Fórmula E: Fórmulas mágicas

EdT52 — A TAG Heuer foi a primeira marca relojoeira fortemente envolvida no universo da Fórmula 1. É também a primeira a associar-se ao advento da Fórmula E. De uma fórmula a outra, a história ajudou a cimentar a marca suíça como uma das principais referências no mundo do desporto motorizado e na busca de soluções alternativas na medição do tempo.

Texto originalmente publicado na versão impressa da Espiral do Tempo 52.

Há cinco anos, concluía-se em Paris a Odisseia dos Pioneiros, uma espécie de epopeia dos tempos modernos que levou um roadster elétrico Tesla a dar a volta ao mundo com passagem por 16 metrópoles em associação com a TAG Heuer. Para celebrar a efeméride, estavam à chegada várias personalidades — com dois protagonistas em destaque: Elon Musk, o empresário de origem sul-africana que fundou a Tesla para revolucionar o mercado com viaturas elétricas de gama alta, e Jack Heuer, o presidente honorário da TAG Heuer e que foi o responsável pela íntima ligação da marca à disciplina máxima das corridas de automóveis.

TAG Heuer Formula E
Tesla em frente à Grande Muralha da China © TAG Heuer

Foi já há mais de meio século que Jack Heuer lançou o emblemático cronógrafo Carrera; à medida que essa década de 60 ia avançando, também a marca fundada pelo seu bisavô mergulhava mais profundamente no universo do desporto motorizado — primeiro, como cronometrista oficial da Ferrari; depois, assumindo mesmo a direção técnica da cronometragem do Campeonato do Mundo de Fórmula 1. Ao mesmo tempo, e sob a batuta do embaixador Jo Siffert, tornava-se na marca de eleição entre os melhores pilotos do mundo. Da Carrera Panamericana a Le Mans e sobretudo na era épica da Fórmula 1 entre o final dos anos 60 e o início da década de 80, Jack Heuer cheirou muita gasolina e borracha queimada em circuitos nos mais diversos continentes. E também submeteu os tímpanos a muitos roncares de motor.

TAG Heuer Formula E
© TAG Heuer

Qualquer competição automóvel configura uma exaltação de sentidos, desde a visão ao olfato — passando pela audição. Faz parte do fascínio. Mas, numa altura em que cada vez mais se procuram fontes alternativas de energia e a sensibilidade ecológica se transformou em necessidade, como encarar um futuro de corridas mais… assético? «Grande parte do ambiente e da excitação proporcionados por uma corrida têm a ver com o ruído das acelerações; a partida de uma corrida de Fórmula 1 vive do ruído e, provavelmente, no futuro, as coisas até poderão modificar-se — mas já cá não estarei para ver», referiu Jack Heuer à Espiral do Tempo nessa reunião parisiense de 2010.


Tiquetaque

Fórmula E
Passado e presente: em primeiro plano um cronógrafo Heuer; ao fundo um carro de Fórmula E. © TAG Heuer

Jack Heuer reformou-se finalmente em março de 2014, aos 81 anos. E já não pôde ver ao vivo o arranque da Fórmula E sob o alto patrocínio da TAG Heuer, numa consequência lógica da associação da marca à motorização elétrica iniciada através da parceria com a Tesla de Elon Musk. E da própria ligação da marca à tecnologia de ponta que não mecânica, apesar do seu pedigree nesse departamento: em 1911, introduziu o primeiro cronógrafo adaptável a um painel de instrumentos para automóveis; em 1916, apresentou o primeiro cronógrafo com contagem até ao centésimo segundo (o Mikrograph, numa altura em que a precisão só atingia 1/5 de segundo!); quando o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 arrancou na década de 50, várias escuderias usavam cronógrafos manuais Heuer; e, em 1969, esteve na linha da frente para a apresentação do primeiro cronógrafo automático do mundo, desvelando um novo trio na feira de Basileia dotado da nova alternativa mecânica (Carrera, Autavia, Monaco).

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Monaco de 19s9 e Steve McQueen. © TAG Heuer

A formação académica de Jack Heuer em engenharia eletrotécnica também lhe permitiu desbravar caminho entre as novas tecnologias que iam despontando: em 1975, estreou o primeiro cronógrafo de quartzo com mostrador LCD/LED preciso até ao décimo de segundo (o Chronosplit), e, em 1977, lançou o primeiro cronógrafo de quartzo com mostrador duplo analógico/digital de precisão ao centésimo de segundo (o Chronosplit Manhattan GMT). Por outro lado, tornou exequível a medição simultânea dos tempos dos vários participantes numa corrida por uma única pessoa. E desenvolveu com a Ferrari um sistema tão avançado na pista de treinos da Scuderia em Maranello (baseado em 45 células fotoelétricas instaladas ao longo do trajeto) que imediatamente se tornou na referência absoluta da cronometragem: o Centigraph era um instrumento eletrónico que permitia a avaliação cronométrica de 20 carros num mesmo circuito e foi adotado não só pela Fórmula 1 como também em provas de resistência. Um currículo impressionante.

Fórmula E
© TAG Heuer

«O primeiro instrumento do tempo a medir mecanicamente o centésimo de segundo foi inventado pelo meu avô e potenciou uma revolução nos domínios da investigação, da ciência, da medicina e do desporto! Manteve-se pioneiro durante 60 anos, até que a eletrónica permitiu a mesma precisão de forma mais facilitada. A medição do 1/10000.º de segundo só se tornou possível graças a um sistema de documentação apoiado por filmagens que utilizámos na cronometragem das 500 Milhas de Indianápolis.»

TAG Heuer Formula E
Niky Lauda ao volante de um Ferrari do Monaco GP de 1975. © TAG Heuer

O tiquetaque dos relógios mecânicos quase foi substituído na década de 70 pelo advento de silenciosos relógios em quartzo com mostradores digitais que tão em voga estavam na primeira metade da década de 80, até que a Swatch recuperou o estilo analógico na gama baixa de quartzo com um tiquetaque de diferente sonoridade. Conseguirá a Fórmula E impor sensações sonoras e olfativas que satisfaçam um público habituado desde sempre a grandes prémios dos sentidos?


Ecologia e eletrónica verdes

TAG Heuer Formula E
© TAG Heuer

As premissas da Fórmula E assentam precisamente nos valores de uma nova geração muito mais sensível às nuances ambientais alternativas da energia, da engenharia e mesmo do entretenimento. Com o apoio fundamental da FIA (Federação Internacional Automóvel), a Fórmula E já se deu a conhecer diretamente ao público com a realização de grandes prémios nas principais artérias de algumas metrópoles relevantes — causando o impacto visual digno de bólides vanguardistas capazes de acelerar acima dos 200 km/h (a regulação baliza a aceleração dos zero aos 100 em 2,9 segundos, com velocidade máxima de 225 km/h), a emoção competitiva de sempre e até a tradicional banda sonora mantém-se, com rugidos artificialmente permitidos de 80 decibéis (um pouco mais do que um veículo normal a 120 km/h) acompanhados pelo inevitável chiar dos pneus e até algum cheiro a borracha no asfalto… mas sem a parte da gasolina queimada ou do fumo. Os bólides da Fórmula E têm um índice zero de emissões nocivas, como convém a um conceito de corrida ecológico. O certo é que o tal espetáculo visual e sonoro continuará em vigor, para satisfação de muitos.

Fórmula E
Fórmula E, em Londres.

Com o empurrão de Jean-Christophe Babin, o anterior CEO, a TAG Heuer tornou-se numa parceira fundadora da Fórmula E — e Jean-Claude Biver, o novo CEO, convenceu mesmo a edilidade de Genebra a aceitar de novo uma corrida nas ruas da cidade, após o acidente que, em 1954, vitimou mais de oitenta espetadores. Falta a concretização final com a aprovação do sempre severo governo suíço, mas entretanto já houve uma demonstração muito badalada e fotografada.

Formula E
Campeonato mundial de Fórmula E em Moscovo. © TAG Heuer

A primeira temporada do novo campeonato mundial decorreu entre setembro de 2014 e junho de 2015, passando por cidades como Roma, Los Angeles, Miami, Buenos Aires, Pequim e Londres — onde se realizou o último Grande Prémio, na zona de Battersea Park. A segunda época promete ser mais mediatizada e alargada a outras paragens. O tempo está do lado da Fórmula E.


Visão de futuro

TAG Heuer Formula E
Car-Stroll, Geneva © TAG Heuer

A importância estratégica do novo Campeonato do Mundo é enorme — e não é só para a FIA ou para a TAG Heuer. A Fórmula E tem o condão de gerar gradualmente um maior interesse global relativamente aos veículos elétricos e de promover a sustentabilidade. E é sobretudo uma antevisão do futuro da indústria automobilística nas décadas que se avizinham, uma vez que, atualmente, já há carros híbridos a dominar as míticas 24 Horas de Le Mans. Como sempre sucedeu na história do desporto motorizado, a nova disciplina serve de campo ideal para a pesquisa e para o desenvolvimento de motores elétricos que depois beneficiarão o consumidor final.

Formula 1 Chronograph Special Edition Senna
TAG Heuer Formula 1 Chronograph Special Edition Senna © TAG Heuer

Em homenagem à sua histórica ligação à disciplina máxima do desporto motorizado, a TAG Heuer criou a linha Fórmula 1 em 1984. Essa linha foi recentemente remodelada e, entre as várias edições limitadas (como a recente que celebra a parceria de três décadas com a McLaren), esperam-se também versões associadas à Fórmula E. Quem sabe se, no futuro, não haverá também uma linha inspirada pela nova fórmula verde com relógios alimentados por tradicionais movimentos mecânicos, por uma variação do calibre magnético que a marca lançou no início da década ou através de um sistema elétrico/solar. Qualquer que seja a escolha, terá obrigatoriamente de ser uma motorização ecológica que dispense pilhas! ET_simb

TAG Heuer Formula E
TAG Heuer Formula 1 Chronograph McLaren Limited Edition © TAG Heuer

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