do Rafael Nadal — o campeoníssimo espanhol, no ocaso da sua extraordinária carreira, chegou à segunda ronda de singulares e aos quartos-de-final de pares ao lado de Carlos Alcaraz. Saiu sem medalhas (ele que ganhou anteriormente ouro em singulares e pares), mas essa lacuna foi colmatada depois no atletismo pela sprinter jamaicana Shelly-Ann Fraser-Price, que exibiu um RM 07-04 de 36 gramas (o primeiro relógio feminino desportivo da marca) mas que teve de desistir de lutar por um terceiro título olímpico devido a lesão; por Miles Chamley-Watson na esgrima, com o seu RM 65-01 Split-Seconds Chronograph, e no golfe por Nelly Korda. E convém não esquecer o co-campeão olímpico do salto em altura Mutaz Essa Barshim, com o ‘seu’ RM 67-02. E o lendário basquetebolista LeBron James foi visto com um RM 11-03 Flyback Chronograph ‘Jean Todt’ em edição limitada.

Medalha de bronze: Rolex

A testimonial Qinwen Zheng deu à Rolex a medalha de ouro em singulares senhoras | Foto: Olympics
A testimonial Qinwen Zheng deu à Rolex a medalha de ouro em singulares senhoras | Foto: Olympics

A Rolex tem uma política de patrocínios muito definida e que não sai das cinco modalidades tradicionais a que se costuma associar. Com os desportos motorizados de fora do cardápio olímpico, restavam o ténis, a vela e as competições equestres. E no ténis houve várias medalhas para a marca da coroa: em singulares senhoras, a chinesa Qinwen Zheng chegou ao ouro e recebeu a medalha com um Lady-Just Everose Gold & Steel de 28mm com luneta em diamantes, sendo que a atual número um mundial Iga Swiatek arrecadou o bronze também com um Lady-Just.

Carlos Alcaraz e Lorenzo Musetti deram à Rolex dois lugares no pódio de singulares masculinos | Foto: Olympics
Carlos Alcaraz e Lorenzo Musetti colocaram a Rolex em dois lugares no pódio de singulares masculinos | Foto: Olympics

Em singulares homens, Carlos Alcaraz arrebatou a prata (com um Day-date 40 em ouro amarelo e índices em diamante baguette) e Lorenzo Musetti (com um Daytona de mostrador panda) o bronze; em pares homens, Taylor Fritz ganhou a medalha de bronze (usou um Daytona de mostrador preto no pódio).

Diploma Olímpico: Hublot

Já sem o retirado Usain Bolt, a Hublot granjeou destaque nas Olimpíadas de Paris graças ao extraordinário triunfo de Novak Djokovic. O sérvio, embaixador da marca de Bienne desde 2021, já tinha ganho todos os títulos tradicionais que havia para ganhar no circuito tenistico profissional e é detentor da esmagadora maioria dos recordes afetos à modalidade… mas faltava-lhe o ouro olímpico, depois de ter ganho o bronze em Pequim há 16 anos e de ter perdido mais duas vezes nas meias-finais e na atribuição do bronze.

Matt Ebden, o maior aficionado de relojoaria entre os tenistas e a medalha de ouro em pares masculinos com o seu Norqain Wild One | Fotos: ITF e Matt Ebden
O pódio masculino no ténis com o Hublot Big Bang Meca-19 Ceramic Blue de Novak Djokovic em destaque | Fotos: ITF

Em Paris, e no mesmo recinto onde se joga Roland-Garros, Novak Djokovic chegou finalmente ao ouro com a idade de 37 anos e dois meses após ter sido operado ao joelho. Uma prestação titânica, coroada com uma exibição perfeita na equilibrada final diante do jovem prodígio espanhol Carlos Alcaraz. Subiu ao degrau mais alto do pódio com um Big Bang Meca-10 Ceramic Blue 45MM.

Diploma Olímpico: Norqain

É sempre interessante ver uma marca quase de nicho ascender ao degrau mais elevado do pódio. Foi o que aconteceu com a jovem companhia Norqain, fundada por executivos que saíram da Breitling e apoiada por Jean-Claude Biver.

Matt Ebden, o maior aficionado de relojoaria entre os tenistas e a medalha de ouro em pares masculinos com o seu Norqain Wild One | Fotos: ITF e Matt Ebden
Matt Ebden: o maior aficionado de relojoaria entre os tenistas e a medalha de ouro em pares masculinos com o seu Norqain Wild One Skeleton | Fotos: ITF e Matt Ebden

A Norqain tem tido uma ascensão rápida no contexto relojoeiro e, depois de se associar ao credenciado tenista helvético Stan Wawrinka, também se juntou a Matt Ebden — o especialista de pares australiano que passa por ser o maior estudioso de relojoaria do circuito profissional masculino. Após ligações à Maurice de Mauriac e à Bremont, Matt Ebden ganhou a variante de pares masculinos nos Jogos Olímpicos ao lado do compatriota john Peers — e exibiu um Wild One Skeleton 42mm Turquoise ultra-leve em carbono que até já não está à venda, visto tratar-se de uma edição limitada esgotada; as cores deste ano são o laranja e o verde.

Diploma Olímpico: De Bethune

Desde 2023 que a De Bethune se tem associado ao ténis e tem-se destacado no pulso dos norte-americanos Tommy Paul e Jessica Pegula. Em Paris conseguiu atingir a medalha de bronze por via de Tommy Paul nos pares masculinos; atuou nos courts de terra batida de Roland-Garros com um DB28xs Starry Seas Titanium de 38,8mm de diâmetro. As asas flutuantes e o sistema triplo de absorção de choques fazem dele um relógio especialmente adotado para a prática desportiva, embora não seja essa a sua primeira vocação.

Relógios dos Jogos Olímpicos: Tommy Paul chegou à medalha de bronze em pares mistos jogando com um De Bethune DB28 XS Starry Seas com correia vermelha | Foto: ITF
Tommy Paul chegou à medalha de bronze em pares mistos jogando com um De Bethune DB28xs Starry Seas com correia vermelha | Fotos: ITF e De Bethune

A bracelete têxtil hi-tech em vermelho escolhida especialmente para ser usada no torneio olímpico proporciona o desejado efeito tricolor da bandeira americana.

Diploma Olímpico: F.P.Journe

A croata Donna Vekic é amiga da F.P. Journe há já vários anos e tem jogado sempre com o seu Élégante Titanium de 40mm com diamantes desde 2018, alternando frequentemente a cor da sua bracelete em cauchu. Após ter sido semifinalista em Wimbledon, mostrou o seu excelente momento de forma ao chegar à final parisiense — e saiu com a medalha de prata.

Relógios dos Jogos Olímpicos: a croata Donna Vekic e o seu companheiro de pulso habitual: o FP Journe Élégante | Foto: ITF
A croata Donna Vekic e o seu companheiro de pulso habitual: o FP Journe Élégante | Foto: ITF

Diploma Olímpico: Chronoswiss

Uma das aparições mais inesperadas no ponto mais alto do pódio foi a da Chronoswiss, graças ao seu recente vínculo com Tomas Machac — um tenista checo que não é propriamente dos mais conhecidos do circuito mas que em Paris ganhou o título olímpico em pares mistos… ao lado da namorada Katerina Siniakova.

Relógios dos Jogos Olímpicos: Tomas Machac com um Chronoswiss Regulateur ReSec Helium e a medalha de ouro em pares mistos | Foto: ITF
Tomas Machac com um Chronoswiss ReSec Helium Manufacture e a medalha de ouro em pares mistos | Fotos: ITF e Chronoswiss

No pulso de Tomas Machac sobressaiu um ReSec Helium Manufacture de 42mm com mostrador laranja e bracelete em cauchu a condizer.

E o resto…

Há muitas outras menções honrosas. A norte-americana Sydney McLaughlin-Levrone bateu o recorde do mundo dos 400 metros barreiras com um Link da TAG Heuer no pulso. O canoísta Saul Craviotto Rivera, o mais medalhado atleta espanhol, exibiu no pódio um Seiko Prospex Speedmaster de mostrador panda. O cavaleiro francês Simon Delestre chegou ao bronze com um Hermès H08 em ouro. Mas não se pode esquecer a marca turca de preço acessível Nacar, fundada na década de 40; devido ao facto de o atirador Yusuf Dikec ter chegado à prata com uma mão no bolso e os dois olhos abertos, tornou-se no principal meme associado aos Jogos Olímpicos e o relógio que utilizou no pulso foi obrigatoriamente escrutinado.

Relógios dos Jogos Olímpicos: Um relógio inédito no pulso de Daniel Craig, o ator de James Bond: o protótipo de uma nova versão regular do modelo Seamaster 007?
Um relógio inédito no pulso de Daniel Craig, o ator de James Bond: o protótipo de uma nova versão regular do Omega Seamaster 007? | Foto: Olympics

E é obrigatório aludir ao inédito Omega Seamaster exibido por Daniel Craig na sua visita aos Jogos Olímpicos, parecendo ser o protótipo de uma versão Seamaster sem data inspirada na recente edição limitada Seamaster dedicada ao agente secreto 007.

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