A Vacheron Constantin trouxe até Lisboa parte da história dos relógios de senhora com uma exposição de peças antigas da sua coleção privada. Os exemplares selecionados ilustram a afinidade entre a alta-relojoaria e a alta-costura, destacando a influência feminina na criação relojoeira. A organização contou com a parceria do Museu Nacional do Traje. Para descobrir até dia 2 de janeiro de 2024.
A síntese da exposição que encontramos à entrada do VIP Lounge da boutique Vacheron Constantin, em Lisboa, não engana: «Com esta exposição, queremos prestar homenagem à arte da alta-costura e à relação da nossa Maison com as Mulheres. Ao descobrir esta amostra da nossa extensa coleção, compreenderá como as mulheres não eram apenas clientes, mas eram também envolvidas no processo de criação dos relógios de senhora Vacheron Constantin. Quer se trate de objetos funcionais ou de cerimónia, de relógios de joalharia ou de relógios desportivos, as criações femininas da Vacheron Constantin representam a evolução das sensibilidades artísticas, das tendências da moda, bem como de outros códigos e costumes sociais».
A casa suíça trouxe assim até Portugal uma seleção de criações relojoeiras, num tributo à tradição da alta-costura que tem precisamente como base a afinidade entre a alta-relojoaria e a alta-costura. Com uma nota: estas peças acabam por prestar também homenagem às mulheres pelo seu papel no desenvolvimento criativo da marca. A organização da exposição contou com a parceria do Museu Nacional do Traje através da cedência de peças de vestuário e outros acessórios como apoio à contextualização da época em que os relógios foram criados.
Alta-relojoaria e alta-costura
Não é a primeira vez que a Vacheron Constantin associa alta-relojoaria e alta-costura. O exemplo mais recente é Yiqing Yin que, em 2020, foi anunciada como rosto da campanha «One of not many» da então nova coleção Égérie. Na altura, a designer de alta-costura apresentou-nos diversos pontos de ligação entre alta-relojoaria e alta-costura: «A semelhança mais gritante é a intransigência e o tempo que é preciso aceitar para alcançar peças de extraordinária beleza, pensadas pela sua poesia e durabilidade. Os laços residem, primeiro do que tudo, no imperativo do trabalho imaculado e na precisão do gesto, e depois também nas disciplinas artísticas. Em termos de alta-relojoaria, os requisitos são infinitamente mais detalhados e precisos. Para mim, há algo de mágico nesta busca da perfeição.»
Podemos ver assim como o rigor e a disciplina tão associados à alta-costura, e que se tornaram cruciais para o desenvolvimento de um universo único, ancorado no estilo, luxo e superior qualidade, são valores com os quais a Vacheron Constantin se identifica. A marca refere que partilha com a alta-costura «a preocupação pela qualidade irrepreensível dedicada à criatividade e uma abordagem ao trabalho artesanal específico dos ofícios artísticos», por outro lado, «não se pode evocar essa proximidade sem referir o universo feminino, campo privilegiado de expressão da alta-costura e a personificação da sensibilidade artística da Vacheron Constantin há mais de dois séculos.»
Este vínculo é o mote para a exposição numa lógica que celebra a história dos relógios femininos destacando mais de dois séculos de dedicação às expectativas femininas, refletindo sensibilidades estéticas e tendências.
Alta-relojoaria feminina
Apesar da tendência para associar a relojoaria ao universo masculino, mais especificamente a alta-relojoaria ou relojoaria mais técnica, é já bem longa a relação histórica das mulheres com os relógios, em especial tendo em conta o seu uso enquanto adornos. Ainda assim, é impossível deixar de lado o famoso relógio de bolso que Breguet teria criado para Marie-Antoinette, a pedido de um admirador. De facto, tornou-se lendário o gosto da Rainha por relógios, incluindo relógios mais complicados.
Da mesma forma, é impossível não esquecer que a criação relojoeira para senhoras não deixava de lado a vertente prática deste objeto. Do acervo da coleção Heritage da Vacheron Constantin, por exemplo, fazem parte relógios com calendário, cujos exemplares mais antigos remontam a 1812. Mas este património é bem mais asto, compreendendo mais de 1.300 peças que retratam o impulso criativo no campo dos relógios femininos. Em destaque, uma primeira referência de 1815 que é um relógio de bolso em ouro amarelo com caixa gravada com motivo floral realçado com granadas.
Depois, há que referir que, independentemente da sua funcionalidade ou perfil, os relógios femininos acabaram por refletir também tendências artísticas, adaptando-se à evolução do vestuário, às mudanças do estatuto social das mulheres, bem como aos seus desejos. Todas estas relações são o ponto de partida para uma viagem no tempo que, como dissemos, contou com a parceria do Museu Nacional do Traje.
A exposição
A exposição contempla diversos relógios, num horizonte temporal que vai de 1902 a 1930, expostos lado a lado com acessórios como óculos, malas, bandoletes, escovas e vestidos. As peças estão organizadas numa lógica associada a diversos momentos ou eventos que eventualmente preenchiam as vidas femininas das épocas retratadas: a hora do chá, eventos de gala, o almoço…
Por outro lado, contamos também com painéis informativos de enquadramento devidamente ilustrados com fotografias de época, pinturas, campanhas publicitárias e imagens de outras peças relojoeiras que fazem parte do património da marca suíça. Esta exposição traduz assim, em certa medida, a evolução da relojoaria feminina , mas, acima de tudo, a evolução contextualizada da relojoaria feminina assinada Vacheron Constantin. No fundo, a criação relojoeira, como resposta aos vários tempos.
Falamos de 12 relógios antigos com muita história para contar que não são apresentados de forma desgarrada. E se tivermos em conta que é ao seu próprio património que a Vacheron Constantin vai continuamente procurar inspiração, então estas peças acabam por ter uma importância maior na compreensão do momento atual da marca – seja pelas formas das caixas, pelos elementos decorativos ou pelos numerais e indexes. Vale a pena demorar o tempo que for preciso a percorrer com atenção os diferentes quadros expostos. A exposição de relógios de senhora da Vacheron Constantin está patente até ao dia 2 de janeiro de 2024 na boutique Vacheron, em Lisboa. Uma boa forma de terminar ou de iniciar o ano.