Inesperadamente, mas justificadamente, a Doxa ousou mexer no seu ex-libris para o dotar de dimensões mais contidas — com as mesmas valências do mítico relógio de mergulho original, mas mais adaptadas aos ‘mergulhadores de secretária’: nascido do Sub 300T, o novo Sub 200T está disponível num diâmetro de 39mm e mais cores à escolha.
A Doxa é uma marca muito peculiar e com uma legião de fiéis seguidores que inclui alguns fundamentalistas — os tais guardiões da tradição que rejeitam mudanças significativas que possam ir contra o espírito original. Não é caso único: sucede em muitas outras companhias relojoeiras que são acompanhadas por aficionados tão fervorosos que elevam a sua paixão ao patamar de culto religioso. É por isso que qualquer novidade tem de ser criteriosamente estudada e respeitante do passado histórico, porque tudo é escrutinado ao mais pequeno detalhe. E Jan Edocs é bem conhecedor disso.

Mesmo assim, o CEO da Doxa arriscou pegar no ícone da marca e o resultado final não pode ser considerado pecado nem conduzi-lo à excomunhão. Pelo contrário: se Jan Edocs já merecia beatificação pelo excelente trabalho desenvolvido na última meia dúzia de anos, pode mesmo ser santificado pela dimensão suplementar que deu ao emblemático Sub 300T com a criação do Sub 200T, disponível em oito tonalidades de mostrador numa caixa de 39mm por 41,5mm e somente 10,5mm de espessura. Com uma nuance suplementar: a par do acabamento mate normal, seis dessas cores estão também disponíveis com mostradores galvanizados e entre as oito há a registar a estreia de um tom inédito. Confusos? Vamos à explicação…
Mergulhar no mergulho
A Doxa é uma marca de culto intimamente associada ao mergulho, mas nem sempre esteve dedicada exclusivamente ao universo aquático e à tipologia diver que nas últimas décadas ultrapassou a funcionalidade de tool watch para se tornar num relógio desportivo casual-chic de uso diário. Fundada em 1889 e com um trajeto que começou pelos exemplares de bolso até passar aos modelos de pulso com precisão cronométrica, só se especializou em instrumentos de mergulho na década de 60 e foi a partir daí que abraçou completamente essa sua nova vocação subaquática.

A renovação do portefólio baseado em reinterpretações de exemplares históricos da Doxa tem sido cuidadosa e ganhou maior ímpeto sob a batuta do experiente Jan Edocs, a partir de 2018. O catálogo apresenta atualmente seis linhas com as respetivas ramificações: Sub 200, Sub 200T, Sub 200 C-Graph, Sub 300, Sub 300T, Sub 600T e Sub 1500T, às quais se juntam algumas edições especiais e tendo sido recentemente extinto o Sub 4000T. Todas as diferentes linhas da coleção, como a nomenclatura Sub indica, são destinadas ao mergulho e com diferentes índices de estanquidade. A mais recente gama a ser lançada tinha sido a Sub 600T, estreada em 2020 com base num original dos anos 80; este ano, a nova linha Sub 200T quase se afigura como um facelift estrutural da Sub 300T.
Doxa Sub 200T

Primeiramente, é forçoso estabelecer uma clara distinção entre as três referências com a nomenclatura 200: o Sub 200 tem uma caixa redonda com 42mm de diâmetro e o Sub 200 C-Graph é a respetiva variante cronográfica, com os mesmos códigos estéticos aplicados em caixas de 42 e 45 mm; já o Sub 200T apresenta a arquitetura cushion caraterística da Doxa, estreada em 1967 com um claro perfume que então antecipava as típicas geometrias arredondadas dos anos 70. A reprodução dos 42,5mm do Sub 300T num relógio quase idêntico com 39mm acaba por ser natural, mesmo tratando-se de um modelo bem-sucedido e de preço muito convidativo. Porque o Sub 200T tem um preço ainda mais acessível e promete um superior êxito comercial, ainda que o índice de estanquidade seja um pouco inferior e não tenha a certificação COSC do irmão mais velho.

Para melhor explicar a existente coleção da Doxa e respetiva nomenclatura, o Sub 300 e Sub 300T (um menos espesso e com vidro de safira sobressaído a imitar o plexiglass do original, o outro com vidro plano) têm uma estanquidade garantida até aos 300 e aos 1200 metros de profundidade, respetivamente. O Sub 1500T apresenta o mesmo visual, mas numa caixa de 45mm estanque a 1500 metros. O agora extinto Sub 4000T seguia a mesma estética, embora com um indicador de reserva de corda no mostrador e uma ainda mais poderosa estrutura de 47,5mm que incluía válvula de hélio e assegurava estanquidade até aos 4.000 metros. De look distinto, o Sub 600T estanque a 600 metros é decalcado de um modelo original dos anos 80 com coroa assimétrica e tanto o Sub 200 como o Sub 200 C-Graph apresentam uma caixa redonda mais convencional.

Ou seja, o novo Sub 200T é um compacto das valências da Doxa e está disponível numa variedade de cores nunca antes vista no catálogo da marca. Como nas restantes linhas da coleção, surge declinado em sete versões de mostrador com nomes associados às suas cores: Professional (laranja), Sharkhunter (preta), Searambler (prata), Caribbean (azul marinho), Divingstar (amarela), Aquamarine (azul turquesa) e Whitepearl (branca), às quais se junta um novo tom designado Sea Emerald (verde) e ainda uma tonalidade Seafoam Green (verde lima) exclusiva da cadeia de retalho britânica Watches of Switzerland. Mas depois temos as seis cores tradicionais — Professional (laranja), Sharkhunter (preta), Searambler (prata), Caribbean (azul marinho), Divingstar (amarela), Aquamarine (azul turquesa) — igualmente aplicadas em mostradores de acabamento raiado. No total, são 14 mostradores diferentes e mais o tal que só está disponível na Grã-Bretanha.

A idiossincrática caixa em aço 316L surge encimada pela caraterística luneta unidirecional patenteada com duas escalas (minutos e tabela em pés de ascensão à superfície sem paragens de descompressão) e serrilha lateral; todas as indicações principais diretamente associadas ao mergulho são luminescentes, desde o ponto de referência na luneta aos indexes — em especial os distintivos marcadores às 6, 9 e 12 horas. O ‘peixe Doxa’ surge a adornar a coroa de rosca e o fundo apresenta a gravação de um veleiro.

A variedade de opções aumenta significativamente com a existente oferta de braceletes: cada versão pode ser usada com duas alternativas (aço de configuração beads of rice ou borracha FKM, ambas dotadas de fecho ajustável), sendo que as braceletes em cauchu podem ser da mesma tonalidade do mostrador ou de cor contrastante: há sete cores à escolha para combinações de melhor ou menor gosto… ninguém está proibido de usar uma bracelete de borracha azul com mostrador verde Sea Emerald, embora o impacto cromático dessa opção não pareça ideal.
As nossas impressões
O Sub 200T afigura-se um modelo estratégico para a Doxa no plano comercial e social. Por um lado, as suas dimensões mais contidas satisfazem não só aquela falange de aficionados que é obcecada por diâmetros mais pequenos (mesmo em exemplares de mergulho ou tool watches) como também se adequam melhor a pulsos femininos. É um relógio unissexo. A construção de asas curtas já fazia com que os irmãos mais velhos Sub 300 ou Sub 300T vestissem mais pequeno do que o diâmetro de 42,5mm possa deixar entender, o que significa que o Sub 200T de 39mm também parece mais pequeno do que é no pulso.

Por outro lado, um preço abaixo dos 1.600 euros (1.590 com bracelete de aço, 1.550 com bracelete de cauchu) é extremamente competitivo e situa-se abaixo dos valores pedidos pelos Sub 300 (2.750 a 2.790 euros) e Sub 300T (1.950 a 1.990 euros), mesmo que o calibre automático de base Sellita SW200-1 não seja dotado da mesma certificação cronométrica de precisão emitida pelo COSC nos anteriormente referidos modelos. E depois há o argumento da maior variedade, com a alargada palete cromática à vontade do freguês ou da freguesa.

Já se sabe que o laranja Professional é a mais emblemática cor da Doxa, tendo estado presente no primeiro relógio de mergulho recreativo com parâmetros profissionais (desenvolvido em 1967 com o lendário oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau), mas a declinação Aquamarine azul turquesa apresenta uma tonalidade de mostrador muito procurada a partir de 2021 devido a certos modelos da Patek Philippe e da Rolex… mas que já figurava em todas as linhas da Doxa desde 2012.

E é preciso sublinhar que a mesma cor no tradicional mostrador mate Iconic pode surgir de maneira muito diferente nos novos mostradores Sunray em cada uma das seis tonalidades declinadas nesses dois tipos de acabamento. Já o verde Sea Emerald só está mesmo disponível na modalidade Sunray e apresenta-se especialmente atraente, para mais com o contraste dos indexes e ponteiros dourados a marcar a diferença relativamente a todos os outros modelos.

Se Doxa é o termo grego para glória, a secular marca relojoeira do mesmo nome recuperou ao longo dos últimos tempos o seu esplendor com sólidos produtos de excelente relação preço/qualidade. Vai ser muito interessante acompanhar o desenvolvimento da sua coleção nos próximos anos, enquanto se espera que ganhe um distribuidor prestigiado em Portugal.