Rolex Mentor & Protégé: Vasco Mendonça celebra com Kaija Saariaho o seu primeiro álbum de orquestra

Foi no passado dia 28 de novembro que Kaija Saariaho e Vasco Mendonça marcaram presença na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para a celebração do lançamento de Step Right Up, o primeiro álbum orquestral do jovem português. Ambos os compositores integraram o programa Rolex Mentor & Protégé, enquanto mentor e discípulo, respetivamente.

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Vasco Mendonça foi discípulo de Kaija Saariaho no programa Rolex Mentor & Protégé. © Rolex/Ambroise Tézenas

Já lá vão uns anos desde que Kaija Saariaho e Vasco Mendonça estiveram em Portugal no âmbito do programa Rolex Mentor & Protégé, uma iniciativa filantrópica que recupera a tradicional cadeia de transmissão de saberes com base na ligação mestre/aprendiz e que tem como objetivo garantir a preservação do património artístico e estimular a criatividade, através do diálogo entre artistas de diversas áreas e de diferentes gerações. Agora, os dois compositores voltaram a apresentar-se juntos em público para a celebração de Step Right Up, o primeiro álbum orquestral de Vasco Mendonça que foi lançado em 2018 e que acabou por ter uma estreita relação com o processo de mentoria que traduz o programa da Rolex.

Step Right Up
Step Right Up: o primeiro álbum de orquestra do compositor português Vasco Mendonça.

O evento decorreu no passado dia 28 de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e contou com uma conversa com os dois compositores moderada por Risto Nieminen, diretor da Gulbenkian Música, e com interpretações de Leino Songs, de Kaija Saariaho, e de Three Settings of Larkin, de Vasco Mendonça, pela soprano Raquel Camarinha e pelo pianista Yoan Héreau. Rebecca Irvin, diretora da Rolex Arts Initiative, também marcou presença e apresentou as especificidades que estão por trás do programa Rolex Mentor & Protégé.

Rolex Mentor & Protégé Arts Initiative

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A dupla musical de 2014/ 2015 do programa Rolex Mentor & Protégé: os compositores Kaija Saariaho (mentora) e Vasco Mendonça (discípulo).  © Rolex/Ambroise Tézenas

Criado em 2002, o programa Rolex Mentor & Protégé procura jovens artistas de todo o mundo com talento em diversas áreas a alcançarem o seu máximo potencial, oferecendo-lhes a oportunidade de se unirem a grandes mestres durante um ano de mentoria e colaboração criativa. De dois em dois anos, um novo quadro de mentores é apresentado, e cabe a cada mentor estabelecer um perfil de aprendiz com o qual gostaria de trabalhar. Sendo assim, um conjunto de peritos das diferentes áreas abordadas pelo programa identifica potenciais jovens cujo perfil vai ao encontro das especificações determinadas pelos mentores. Segue-se o momento em que a própria Rolex convida os artistas selecionados a submeterem a sua candidatura para que, das várias candidaturas, se definam três finalistas de cada área. A entrevista com o futuro mentor é o momento decisivo. É nessa altura que os artistas, que terão a oportunidade de serem acompanhados por nomes distinguidos com prémios como os Óscares, Nobel, Pritzker, Cervantes entre outros, são escolhidos.

Desde o ano de lançamento, foram diversos os nomes que participaram no programa — do cinema, à dança, passando pela literatura, pelo teatro, pela música, pela arquitetura e pelas artes visuais. Martin Scorcese, Trisha Brown, Mario Vargas Llosa, Sir Peter Halle, Álvaro Siza Vieira, Gilberto Gil, Peter Sellars, David Hockney ou Mia Couto foram algumas dessas personalidades. Enquanto mentores, cada um dos mentores acompanhou jovens em ascensão nas respetivas áreas, de modo a legarem um saber, transmitirem os seus conhecimentos e propiciarem a partilha de experiências criativas. O compositor português Vasco Mendonça foi o primeiro português a conquistar um lugar como discípulo neste projeto e participou na edição de 2014/ 2015, enquanto primeira escolha da compositora finlandesa Kaija Saariaho, sua mentora.

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Kaija Saariaho é reconhecida como uma das principais compositoras contemporâneas e o seu trabalho distingue-se por criações que, muitas vezes, fundem instrumentos tradicionais e eletrónica para música de câmara, peças orquestrais e óperas. © Rolex/Ambroise Tézenas

Para a edição de 2014/2015 do Rolex Mentors & Protégés estavam nomeados 154 jovens. À espera deles estavam, para além de Kaija Saariaho, o arquiteto suíço Peter Zumthor, o coreógrafo russo Alexei Ratmansky, o realizador mexicano Alejandro González Iñárritu, o escritor e poeta canadiano Michael Ondaatje, a designer de iluminação Jennifer Tipton e o artista islandês Olafur Eliasson. Os sete selecionados tinham origens tão distintas como Bulgária, Israel, México, República Democrática do Congo, Estados Unidos, Bulgária e Portugal, claro. No final dos doze meses de tutoria, para além de apoio inicial e de uma ajuda financeira no que diz respeito a viagens e eventuais despesas, cada discípulo recebeu ainda financiamento para a publicação de uma nova criação, de um espetáculo ou de um evento público.

Muito mais do que dois anos

Durante o tempo de mentoria, Vasco esteve presente nas atuações de Kaija um pouco por todo o mundo e ambos estabeleceram um relação que passou por conversas de ‘enriquecimento mútuo’, nas palavras da compositora, e por trocas de ideias tanto no que diz respeito às atuações, como à vertente comercial associada a uma carreira musical que acabaram por ser cruciais para o  álbum de estreia de Vasco Mendonça. Pelo meio ficou ainda registada «uma brilhante atuação no arranque do Festival Internacional de Arte Lírica de Aix-en-Provence» e ainda um concerto para piano na Fundação Calouste Gulbenkian, em junho de 2018, como estreia mundial de Step Right Up, seguido da sua estreia americana, em São Paulo, uns tempos depois.

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O compositor Vasco Mendonça foi o primeiro português a conquistar um lugar de discípulo no programa Rolex Mentor & Protégé. © Rolex/Ambroise Tézenas 

Na altura, ao Público online, Vasco Mendonça falou no que estava por trás de Step right up: «O género concertante é um enigma – são duas entidades que estão ou não estão. Para mim a orquestra e o piano são mecanismos de precisão, e o piano é em si mesmo uma máquina de carácter orquestral, pelo registo, o âmbito, o volume sonoro, a agilidade dinâmica, tudo. Por outro lado, a orquestra é um caleidoscópio e abre um mar de possibilidades. Um é uma extensão do outro, isso alimentou dramaticamente a forma da obra: expansão, precisão e sincronismo.» E acrescentou: «Há sempre pequenos ajustes, para clarificar as coisas. É preciso moldar a música como um oleiro, o material musical. (…) As dificuldades rítmicas e dinâmicas têm que ver com a precisão — se conseguimos encaixar tudo, vemos um relógio por dentro. Creio que há poesia nisso.»

Agora, já no rescaldo de todo o trabalho desenvolvido com Kaija Saariaho no âmbito do programa Rolex Mentor & Protégé, Vasco Mendonça refere: «Penso que a iniciativa da Rolex foi um passo muito importante na minha carreira. Em primeiro lugar porque tive a oportunidade de estar com a Kaija por muito tempo e de estabelecer uma relação com ela, quer artisticamente quer em termos práticos, o que foi extremamente benéfico, mas também porque há alguma coisa no programa que vai para além destes dois anos. É uma comunidade tão diversas e rica; parece mais uma grande família de artistas. No mundo das artes, isto é realmente único.»

Além de Step Right Up, o álbum de estreia de Vasco Mendonça inclui três trabalhos anteriores do compositor e está disponível através da discográfica NAXOS. Tanto o programa Rolex Mentor & Protégé, como a Gulbenkian apoiaram a gravação do CD.

Visite o site oficial do programa Rolex Mentor & Protégé para mais informações.

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